A China se tornou o deus ex machina dos faria limers. Desde que Xi Jinping anunciou o fim da política covid zero, no finalzinho do ano passado, os investidores aguardam a economia do tigrão asiático voltar dos lockdowns em ritmo de festa – o que ajudaria o Ocidente a lidar com as inflações de dois dígitos, os juros doloridos e o perspectiva de recessão que estão assolando o clubinho de países desenvolvidos em 2023. O problema: será que Beijing entrega? Ou o enredo desse filme não será salvo de última hora pela segunda maior economia do mundo? Alguns dados de atividade econômica ligeiramente xoxos revelados ontem à noite não responderam a essa pergunta com a firmeza que os investidores desejavam. A produção industrial subiu 2,4% em doze meses, contra a previsão de 2,8%. As vendas no varejo bateram 3,5% no mesmo período (na mosca em relação à bola de cristal dos analistas). Porém, produtos mais caros, como automóveis e móveis, permanecem com pouca saída nas lojas. Não são números ruins. Mas tampouco indicam um crescimento pujante – estão mais para uma recuperação lenta. Algo que se reflete até na inflação de fevereiro, em 1%: uma alta tão humilde nos preços é sintoma de economia fria demais. Alguns setores estão esperando sentados pelo milagre. Caso da Vale e das demais mineradoras brasileiras, cuja fonte-mor de receita é a exportação de minério de ferro para a construção civil chinesa. Esse setor já chegou a perfazer 25% do PIB do país, mas estagnou durante a pandemia, após várias incorporadoras revelarem dívidas bilionárias e começarem a não honrar a entrega de apês já comprados por seus clientes. Em novembro de 2022, quando Xi Jinping anunciou não só o fim dos lockdows como uma injeção de grana para salvar o setor, a cotação do minério de ferro saiu dos US$ 87 a tonelada e disparou para o patamar atual, a mais de US$ 130. Uma alta de 54%. As ações da Vale vieram junto: subiram 25% desde então, e agora são negociadas a R$ 84, versus os R$ 67 de novembro. O problema é que, em janeiro – no auge das esperanças com o bailout na China – elas chegaram a alcançar R$ 94, uma valorização de 45% em relação ao pior momento de novembro. Sinal de que os investidores já estão reajustando suas expectativas, e precificando uma recuperação mais lenta. O minério de ferro não parece abalado, ainda: a cotação da commodity em Singapura está em alta de 0,19%, a US$ 132,25 a tonelada. No porto de Dalian, o preço é perfeitamente estável: 0%, a US$ 134,20. Vale acompanhar, ao longo do dia, como as mineradoras e siderúrgicas responderão a esses dados. Nos EUA, será um dia de agenda animada. Teremos a inflação do produtor (PPI) e as vendas no varejo de fevereiro. Desde segunda, reina o otimismo com os juros: a falência do SVB, que foi essencialmente um efeito colateral das oito altas consecutivas na “Selic” americana desde 2022, fez o mercado acreditar com força que Powell e sua turma vão pisar no freio na próxima reunião do Fomc, cuja decisão sai em 22 de março. De acordo com a plataforma de monitoramento do CME Group, 38% do mercado acredita que o Fed manterá a taxa atual, no intervalo entre 4,5% e 4,75%, e 61% aposta em um hike de 0,25 ponto percentual. A ideia de 0,5 p.p., que era consenso até a bomba SVB estourar, passou para o campo do devaneio na opinião dos analistas: 0% de chance. Os dados econômicos de hoje têm potencial para mexer com essas expectativas – trazendo mais gente para o time dos 0,25 p.p. caso a economia americana mostre sua resiliência já usual contra as altas nos juros. Por ora, os futuros de Nova York vão caindo forte: S&P 500 em -1,71%, Nasdaq em -1,42%. Algumas atualizações sobre o caso SVB: o Fed prometeu endurecer as regras para bancos de médio porte, e o Bank of America recebeu US$ 15 bilhões em depósitos nos últimos dias – parte do processo natural de reacomodação da grana que ficou sem casa no SVB, bem como um reflexo do medo dos correntistas de que outros bancos menores possam ir pelo mesmo caminho. Em Brasília, não há notícias pivotais: Alckmin conheceu ontem o novo arcabouço fiscal – e gostou do que viu. Lula já mandou marcar uma reunião para conhecê-lo ainda esta semana. E a ideia é que o documento venha a público no máximo até dia 22, antes do Copom e de uma viagem de Lula à China. Trata-se de uma ideia reconfortante para o mercado: já estão no ar apostas de que nosso comitê de política monetária começará a cortar a Selic ainda em maio. Um voto de confiança em Tebet, que prometeu que o novo pacote de regras fiscais está alinhado com pautas caras à ortodoxia econômica – como reduzir a relação dívida/PIB e zerar o déficit nas contas públicas. A ver como os humores chineses e americanos vão mexer com o mercado brasileiro hoje. Bons negócios! |
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