OLHAR OLÍMPICO
AO RECUSAR SELEÇÃO DE VÔLEI, ANA CRISTINA JOGA UMA TONELADA SOBRE AS COSTAS
Demétrio Vecchioli |
Ao levar Ana Cristina para os Jogos Olímpicos de Tóquio mesmo ela tendo 17 anos, José Roberto Guimarães, um dos técnicos mais vitoriosos do esporte, disse ao mundo do vôlei: "essa menina é especial". A jogadora, porém, parece ter entendido errado a mensagem. Ao trair o treinador e recusar a seleção que disputará o Mundial em setembro, indicou acreditar que pode escrever uma trajetória vitoriosa sem precisar de ninguém, abandonando pelo caminho quem esteve com ela poucos meses atrás. O vôlei não é a NBA, em que grandes carreiras são calçadas no que se conquista em um clube. Depois que virou MVP e campeão da NBA, Stephen Curry nunca mais jogou pela seleção dos EUA. Mas ele faz tanto no Golden State Warriors, e tem tanta visibilidade, que jogar ou não jogar pelo Dream Team faz pouca diferença. Para ficar em um exemplo local: Felipe Ferraz é o maior vencedor do vôlei nacional. Faturou 39 títulos pelo Sada/Cruzeiro em 11 anos como jogador, mas nunca jogou na seleção brasileira, porque nunca foi convocado. É ídolo do clube mais vitorioso do país, porém não entra na prateleira dos maiores jogadores da nossa história porque não fez carreira com a camisa do Brasil. Voltando a Ana Cristina: ela teria ficado incomodada pela temporada inteira no banco de reservas, tanto do Fenerbahçe quanto da seleção brasileira. Se ela fosse só uma jogadora de 18 anos, na segunda temporada profissional, apenas a oportunidade de estar no clube mais poderoso do mundo e vestindo a camisa do Brasil já seria suficiente para este estágio da vida. Mas Ana Cristina tem uma Olimpíada no currículo — é "especial". Sem Tandara (suspensa por doping), Natália (aposentada da seleção) e Fê Garay (em ano sabático), o natural seria Zé Roberto apostar nas outras duas ponteiras olímpicas neste início de ciclo: Gabi e Ana Cristina. Mas ele deu nova oportunidade a Pri Daroit, bem mais experiente, de 29 anos, e foi conquistado pelo talento de Julia Bergmann, de 21, então pouco conhecida no Brasil por jogar na liga universitária dos EUA. Ana Cristina não virou titular, jogou pouco na Liga das Nações e parece ter ficado incomodada. Mas a resposta precisava vir na quadra, como veio quando ela fez seis pontos no terceiro set da final da VNL. O Brasil perdeu para a Itália, mas ela mostrou que estava com fome. E o prato de comida estava servido. Como Julia não vai ao Mundial para terminar a faculdade, Ana teria, óbvio, mais tempo de quadra. E em um Mundial! Mas ela recusou essa oportunidade, e da pior forma possível. Depois da Liga das Nações, Zé Roberto deu 14 dias de folga para as jogadoras, pedindo que elas treinassem fisicamente no período. Ana recebeu uma programação e só 10 dias depois mandou avisar que não aceitaria a convocação, que seria feita dali a três dias. Enquanto as seleções jogam, o restante do mundo do vôlei descansa. Assim, nem se quisesse recalcular a rota sem Ana Cristina, Zé Roberto poderia. Todas as outras ponteiras ou estão de férias ou voltando de férias, sem condições físicas e técnicas de jogarem um Mundial no mês que vem. Ana Cristina obviamente sabe disso e poderia ter avisado antes, dado a chance de o Brasil se preparar melhor para um Mundial. Oficialmente, a dispensa foi pedida para que Ana Cristina "se prepare melhor tecnicamente para futuras competições". O argumento, porém, não para de pé, não faz sentido lógico. Qual melhor forma de evoluir senão jogando contra as melhores do mundo no Mundial, treinando com um treinador que indiscutivelmente sabe lapidar talentos, e convivendo diariamente com Macris, a levantadora do próprio Fenerbahçe? Algumas jogadoras procuraram Ana Cristina após o pedido de dispensa. Queriam entender se havia acontecido alguma coisa que ela não estava expondo, tentaram convencê-la a reconsiderar. Mas a ponteira nem sequer atendeu as ligações das colegas, pelo que o Olhar Olímpico apurou. Também foi extremamente fria no trato com a comissão técnica, a ponto de não falar com Zé Roberto quando o empresário dela ligou para o treinador para informar a decisão — segundo o agente, Ana Cristina estava ao lado dele, ouvindo a conversa em um fone de ouvido. É difícil entender o que Ana Cristina quer com isso. Se é só o que disseram por ela — evoluir treinando ou por conta ou no Fenerbahçe —, a missão será duríssima. Porque, para justificar essa postura com a seleção, com Zé e com as companheiras, ela precisa estourar no Fener. Ser campeã, MVP, virar ídola do esporte. Aos 18 anos, é uma responsabilidade que ela não precisava ter. Agora, parece ser o único caminho para o caso de um dia ela querer voltar à seleção. |
