AGENTE DA PF É ELO ENTRE PLANO GOLPISTA E ‘ABIN PARALELA'



 Preso na operação da Polícia Federal contra suspeitos de envolvimento num plano de golpe de estado e assassinato de autoridades, o agente da corporação Wladimir Matos Soares é visto como elo com outra investigação, a da chamada “Abin paralela”. Em depoimento, ele admitiu ter participado da trama e disse ter sido aliciado por outro policial federal, Alexandre Ramalho, que trabalhava na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e já é investigado pela PF por envolvimento na escuta ilegal de autoridades e adversários políticos do então presidente Jair Bolsonaro (PL). Além de Soares, foram presos na manhã de terça-feira o general de brigada da reserva Mário Fernandes, os tenentes-coronéis Helio Ferreira Lima, Rodrigo Bezerra Azevedo e Rafael Martins de Oliveira. Eles planejaram, segundo a PF, matar o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB) e Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal e na época presidente o Tribunal Superior Eleitoral. (g1)

Nascido na Bahia, Soares já trabalhou no setor de inteligência da Secretaria de Segurança Pública do estado, em 2008, ano em que o hoje líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT), era governador. Agente da PF há 22 anos, ele também trabalhou no Amapá e no Rio Grande do Sul antes de ser transferido para Brasília. Ele já respondeu por homicídio de um policial militar em 2005. Foi durante uma operação da PF que cumpria mandado de busca, apreensão e prisão do PM Evaldo Soares Junior, acusado de chefiar um grupo de extermínio em Itaboraí (RJ). Soares e outros três agentes federais dispararam seis vezes contra Evaldo. Os quatro foram absolvidos por legítima defesa. (Metrópoles)
O ministro da Defesa admitiu que a prisão de militares de alto escalão e a revelação da trama golpista causam constrangimento, mas acha importante que o caso venha a público. “Constrange, mas é bom para as Forças Armadas que essas coisas venham à tona porque eu desejo muito que os responsáveis paguem os seus delitos perante a Justiça. É uma forma de tirar a suspeição de quem não tem culpa”, avaliou José Múcio. Como conta Bela Megale, o sentimento na cúpula das Armas é de que o episódio traz um “estrago terrível” para a imagem dos militares e, em especial, do Exército. (Globo)
Em Brasília, os ânimos estão acirrados. Após as prisões e a divulgação do relatório da PF (íntegra), o PT entregou ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), uma solicitação de arquivamento do projeto que anistia envolvidos nos atos golpistas que culminaram nos ataques de 8 de janeiro de 2023 às sedes dos Três Poderes. O partido argumenta que a anistia criaria um ambiente de impunidade e “estimularia extremistas”. (UOL)
Na outra ponta, o senador Eduardo Bolsonaro (PL-RJ) voltou a exigir a anistia aos golpistas e ameaçou cassar o ministro Alexandre de Moraes tão logo a direita radical “tenha maioria” no Senado. “Moraes tem duas opções: ou a gente aprova a anistia ampla, geral e irrestrita, e algum parlamentar faz uma emenda para incluir ele [ministro] nessa anistia, porque ele cometeu crimes, ou a gente da mesma forma vai aprovar a anistia e, quando tivermos maioria nesse Senado, vamos cassar o Alexandre de Moraes.” (IstoÉ)
Jair Bolsonaro não comentou a prisão de militares e as investigações sobre os planos de um golpe. Em vez disso, publicou em sua conta no X um corte de 40 segundos de um vídeo de 2019 no qual um youtuber afirmava que ele e sua família deveriam ser mortos. (Metrópoles)
Enquanto isso... A operação da PF não deve atrasar a conclusão do inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Moraes, relator do caso, estabeleceu em setembro o prazo até o dia 27 deste mês para o encerramento das investigações, e os documentos apreendidos na operação de ontem já estão em análise. A expectativa é que, além de Bolsonaro, sejam indiciados os ex-ministros e generais Augusto Heleno (GSI), Braga Netto (Casa Civil) e Paulo Sérgio Nogueira (Defesa). (UOL)
Celso de Mello, ex-ministro do STF: “Cabe sempre advertir que o poder militar está sujeito historicamente, nas democracias constitucionais, ao poder civil, cabendo-lhe as estritas funções institucionais que lhe foram atribuídas pela Constituição. Os fatos hoje noticiados referentes ao alegado envolvimento de altas patentes militares revelam um quadro deplorável de periclitação da ordem democrática e de perversão da ética do poder e do direito”. (Estadão)

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