Depois de um recorde no IPCA ontem – o IBGE registrou a maior deflação (queda de preços) no Brasil desde o início da série histórica, em 1980 – hoje é dia de ver como a inflação se comportou nos EUA.
Às 9h30, sai o Índice de Preços ao Consumidor de julho – CPI, na sigla em inglês –, o equivalente americano do IPCA. Em junho, o indicador marcou 9,1% em doze meses – o maior número em 41 anos. A expectativa para julho não é muito melhor: uma ligeira desaceleração para 8,7%.
Para entendê-la, uma explicação rápida: o dado americano vem separado em dois: o índice cheio (que considera todos os preços) e o chamado "núcleo" (que exclui alimentos e energia, considerados voláteis).
Como o preço dos combustíveis caiu, espera-se que haja uma ligeira desaceleração no número cheio – ou seja, que os preços ainda subam, mas menos que no mês passado. Já seria uma boa notícia.
O núcleo de julho é que prende o fôlego dos acionistas. Ele é uma incógnita, e a
maioria aposta em uma aceleração. Ontem, as bolsas americanas operaram meio tímidas, meio receosas: Nasdaq caiu 1,19%, S&P 500 recuou 0,42%. Hoje, os futuros operam numa alta tímida.
O medo da inflação lá travou até o pregão Ibovespa aqui, mesmo apesar do nosso número ter vindo legal. A explicação é o…
Medo dos juros
Em junho, os 9,1% de inflação vieram acompanhados de um desempenho satisfatório da economia pós-pandêmica – o Payroll, relatório de emprego, veio com 372 mil novas vagas, mais de 100 mil acima do esperado.
Isso foi essencial para o Fed aumentar a taxa básica de juros do Tio Sam em 0,75 ponto percentual. Economias fortes aguentam o tranco de taxas de juros mais altas, e aumentar os juros é o único método eficaz para segurar a inflação no tranco.
O payroll bem sucedido já se repetiu para julho: mês passado, os EUA abriram 528 mil novas vagas, o dobro do previsto, e os salários aumentaram, seguindo a inflação. A economia, novamente, parece lidar bem com a alta de preços.
Ou seja: se a inflação vier alta novamente, o cenário se repete e outro aumento de 0,75 pp se torna inevitável. Se essa alta surpreender, podemos ter mais do que isso: 1pp, o que elevaria a "Selic" americana a 3,5% – algo que não se vê desde 2007.
Para as bolsas, juros altos são ruins porque influenciam os investidores a tirarem dinheiro de apostas mais arriscadas (como ações) para colocá-lo em títulos públicos e outros produtos mais conservadores.
E juros altos lá também significam mais pressão na Selic daqui. Eles valorizam o dólar. Dólar em alto causa inflação por aqui. E com inflação por aqui, fica mais difícil a Selic cair.
O maravilhoso mundo de Musk
Elon vendeu US$ 6,9 bilhões em ações da Tesla desde o início do mês, com o objetivo de ter grana em mãos para comprar o Twitter. A ideia é fazer o saque de ações aos pouquinhos, para não gerar nenhum soluço no desempenho da empresa na bolsa.
A rede social abriu um processo para forçá-lo a honrar sua promessa depois que a promessa em questão quebrou as pernas da empresa. O julgamento rola em outubro. Musk diz que vai comprar as ações de volta caso não seja forçado a fechar negócio, mas os comentaristas apostam que ele vai vender mais.
Musk à parte, com o medo da inflação, o dia começa só ligeiramente touro. A tendência é indefinida, já que tudo depende do CPI.
Veja aqui no humorômetro ;)
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