Manhã de esperança cautelosa ao sul de Manhattan: os futuros de NY sobem – Dow Jones, 0,49%; S&P 500, 0,54%; Nasdaq, 0,32%, às 7h52 – enquanto os investidores aguardam o governo americano anunciar, às 9h30 da manhã, o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de setembro. Esse equivalente americano do IPCA é o mais importante indicador de inflação do Tio Sam, e ele não tem vindo com boas notícias nos últimos meses.
O consenso das expectativas do mercado, para setembro, é uma alta de 0,2% em relação a agosto, o que dá 8,1% nos últimos doze meses. Para o core do índice – um dado que explicaremos melhor mais abaixo –, a bola de cristal do mercado prevê 0,4%.
O auge foi junho, quando os preços subiram 9,1% em relação ao mesmo mês do ano anterior – o maior aumento das últimas quatro décadas. Em julho, veio uma desaceleração: 8,5%. Em agosto, outra, miudinha: 8,3% – e menos do que os investidores esperavam. Já naquele mês eles contavam com
inflação em 8,1%.
Mas
isso aconteceu principalmente por causa de uma queda nos preços da gasolina. E o problema é que a praxe, no mercado financeiro, é dar mais importância ao chamado “núcleo” (
core) do CPI, que exclui preços dos setores de energia e de alimentos por serem voláteis demais.
Comida e combustível estão sujeitos, por exemplo, a variações climáticas sazonais – como períodos de seca que reduzem o pasto das vacas leiteiras, ou a temporada de furacões no Atlântico norte, que atrapalha a extração de petróleo no Golfo do México.
Vejamos, então, o core. Esse número ficou estável em 5,9% de junho para julho, e depois subiu para 6,3% para agosto – acima do esperado, o que deixou todo mundo xatiado (rs). Sinal de que o aperto do Fed na taxa básica de juros dos EUA ainda não surtiu seu bem-vindo efeito desacelerador na economia. E de que o dado de hoje tem muito potencial para estragar o dia.
Para adicionar desgosto a uma notícia ruim, nada como uma notícia boa: o relatório Payroll, divulgado na sexta passada, que o mercado de trabalho americano permanece muito saudável, obrigado, apesar do aumento de juros. Mês passado, eles abriram 263 mil novas vagas, e a taxa de desemprego caiu de 3,7% para 3,5%.
O problema disso é o seguinte: se o mercado de trabalho estivesse mal das pernas – com taxa de desemprego em alta –, estaríamos diante de um sintoma de que o aperto do Fed na política monetária está surtindo efeito, e de que o Banco Central americano deveria considerar uma mão mais leve na “Selic” deles para não lançar os States numa recessão.
Por outro lado, um mercado de trabalho forte somado a uma inflação cheia de fôlego é sinal de que a economia americana aguenta porrada e exige uma alta mais brutal nos juros.
Ontem, os colarinhos brancos de Wall Street finalmente puderam ler a ata da reunião do Fomc realizada entre os dias 20 e 21 setembro – quando o comitê de política monetária do Fed decidiu pelo mais recente aumento de 0,75 ponto percentual na taxa, trazendo-a para a atual janela de 3 a 3,25%.
A ata é importante porque é um termômetro de humor – mostra se o Fed está mais dovish (“pomboso”, de “pomba”, jargão faria limer para clima amigável, de taxas menores) ou hawkish (“falcoso”, de “falcão”, o antônimo de dovish, que se refere à mão pesada nos juros e ao olhar vigilante da ave de rapina).
Todo mundo ficou ouriçado porque havia um trecho considerado dovish: os membros do comitê mantêm que mais altas são “apropriadas” nas próximas reuniões, mas destacou que “será importante calibrar o ritmo do aperto, para mitigar o risco de efeitos adversos”.
Mesmo assim, a maior parte das apostas para a próxima reunião, nos dias 1º e 2 de novembro, permanecem em mais uma alta de 0,75 ponto percentual. O Citi, por exemplo, manteve a previsão de 0,75 pp em novembro, 0,50 pp na reunião de dezembro e 0,25 pp na de fevereiro, com a taxa terminal na faixa entre 4,5% e 4,75%.
Muita coisa pode mudar, óbvio, se o CPI vier com um milagre.
Mas o clima não é de misericórdia. Ontem, as bolsas fecharam com queda em NY, após o PPI dos EUA – outro índice, que mede os preços ao produtor –, subir 0,4% de agosto para setembro. Acima do esperado, que era 0,2%.
Boa sorte a todos,
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