HADDAD NÃO ACALMA O MERCADO E DÓLAR BATE NOVO RECORDE
O detalhamento do pacote fiscal e das mudanças no Imposto de Renda não convenceram o mercado financeiro. O dólar disparou 1,30% e registrou novo recorde de fechamento, cotado a R$ 5,989. Na máxima do dia, chegou a R$ 6,003, maior valor nominal da história. O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, terminou com baixa de 2,40%, aos 124.610,41 pontos. Para muitos analistas, as medidas são tímidas e dão sobrevida ao arcabouço fiscal, mas não resolvem o dilema das contas públicas. A equipe econômica prevê poupar R$ 71 bilhões até o fim do mandato do presidente Lula. Entre 2025 e 2030, o total deve chegar a R$ 327 bilhões. As medidas envolvem uma desaceleração gradual do ritmo de crescimento de algumas despesas. Também há uma avaliação de que a pressão política se sobrepôs à equipe econômica, especialmente por causa do anúncio de isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil. Há economistas que consideram negativa a mudança na regra do salário mínimo, por reduzir ganhos reais dos trabalhadores, e há quem celebre a manutenção dos pisos constitucionais de saúde e educação. Não há certeza alguma de que as medidas serão suficientes para tornar o arcabouço fiscal sustentável ao longo do tempo. (Estadão e Folha)
Ao detalhar o pacote, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, admitiu que pode ser necessário adotar novas medidas para controlar as contas públicas. E afirmou que voltará a Lula, se necessário. “São passos muito importantes que estão sendo dados. E, se precisarem outros, e certamente haverá necessidade, vamos estar aqui para voltar à mesa do presidente com as nossas ideias e tentando sintonizar as nossas ações em torno desse projeto”, afirmou. “O trabalho não se encerra, não acredito em bala de prata.” (Metrópoles)
Confira os detalhes do pacote. (g1)
Já o ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou que a equipe econômica buscará diálogo com o mercado – que, para ele, vai se acalmar. “O que se cobrava foi 100% atendido. O que se dizia é que estava trazendo para valor presente uma incerteza futura de desalinhamento entre receita e despesa e que haveria um descompasso no médio e longo prazos entre o arcabouço e o ritmo das despesas. As medidas adotadas trazem para dentro do arcabouço a projeção de médio e de longo prazos de todas as despesas.” (Globo)
Lula classificou o pacote de “medida extraordinária de contenção do excesso de despesas”, o que possibilita cumprir o arcabouço fiscal e garantir justiça tributária. “O Congresso Nacional vai discutir e, no momento certo, a gente vai conseguir aprovar para que esse país continue sendo um país de muita inclusão social, de muita justiça social, para que a gente possa dar ao povo brasileiro o direito de viver com uma certa dignidade.” (Valor)
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), avaliou positivamente as medidas e disse que a análise pelo plenário da Casa deve ocorrer ainda neste ano. Apesar da “boa impressão”, destacou a necessidade de discutir as propostas com as lideranças do Senado. E disse que o pacote será levado diretamente ao plenário após passar pela Câmara. (UOL)
Reunião entre Lula, Pacheco e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), colocou na mesma mesa, na noite de quarta-feira, dois personagens que se tornaram “desafetos”: Lira e o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha. E o clima entre os dois foi ameno, disse Padilha ao Meio: “Nunca tive uma reunião tão tranquila”. Isso indica ao governo que o momento político para a apresentação do pacote não poderia ser mais propício. Lira está de saída, mas deve conseguir eleger seu sucessor, Hugo Motta (Republicanos-PB), com apoio do governo. (Meio)
Celso Ming: “A gente ainda não sabe qual será a cara definitiva desse pacote fiscal. As primeiras avaliações mostraram que tem mais a ver com uma careta. O que o presidente Lula ainda não entendeu é que a falta de firmeza na condução da economia, a disparada do dólar, a retração na disposição do setor privado em investir, inflação, juros em alta, tudo isso junto é uma mistura envenenada que debilita o interesse do trabalhador e corrói qualquer política social”. (Estadão)
José Paulo Kupfer: “O mercado queria sangue, com cortes dos gastos públicos ‘na carne’, sem o recurso a receitas adicionais para compensar novas despesas e isenções fiscais. Qualquer que fosse o tamanho e a profundidade dos cortes, a Faria Lima, confessada opositora do governo Lula, consideraria insuficiente. Além disso, o pessoal do mercado financeiro ainda desconfia de que parte importante da redução de despesas anunciadas será desidratada ou pulverizada no Congresso”. (UOL)
Bráulio Borges: “O pacote de medidas caminha na direção correta ao propor mudanças nas regras de diversas despesas obrigatórias que vinham crescendo em ritmo insustentável. Não se trata apenas de um ‘pente-fino’. Não obstante, a magnitude ainda parece ser insuficiente. Seria um pacote razoável, que tenderia a ser bem recebido, ao reduzir os riscos de descumprimento das metas fiscais, ao menos nos próximos dois a três anos. Contudo, ele foi totalmente ofuscado pela decisão de anunciá-lo em conjunto com a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, com impacto de reduzir as receitas em R$ 45 bilhões”. (Folha)
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