VÔLEI DE PRAIA MUDA PARA BUSCAR PÚBLICO E ATLETAS MAIS JOVENS



VÔLEI DE PRAIA SE MODERNIZA PARA BUSCAR PÚBLICO E ATLETAS MAIS JOVENS



Não é segredo para ninguém que os esportes de areia são a coqueluche do longo inverno pandêmico. Que atire a primeira pedra quem não tem um amigo ou parente que joga beach tênis ou futevôlei. As mesmas quadras, os mesmos postes, as mesmas linhas e as mesmas redes podem ser utilizadas pelo vôlei de praia, único dos três que é esporte olímpico, mas que visivelmente chegou atrasado para a pool party.

Salvo uma mudança aqui ou ali, a modalidade tem um circuito igual ao que era mais de 30 anos atrás, quando foi criado. Até o patrocinador master é o mesmo. Não há quem olhe o vôlei de praia e pense: "moderno".

A Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) identificou e reconheceu isso. E anuncia, nesta segunda-feira (27), uma reformulação no Circuito Brasileiro de vôlei de praia, que tem até uma nova logo, em movimento. O projeto envolve novas cores associadas à modalidade, em um trabalho gráfico bem interessante. Medalhas, troféus, arquibancadas, espaço de eventos, tudo será renovado.

Paralelamente, o calendário também recebeu adaptações. O objetivo é permitir que atletas jovens tenham um caminho mais acessível até a elite. O natural é que esses garotos e garotas levem mais modernidade ao vôlei de praia, com presença em redes sociais e atração de público também mais jovem. O tal do "sopro de ar fresco".

A CBV já havia feito movimento para abrir espaço aos jovens no ano passado, quando reformulou o formato competitivo dos torneios. O principal passou a ser o Top8, com apenas oito duplas por etapa, com um torneio "aberto" dias antes. Mas continuava sendo difícil para uma dupla jovem chegar ao estágio de enfrentar os melhores do país.

Agora, a novidade é a criação de uma base nova para a pirâmide, os campeonatos estaduais. São Paulo, especialmente, tem um circuito relevante, tradicional, mas sem nenhuma relação com o circuito nacional. Agora, os estaduais vão classificar para sete "regionais de acesso", que por sua vez vão dar vaga nos abertos. A ideia é que uma dupla que joga torneios municipais possa, por méritos, chegar à elite.

Para o sistema dar certo, a CBV promete dar R$ 405 mil totais para os estaduais distribuírem em premiação, e outros R$ 560 mil para servirem de prêmio dos regionais. É também uma forma de permitir aos atletas chegarem aos torneios nacionais com mais receitas (em prêmios) do que despesas, já que as viagens são curtas.

Ainda que a premiação total para 2023, R$ 6,9 milhões, seja 15% maior do que os R$ 6 milhões do ano passado, o número de etapas top8 no ano foi reduzido de 10 para 9. É dinheiro que sai dos principais atletas e vai para a base da pirâmide, o que é positivo. Pessoalmente, acho que dá para reduzir mais uma etapa, e ampliar a frequência dos regionais.

Mas a melhor novidade é que, das duas duplas indicadas pelos estados para jogar os regionais, uma precisa ser sub-23. É uma forma de acelerar a chegada dos mais jovens aos torneios abertos, e estimular a permanência dos atletas no vôlei de praia.

Ainda sinto falta, porém, de um ranking mais amplo, voltado não apenas ao alto rendimento, e que considere resultados que vão de torneios entre escolinhas até o circuito mundial, com escalas que vão de 1 a 10, ou 1 a 15. O basquete 3x3 tem isso e funciona muito bem. Seria uma forma de estimular que atletas amadores participem de competições e de fomentar a realização de torneios, atraindo patrocinadores e público para o esporte.

Aliás, acho esse um problema crônico do esporte brasileiro: a incapacidade das federações e confederações de estimularem o atleta amador e se aproximarem dele. Mas esse é assunto para outra coluna.



Bia Ferreira, campeã do Torneio Strandja, na Bulgária
Bia Ferreira, campeã do Torneio Strandja, na Bulgária
Miriam Jeske/COB
 
  
Boxe brasileiro vai bem, mas boxe mundial vai muito mal

Bia Ferreira e Keno Marley voltam de Sofia, na Bulgária, com o título do Torneio Strandja de boxe, um dos mais tradicionais do calendário amador da modalidade. Abner Teixeira foi bronze no peso pesado. A campanha é a melhor da história do boxe brasileiro na competição e incluiu, ainda, vitória de Luiz Oliveira sobre o atual campeão mundial da categoria dele.

Mas nem por isso o Brasil pode projetar ganhar qualquer medalha no boxe em Paris-2024. Nem o Brasil nem ninguém. Hoje, se eu fosse apostar, apostaria que o boxe vai acabar fora dos Jogos do ano que vem.

A situação é tão complexa quanto delicada. Ao longo dos últimos anos, a federação internacional do boxe teve problemas seríssimos de governança, a ponto de perder o direito de organizar o torneio olímpico de Tóquio-2020. O COI fez cobranças, a federação mudou de nome (de Aiba para IBA) e de comando, em meio a eleições mais uma vez cheias de acusações de lado a lado.

A entidade agora é presidida por Umar Kremlev, um russo com conexões com o governo de seu país e que vem batendo de frente com as federações da Europa Ocidental e dos EUA, que já eram oposição, e cobram que a Rússia seja proibida de disputar competições internacionais da IBA.

Kremlev deu de ombros, e alguns países decidiram boicotar tanto o Mundial Feminino, na segunda quinzena de março, na Índia, quanto o masculino, na primeira de maio, no Uzbequistão. O russo viu o dedo do COI no movimento e decidiu esticar a corda.

No começo da semana passada, a IBA divulgou seus critérios de classificação para a Olimpíada, uma declaração de guerra ao COI. Assim como em Tóquio-2020, é o COI quem vai organizar o torneio olímpico de boxe, e o comitê já havia divulgado como funcionaria o sistema de classificação, sem passar por nenhum torneio organizado pela IBA.

Ao divulgar seu próprio sistema, a IBA diz que, se, por exemplo, Bia Ferreira ganhar o Mundial do ano que vem, ela estará classificada para a Olimpíada. E caberá ao COI dizer que isso não existe, e que a vaga precisará vir ou do Pan ou de dois Pré-Olímpicos Mundiais no ano que vem.

A USA Boxing, a federação de boxe dos EUA, classificou o movimento da IBA como uma tentativa de confundir os boxeadores e de sabotar o processo de classificação, já que a IBA "não tem nenhuma autoridade constitucional" sobre o boxe olímpico em Paris.

E não tem mesmo. Mas a IBA tem total autoridade sobre as federações nacionais às quais os atletas são vinculados. Ela vem dizendo que ninguém aceitará lutar em Paris em um torneio que não seja organizado pela IBA. Acho que não chega a tanto, mas de um lado ou de outro precisará haver ruptura institucional. Para ficar no exemplo brasileiro: ou vai prevalecer o compromisso do COB com o COI, ou da CBBoxe com a IBA.

Minha dúvida é até onde vai a paciência do COI com essa discussão. A Olimpíada pertence ao comitê internacional, que pode enfileirar argumentos para não realizar o torneio de boxe em Paris e dar forte recado a outras federações internacionais: ninguém é intocável. Penso que é o que vai acontecer. E os boxeadores, se não quiserem ser prejudicados, que comecem a fazer mais do que subir ao ringue.

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