Quando uma empresa divulga sua maior receita em todos os tempos, 56% maior que a do ano anterior, e ainda apresenta um lucro líquido maior que o esperado pelos analistas, o normal é que a ação suba.
Não foi o que aconteceu com a Tesla. A montadora dos carros elétricos mais desejados do planeta reportou um faturamento de US$ 21,45 bilhões – versus US$ 13,8 bi no 3T21. Mais um lucro de US$ 3,3 bilhões. Na métrica preferida pelos americanos, a do "lucro por ação", deu US$ 1,05 – contra uma expectativa de US$ 0,99.
O CFO da empresa, Zack Kirk Horn, também disse que a empresa deve terminar o ano próxima de sua meta de aumento de produção. Eles fecharam 2021 com 936 mil carros fabricados. E o objetivo para 2022 era aumentar isso em 50%, para 1,4 milhão. É pouco perto dos números das montadoras tradicionais (a Toyota, a que mais produz, fechou o ano passado em 8 milhões). Ainda assim é um grande passo para a Tesla, que para todos os efeitos ainda é uma montadora que usa fraldas – um bebê do século 21 em meio a concorrentes centenárias.
Só que o mercado torceu o nariz. E isso dá uma amostra do humor em Wall Street e suas coadjuvantes mundo afora, caso da nossa Faria Lima. A tolerância do mercado para P/Ls fora da curva acabou.
Explico. P/L é a divisão do valor de mercado da empresa (o preço somado de todas as ações) pelo lucro nos 12 meses anteriores. Grosso modo, ele mostra quantos anos o investimento numa ação levaria para dar retorno caso o papel distribuísse seus lucros na forma de dividendos.
Faça essa conta com os números da Toyota. Dá 10. Faça com os da Tesla, e dá 75. Ou seja: isso mostra que uma ação da companhia de Musk é sete vezes mais cara que as da montadora japonesa. O P/L médio do S&P 500, para comparar, é de 18 – recentemente, estava em 35.
P/Ls altos rolam quando o mercado aposta em saltos quânticos nos lucros das companhias. E por modismo também. Se há dinheiro sobrando, o pessoal compra sem olhar o P/L, o que faz esse índice chegar às alturas – o da Tesla mesmo já foi de 1.300, no final de 2020.
Agora, com a alta dos juros do Fed, não há dinheiro sobrando. Muito pelo contrário. Nisso, as ações caem mesmo com os lucros em alta. As da Tesla mesmo caíram 50% desde o pico – de US$ 410 em novembro de 2021 para US$ 211 agora (o P/L caiu mais porque os lucros se multiplicaram).
Mas é isso. Pelo jeito, o mercado não tolera mais um P/L muito acima da média mesmo quando a empresa apresenta resultados saudáveis trimestre após trimestre. É o que mostra a queda da Tesla após a divulgação de seu bom balanço.
O lado meio cheio desse copo todo: o P/L do Ibovespa está em míseros 6,5% – contra 11% da média dos últimos 15 anos. Ou seja: há espaço para crescer, mesmo sob as chuvas e trovoadas do momento atual da economia.
E hoje pode ser um dia positivo. Pelo menos é o que indica a bola de cristal dos futuros americanos. Apesar dos pesares, eles viraram para a alta nesta manhã.
Veja aqui embaixo. E boa quinta!
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