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ABERTURA DE MERCADO
 
Montadora tem receita recorde e lucros acima da expectativa do mercado. Mesmo assim, tomba no pré-market: uma amostra de que a tolerância a P/Ls altos está morta e enterrada em Wall Street.
 
 
Por Alexandre Versignassi e Camila Barros
 
 
Quando uma empresa divulga sua maior receita em todos os tempos, 56% maior que a do ano anterior, e ainda apresenta um lucro líquido maior que o esperado pelos analistas, o normal é que a ação suba.
 
Não foi o que aconteceu com a Tesla. A montadora dos carros elétricos mais desejados do planeta reportou um faturamento de US$ 21,45 bilhões – versus US$ 13,8 bi no 3T21. Mais um lucro de US$ 3,3 bilhões. Na métrica preferida pelos americanos, a do "lucro por ação", deu US$ 1,05 – contra uma expectativa de US$ 0,99.
 
O CFO da empresa, Zack Kirk Horn, também disse que a empresa deve terminar o ano próxima de sua meta de aumento de produção. Eles fecharam 2021 com 936 mil carros fabricados. E o objetivo para 2022 era aumentar isso em 50%, para 1,4 milhão. É pouco perto dos números das montadoras tradicionais (a Toyota, a que mais produz, fechou o ano passado em 8 milhões). Ainda assim é um grande passo para a Tesla, que para todos os efeitos ainda é uma montadora que usa fraldas – um bebê do século 21 em meio a concorrentes centenárias.
 
Só que o mercado torceu o nariz. E isso dá uma amostra do humor em Wall Street e suas coadjuvantes mundo afora, caso da nossa Faria Lima. A tolerância do mercado para P/Ls fora da curva acabou.
 
Explico. P/L é a divisão do valor de mercado da empresa (o preço somado de todas as ações) pelo lucro nos 12 meses anteriores. Grosso modo, ele mostra quantos anos o investimento numa ação levaria para dar retorno caso o papel distribuísse seus lucros na forma de dividendos.
 
Faça essa conta com os números da Toyota. Dá 10. Faça com os da Tesla, e dá 75. Ou seja: isso mostra que uma ação da companhia de Musk é sete vezes mais cara que as da montadora japonesa. O P/L médio do S&P 500, para comparar, é de 18 – recentemente, estava em 35.
 
P/Ls altos rolam quando o mercado aposta em saltos quânticos nos lucros das companhias. E por modismo também. Se há dinheiro sobrando, o pessoal compra sem olhar o P/L, o que faz esse índice chegar às alturas – o da Tesla mesmo já foi de 1.300, no final de 2020.
 
Agora, com a alta dos juros do Fed, não há dinheiro sobrando. Muito pelo contrário. Nisso, as ações caem mesmo com os lucros em alta. As da Tesla mesmo caíram 50% desde o pico – de US$ 410 em novembro de 2021 para US$ 211 agora (o P/L caiu mais porque os lucros se multiplicaram).
 
Mas é isso. Pelo jeito, o mercado não tolera mais um P/L muito acima da média mesmo quando a empresa apresenta resultados saudáveis trimestre após trimestre. É o que mostra a queda da Tesla após a divulgação de seu bom balanço.
 
O lado meio cheio desse copo todo: o P/L do Ibovespa está em míseros 6,5% – contra 11% da média dos últimos 15 anos. Ou seja: há espaço para crescer, mesmo sob as chuvas e trovoadas do momento atual da economia.
 
E hoje pode ser um dia positivo. Pelo menos é o que indica a bola de cristal dos futuros americanos. Apesar dos pesares, eles viraram para a alta nesta manhã.
Veja aqui embaixo. E boa quinta!
 
 
 
• Futuros S&P 500: 0,34%
• Futuros Dow: 0,13%
• Futuros Nasdaq: 0,53%
 *às 8h37
 
 
• Índice europeu (EuroStoxx 50): 0,05%
• Bolsa de Londres (FTSE 100): 0,18%
• Bolsa de Frankfurt (Dax): -0,28%
• Bolsa de Paris (CAC): 0,43%
*às 8h38
 
 
• Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): -0,57%
• Bolsa de Tóquio (Nikkei): -0,92%
• Hong Kong (Hang Seng): -1,40%
 
 
 
• Brent: 1,66%, a US$ 93,94 o barril
*às 8h41
 
 
EUA, 9h30: Pedidos de auxílio desemprego (a previsão é de ligeira alta, para 230 mil)
 
 
 
Grupamento de ações a Oi
Na segunda-feira, o Conselho de Administração da Oi aprovou o grupamento de ações da companhia – medida que ainda deve ser discutida pela assembleia dos acionistas no dia 18 de novembro. Funcionará assim: as ações serão reunidas em grupos de 50 e se transformarão em uma só, de valor maior. Ou seja, digamos que um investidor tenha 100 ações OIBR3 de R$ 0,30. Depois do grupamento, ele terá 2 ações de R$ 15. Na prática, nada muda pra ele.
 
A medida é necessária porque, pelas regras da B3, uma ação não pode permanecer abaixo de R$ 1 por mais de 30 pregões consecutivos. O problema das penny stocks (ações de centavos) é que qualquer oscilaçãozinha de preço gera variações percentuais enormes, que podem distorcer a percepção dos investidores. Exemplo recente disso: desde o anúncio de grupamento, as ações OIBR3 caíram caóticos 16,6% – de R$ 0,36 para R$ 0,30, diferença de apenas R$ 0,06.
 
 
 
Ascensão e queda dos bilionários da pandemia
A Covid deu fama e fortuna para empresas que não as receberiam caso o mundo não estivesse literalmente colapsando. É o caso do Zoom, plataforma de videoconferência mais utilizada durante a virada para o trabalho remoto, e a Moderna, farmacêutica americana que entrou na corrida das vacinas. E de todo setor de e-commerce e entretenimento online, que acreditou estar pavimentando um "novo normal”.
Mas, à medida que as coisas foram voltando ao normal (o antigo, não o novo, rs), ficou claro que era tudo tendência passageira. Isso, somado ao encarecimento dos juros, fez com que o valor de mercado dessas empresas despencasse – e, junto, a recém-adquirida fortuna de seus sócios. A Bloomberg mostra a trajetória de ascensão e queda dos bilionários da Covid.
 
Shein: 18h de trabalho e 4 centavos por peça
A Shein é uma marca de roupas chinesa que ganhou popularidade nos últimos anos pelos seus preços (estranhamente) baixos. Tão estranho que o Channel 4, rede de televisão britânica, foi lá investigar: uma repórter se disfarçou de candidata para uma vaga de emprego e filmou duas fábricas da empresa na cidade de Guangzhou, na China.
 
Em uma delas, ela descobriu que a varejista paga 4 centavos de dólar (uns R$ 0,21) por peça produzida, numa jornada de 18h de trabalho por dia e apenas um dia de folga por mês. Aqui, o Uol conta outras descobertas da jornalista. O documentário do Channel 4 está disponível apenas para assinantes da plataforma de streaming da emissora.
 
 
Antes do fechamento: American Airlines e AT&T

Depois do fechamento: Assaí
 

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