DE OLHO EM TRUMP, BOLSONARO DEPOSITA ESPERANÇAS NO CONGRESSO
Enquanto o mundo tenta entender o que levou Donald Trump de volta à Casa Branca mesmo com 34 acusações criminais, uma condenação e dois processos de impeachment, o Brasil começa a ter os primeiros sinais de como a consagração de Trump pode ecoar na extrema direita por aqui. Jair Bolsonaro (PL) está inelegível até 2030 e ainda é investigado por tentativa de golpe e por ter surrupiado e vendido as joias sauditas, podendo ser condenado a até 23 anos de prisão. Mas a vitória expressiva do republicano alimenta nele a esperança de retornar ao poder já nas eleições presidenciais de 2026. E o caminho para se candidatar no próximo pleito seria uma anistia do Congresso, que Bolsonaro considera capaz de conseguir para reverter sua situação jurídica. “O Congresso é o caminho para quase tudo. O poder mais importante é o Legislativo”, afirmou em entrevista ao Globo. Ele nega participação na tentativa de ruptura democrática de 8 de janeiro de 2023 e alega que apenas procurou “remédios constitucionais” para “buscar uma maneira de questionar o processo eleitoral”. Também afirma que os atos golpistas foram orquestrados pela esquerda. (Globo)
Falta combinar com o Congresso. Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, ainda não oficializou a criação do grupo de trabalho que discutirá o projeto de lei que pretende anistiar os condenados pelos ataques golpistas em Brasília. No último dia 28, Lira retirou o projeto da Comissão de Constituição e Justiça e anunciou a criação da comissão especial. Na prática, a discussão do projeto recomeçará do zero. (Folha)
Mencionado por Bolsonaro como possível candidato a vice, o ex-presidente Michel Temer (MDB) descartou essa possibilidade. “Aquilo é uma brincadeira, só pode ser. Achei esquisitíssimo”, afirmou. Temer, que estava na presidência quando Trump foi eleito em 2016 e indicou Alexandre de Moraes ao STF, acredita que a vitória do republicano não afetará a inelegibilidade de Bolsonaro. “Você veja o que o Alexandre fez no caso do Elon Musk. Por mais pressões variadas que existissem, a posição dele foi firme.” (Folha)
Já o presidente Lula disse que Trump precisa “pensar como um habitante do planeta Terra” e que a responsabilidade ambiental tem de fazer parte de suas preocupações. O brasileiro foi questionado pela jornalista americana Christiane Amanpour, da CNN, se o republicano, que retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris em seu primeiro mandato, fará o mesmo novamente. O petista, que já parabenizou publicamente o americano pela vitória, avalia se telefonará para ele nos próximos dias. O gesto seria um contraponto à postura de Bolsonaro, que demorou mais de um mês para reconhecer e cumprimentar Joe Biden em 2020. O atual presidente americano ligou ontem para Lula, parabenizando o brasileiro pela presidência do G20, que terá sua cúpula no dia 18 de novembro no Rio de Janeiro. Biden confirmou que participará do evento. Antes disso, fará uma visita a Manaus. (CNN)
Em seu primeiro discurso após a eleição, Biden prometeu uma transição pacífica de poder. “Algo que espero que possamos fazer, não importa em quem você votou, é ver uns aos outros não como adversários, mas como cidadãos americanos. Baixar a temperatura”, afirmou. Biden, que não teve sua vitória oficialmente reconhecida por Trump em 2020, também enfatizou a integridade das eleições, classificando-as de honestas, justas e transparentes. Ele destacou que a campanha de sua vice-presidente, Kamala Harris, foi inspiradora. (ABC News)
E Trump já começou a formar seu governo, anunciando Susie Wiles como chefe de Gabinete. Ela é considerada uma das principais arquitetas da vitória do republicano nas eleições presidenciais. (Washington Post)
David Brooks: “O Partido Democrata tem uma função: combater a desigualdade. Acho que é difícil focar na desigualdade de classes quando você vai para uma faculdade com uma doação multibilionária e faz seminários de greenwashing e diversidade para uma grande empresa. Trump é um narcisista monstruoso, mas há algo de estranho numa classe instruída que se olha no espelho da sociedade e vê apenas a si mesma. À medida que a esquerda se voltava para a arte performática identitária, Trump entrou na guerra de classes com os dois pés. Sua mensagem era simples: essas pessoas traíram você e, ainda por cima, são idiotas”. (New York Times)
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