A economia não é física newtoniana, na qual cada causa tem uma consequência exata. O componente humano ali é maior do que parece. Não raro, um mesmo fato desencadeia reações opostas. E hoje tivemos um baita exemplo disso. Fato 1: O IPCA de junho veio em 0,67% – dentro do esperado. Trata-se de uma aceleração em relação aos 0,47% de maio. Mas os dados do IBGE vieram com algo mais positivo lá dentro. Mostraram que 66% dos produtos que eles pesquisam tiveram aumento de preço. É pouco comparado aos outros meses. Em maio, mesmo com uma aceleração menor, o vírus inflacionário estava presente em 72% dos ítens. Em abril, 78%. Na real, esse índice (que os economistas chamam de "difusão da inflação) é o menor desde novembro de 2021. Beleza. Tivemos, então, que o Ibovespa abriu em alta. Nada mais natural, oras. Era uma reação ao lado bom desse IPCA de junho. Mas não durou muito. Ao final da manhã, o índice voltou ao negativo, de onde não saiu mais. E encerrou o dia em -0,44%. O que aconteceu nesse meio tempo? Nada. Foi uma reação ao lado ruim do IPCA de junho – que acelerou em relação a maio, afinal. Um mesmo dado. Duas consequências. Com vitória do lado pessimista no final. Nada mais humano, e menos exato. Fato 2: Nos EUA, foi o contrário. Hoje saiu o Payroll, relatório mais importante sobre o emprego por lá. A bola de cristal do economistas apontava (levantamento da Reuters) para a criacão de 268 mil novas vagas. Surgiram 372 mil. Além disso, o desemprego se manteve em pífios 3,6%, um dos menores da história. Uau. Esse dado veio logo de manhã. A bolsa abriu em alta, então? Nope: abriu chorando, no vermelho. Uma economia forte, afinal, deixa a porteira aberta para o Fed continuar lascando aumentos de 0,75 ponto percentual a cada reunião. Altas de juros, afinal, machucam a economia para derrubar a inflação. E bater numa economia forte é mais seguro do que fazer o mesmo com uma economia minguante. Ou seja: provavelmente virão mais altas fortes nos juros. Caso o Fed siga mesmo nesse ritmo, os juros americanos vão fechar o ano perto de 4% (contra 1,75% de hoje). Isso fortaleceria a demanda por renda fixa (títulos públicos, basicamente), roubando dinheiro da renda variável (a bolsa). Aí a bolsa já cai de véspera. E aí tivemos uma sangria desatada, certo? Errado: o S&P 500 fechou no zero a zero (-0,08%). Após a baixa inicial, veio um certo otimismo. Uma economia forte, afinal, é algo intrinsecamente positivo. Esse sentimento resgatou as bolsas americanas das profundezas, e o S&P 500 terminou o dia estável. No fim das contas, o saldo da semana acabou no positivo lá e cá. Alta de 1,01% no Ibovespa, na comparação com o fechamento da última sexta. E de 1,93% no S&P 500. Nada tão ruim para uma estrada que só leva a um caminho: juros mais altos nos próximos meses – a ponto de o site do Tesouro Direto ter entrado em "circuit breaker" (em aspas porque não existe esse termo no mercado de títulos públicos; foi "só" uma suspensão das negociações). As taxas foram à ionosfera, com o IPCA+2026 passando a pagar 6,04% (+inflação). Quem estava esperando por esse presente, pode ir às compras. A quem entrou antes, em 4,5%, 5,0%, só resta afogar as mágoas. Bom que hoje é o dia para isso. Até segunda! Maiores altas Azul (AZUL4): 6,23% Cielo (CIEL3) 5,13% Via (VIIA3): 3,40% 3R Petroleum (RRRP3): 3,13% PetroRio (PRIO3): 2,54% Maiores baixas
Hapvida (HAPV3): -4,37% CVC (CVCB3): -4,63% Sul América (SULA11): -4,31% CSN (CSNA3): -3,18% Totvs (TOTS3): -3,17%
Ibovespa: -0,44%, a 100.288 pontos Em NY: S&P 500: -0,08%, a 3.899% Nasdaq: 0,12%, a 11.635 Dow Jones: -0,14%, a 31.339 Dólar: -1,44%, a R$ 5,26 Petróleo Brent: 2,26%, a US$ 107,02 WTI: 2%, a US$ 104,79 Minério de ferro: -0,55%, a US$ 113,68 por tonelada no porto de Qingdao (China) |
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