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| João Victor Oliva faz melhor campanha do Brasil no Mundial de adestramento |
João Victor Oliva disputa hoje, na Dinamarca, a segunda fase do Mundial de adestramento. O paulista de 26 anos vive a melhor fase da carreira e, ontem, se tornou o primeiro brasileiro a conseguir avançar para a segunda apresentação em um Mundial da modalidade. Apresentaram-se para os juízes 93 cavaleiros e amazonas de 34 países, e o brasileiro teve a 26ª melhor nota, 72,112%, que é a melhor já recebida por um brasileiro em um evento deste porte. A evolução de João Victor, aliás, pode ser medida pelas notas em Mundiais: 63,843% em 2014, 65,512% em 2018 e 72,112% agora. O hipismo realizou, nas últimas três décadas, os Jogos Mundiais Equestres, reunindo, em uma só sede, os eventos máximos de todas as disciplinas sob a responsabilidade da Federação Equestre Internacional (FEI). Como o evento era muito grande e muito caro, faltaram cidades interessadas e o modelo foi revisto. Agora são vários Mundiais, em várias sedes. Em Herning, Dinamarca, serão disputados também os de salto, volteio e o paraequestre. |
| Bichara vira consultor do Flamengo, e continuará observando estrelas de perto |
Golaço do Flamengo ao contratar Jorge Bichara para ser consultor do clube para esportes olímpicos. Com isso, o ex-diretor de Esportes do Comitê Olímpico do Brasil (COB) vai continuar trabalhando próximo a três de seus pupilos: Isaquias Queiroz, Rebeca Andrade e Flávia Saraiva. Ele continua como diretor-técnico da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), cargo que assumiu pouco depois de ser demitido pelo COB. Com Bichara, Flamengo ganha ainda mais credibilidade para seu projeto de esportes olímpicos e aumenta as chances de conquistar medalhas em Mundiais e Olimpíadas, já que o profissional conhece muito bem a rotina, os treinamentos e as necessidades desses atletas de ponta do clube. |
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| Isaquias termina Mundial com duas medalhas, mas não defende ouro olímpico |
Bichara, aliás, já vinha acompanhando os treinamentos de Isaquias Queiroz, que no fim de semana ganhou um ouro e uma prata no Mundial de canoagem velocidade disputado em Halifax, no Canadá. Ele venceu a prova de 500 metros, mas foi segundo colocado na de 1.000 m, que é a distância olímpica vencida por ele em Tóquio-2020. Isaquias foi superado por um romeno que veio de provas mais curtas, Catalin Chirila, de 24 anos. O europeu ganhou do brasileiro na primeira série eliminatória de 1.000 m, exigiu que Isaquias remasse uma prova a mais (a semifinal), e, mais descansado, repetiu a vitória na final. Nos 500 m, ficou em segundo. Em Paris, Isaquias vai remar o C1 1.000 m (individual) e o C2 500 m (em dupla). Neste Mundial, o Brasil escalou Filipe Vieira e Erlon Souza para as provas em duplas, mas eles ficaram apenas em 10º lugar na distância olímpica de 500 m, terminando em segundo a final B. E foram quinto colocados em uma competição esvaziada no C2 1.000 m. Erlon ficou fora dos Jogos de Tóquio por causa de uma lesão crônica no quadril, passou por cirurgia, e agora está recuperado. Ele terá 33 anos em 2024. |
| Poucos resultados satisfatórios de brasileiros em Mundiais de base |
A semana teve algumas competições importantes na base, mas poucos resultados satisfatórios. No Mundial sub-20 de atletismo, em Cáli (Colômbia), a campanha brasileira teve apenas um resultado entre os oito primeiros, o de Gabriel Boza, bronze no salto em distância. Ótimo que o desempenho dele tenha sido de finalista de Mundial adulto, o que mostra que podemos sonhar com um atleta de ponta para Paris-2024. Mas é péssimo que o país tenha tão poucas opções para apostar. No taekwondo foram dois Mundiais em sequência, cadete e juvenil. E o Brasil conquistou uma medalha só, com Bryan Erkmann, que foi bronze na categoria +78kg. De 34 brasileiros, só três chegaram à disputa pela medalha. Na vela, Tiago Quevedo e Breno Kneipp ficaram no quarto lugar no Mundial júnior da classe 49er, disputado na Itália. Eles chegaram a entrar no último dia de regatas em terceiro, mas perderam uma posição. E, no handebol, a seleção feminina ficou em 15º no Mundial sub-18. Ainda pior que a classificação, mais baixa da história, é o fato de o Brasil ter perdido de Portugal, que tem muito menos tradição. O país já havia ficado em um ruim 22º lugar no Mundial sub-20. ********** NA NEWSLETTER DE JOSÉ TRAJANO Na newsletter desta semana, José Trajano faz uma homenagem ao seu pai, Trajano Garcia Quinhões, "responsável" por seu amor aos esportes e ao America Football Club. Para se cadastrar e receber a newsletter semanal, clique aqui. |
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