Existe pisar em casca de banana. E existe atravessar a rua só para pisar na casca de banana. Foi a segunda opção a escolhida pelo bilionário Elon Musk quando decidiu tentar comprar o Twitter. A rede social do passarinho não estava à venda quando Musk teve um surto de bilionário e decidiu fazer uma oferta hostil pela empresa. A história começou em março. Primeiro ele se tornou dono de quase 10% do Twitter só comprando ações na bolsa. Só aí já era um problema. O homem mais rico do mundo tinha a obrigação de avisar a SEC (a CVM americana) da operação. Não fez isso. Depois ele fez a tal proposta de comprar todas as ações da rede social por US$ 44 bilhões. O Twitter relutou, mas era uma oferta irrecusável. Àquela altura, tratava-se de uma valorização de 54% em relação ao valor de mercado da companhia antes de ele começar a comprar ações. Hoje a empresa tem valor de mercado de US$ 28 bilhões. Como definiu a The Economist semanas depois, esse foi o caso mais radical de arrependimento de uma compra por impulso que se tem registro. E logo Musk começou a colocar empecilhos para fechar o acordo e pagar a conta. Publicamente, o centro do debate era a quantidade de robôs da rede, usuários falsos que inflam os números, mas não pagam a conta. Mas isso era só da boca pra fora. O problema mesmo era outro. O Twitter não dá lucro, e honestamente não tem muito para onde crescer como rede social. Daria para levar o perrengue quando o dinheiro era de graça (o que acontecia com os juros perto de zero nos EUA, até março deste ano). Só que, agora, o Fed está subindo a 'Selic' americana numa velocidade não vista desde anos 1980, no ciclo que se seguiu ao choque do petróleo. Tudo indica que, no fim do mês virá um novo aumento de 0,75 ponto percentual. Essa alta desandou as bolsas americanas. Deixou o crédito caro. E ainda diminuiu a capacidade de Musk dar garantias, já que as suas ações da Tesla passaram a valer menos também. No começo de abril, quando a compra do Twitter foi anunciada, cada papel da Tesla era negociado por US$ 1.145,45. Hoje eles estão cotados a US$ 752,29 (uma queda de mais de 30%, mas em linha com o tombo do índice de tecnologia Nasdaq). Por sinal, no pré-mercado, as ações da montadora sobem, na contramão do mercado, que vai começando a semana no negativo. Já as do Twitter afundam. No começo da manhã, no pré-mercado, a queda era de mais de 6%. Em menos de quatro meses, os papéis foram do céu ao inferno. E agora os gestores da rede social contrataram uma banca de advogados para processar Musk pelo estrago causado nas ações e na reputação da companhia. Tudo culpa do bear market. O Twitter é só um dos exemplos do que a virada de maré pode fazer com o dinheiro de investidores. O Bitcoin é outro. Uma pesquisa divulgada pela Bloomberg perguntou a investidores o que eles achavam que aconteceria primeiro: o Bitcoin cair a US$ 10 mil ou recuperar os US$ 30 mil? 60% responderam que o mais provável era uma queda a US$ 10 mil. Isso significaria que a maior das criptomoedas perderia mais 50% do seu valor quando comparado aos US$ 20 mil atuais. Do pico de US$ 67 mil, daria um tombo de 85%. Uma coisa tipo Magalu e Via, mas em oito meses, não em dois anos. Boa semana. |
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