Jornalista e comentarista na TV Cultura, Uol e Bandsports
O peso do Favoritaço
Brasil voltou a ser favoritaço. E não me culpem por isso. Por favor!
Começou a Copa. E com ela o desafio habitual de apontar o favorito ao título. Particularmente, a missão foi ficando, digamos, mais complexa. Em 2014, a brincadeira virou coisa séria e até apelido comecei a carregar por conta disso - quase uma marca: Favoritaço. Tudo por conta de um arroubo num dos debates do saudoso Linha de Passe na ESPN Brasil, com Trajano, Juca, Mauro Cezar, PVC, Paulo Andrade e companhia ilustre.
"O Brasil é favorito à conquista da Copa?", me perguntaram. E eu, indignado (e precisando falar antes que fosse novamente interrompido), mandei um "óbvio, favoritaço!". O resto é história. O time de Felipão morreu na semifinal, naquele inesquecível 7 a 1 para a Alemanha.
Para mim, o Brasil seguirá sendo favoritaço toda vez que sediar uma Copa do Mundo. Como a Alemanha, a Argentina, a Itália, a França... Países com tradição e peso em Copas.
O fato é que o favoritaço me acompanha desde então. Lembro-me bem da pausa pós-Copa, em Fortaleza. As pessoas me pediam fotos e autógrafos. Na primeira vez, mandei um “abraço do Arnaldo Ribeiro”. O fã rebateu: “Se você não escrever 'favoritaço', ninguém vai saber quem é…” Pois é…
Além de apelido, virou uma espécie de praga. Seca-pimenteira. Torcedores brasileiros costumam ficar pistola quando aponto o time deles como favoritos à conquista do Brasileirão, por exemplo. Acham que estou jogando contra. Vai entender.
Pouca gente sabe que, na mesma ESPN, eu cravei o campeão da Copa da Rússia. Sim! Eu cravei o Favoritaço em 2018, antes de o Mundial começar: França! Bingo! Desta vez, no Catar, os franceses tinham boas chances de repetir o feito de quatro anos antes. Tinham... A incrível série de lesões mutilou as chances da equipe, penso eu. Ninguém perde impunemente quatro titulares (o zagueiro Kimpembe, os volantes Kanté e Pogba e o atacante Benzema ) e o principal reserva (o atacante Nkunku). Seria como o Brasil ficar sem Marquinhos, Casemiro, Paquetá, Vinícius Júnior e Antony. Já pensou?
A França ainda teve de lidar com o corte de Benzema momentos antes da estreia. Benzema, melhor jogador da última temporada europeia, era candidato a craque da Copa. Com os franceses desfigurados, o caminho se abre para a Argentina de Messi e também para o Brasil. Sim, principalmente, para o Brasil.
A seleção de Tite vive o seu melhor momento desde que iniciou seu trabalho. Além de não perder nenhum jogador importante por lesão, vários deles chegam ao Mundial no auge de sua forma física. O goleiro é ótimo. Os zagueiros estão entre os melhores do mundo - assim como os volantes.
Neymar nunca esteve tão bem e nunca esteve tão bem acompanhado. O sistema defensivo forte ganhou alternativas de ataque: os pontas voltaram... Raphinha, Antony, Rodrygo, Martinelli. São vários, de todos os estilos possíveis. Enfim, um técnico de seleção brasileira ganhou também um segundo candidato a craque: Vinícius Júnior. A “Neymardependência" parece estar com os dias contados. O que significa um alívio.
Sim! Oito anos depois, o Brasil voltou a ser favoritaço. E não me culpem por isso. Por favor...
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