SEM ACORDO, GREVE DE ÔNIBUS CONTINUA NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM-PA
Ontem, depois de duas horas tentando mediar acordo entre os sindicatos de
rodoviários e de empresas de transporte coletivo, para encerrar a greve, o juiz
do Trabalho Antônio Oldemar Coelho suspendeu a reunião e marcou nova rodada de
conversa para hoje às 15h. A Semob ficou
de mostrar as certidões emitidas pelos oficiais de justiça quanto ao não
cumprimento da decisão de manter em circulação 80% da frota.
A procuradora do Ministério Público do Trabalho Ana Rodrigues, os
advogados das partes, Mary Cohen e Mário Tostes, sindicalistas, donos de ônibus
e o economista Roberto Sena, do Dieese, estavam presentes. Foi proposto
reajuste imediato de 2,5% no tíquete refeição, com a manutenção de todas as
cláusulas não econômicas do acordo até abril de 2022, e estabelecimento de
janela de negociação das cláusulas econômicas para daqui a três meses, diante
da colocada pelo sindicato patronal, de seis meses.
Os rodoviários de Belém e Ananindeua querem reajuste de 5% a
partir de primeiro de setembro, com revisão para dezembro de 2021, no que foram
seguidos pela representante do MPT. Mas o Setransbel alegou que as empresas
sofreram perdas em razão da pandemia de Covid-19, e que não pode assumir o
compromisso com qualquer aumento de valor, sob risco de algumas não conseguirem
honrar o pagamento. O advogado patronal, Mário Tostes, chegou a dizer: "Tá
ruim? Tá ruim! Mas pode ficar pior!". O juiz Oldemar Coelho buscou a
pacificação, enfatizando que a sociedade está sem transporte público e
esperando o fim da greve, a necessidade de os empresários sinalizarem a
possibilidade de aumento de valor do tíquete refeição como forma de viabilizar
o acordo, mas o Setransbel foi irredutível.
É gravíssimo o impacto causado pela greve à população mais pobre,
que não pode ficar à mercê dos poderosos donos de ônibus. Por um lado, a
determinação do magistrado não foi cumprida pelos rodoviários, que deveriam
manter 80% da frota operando. Por outro, os donos de ônibus jamais cumpriram a
obrigação legal de oferecer frota digna aos usuários. Os veículos são imundos,
velhos, cheios de insetos, quando não incendeiam no meio da rua "dão
prego", expondo os passageiros ao sol inclemente ou à chuva, e, ainda, a
assaltos e outras violências, além de provocarem atrasos em seus ambientes de
trabalho e as consequências pecuniárias de praxe, com descontos nos salários
dos trabalhadores.
Os donos de ônibus são privilegiados que em nada foram impactados
durante a pandemia, e os únicos beneficiados com isenção de ICMS do diesel pelo
governo do Pará. Ao invés de aumentarem a frota e ampliarem o horário de
circulação, reduziram tanto o número de veículos quanto as horas atendidas.
Ganham milhões às custas das vidas dos passageiros, dos motoristas e
cobradores, que são obrigados a fazer longos trajetos espremidos, com as
janelas fechadas porque chove, em ambiente irrespirável onde só pode prosperar
a contaminação pelo novo coronavírus e todo tipo de doença transmissível. Causa
espanto que a Semob só se ocupe de provar que os rodoviários descumpriram a
ordem judicial e em nenhum momento se pronuncie pelo descumprimento de
preceitos constitucionais, leis federais, estaduais e municipais pelos donos de
ônibus, que deveria fiscalizar.
É muito fácil verificar a real situação. Diante da alegada penúria
da Setransbel, se arca com tantos prejuízos, por que nenhum dono de ônibus quer
largar o nicho? Face ao sistemático descumprimento da Constituição e do
arcabouço legal pelos donos de ônibus, por que as prefeituras de Belém e
Ananindeua não abrem licitações internacionais para proporcionar a dignidade
que os cidadãos trabalhadores merecem, com tecnologia, higiene, rapidez e
adequação?
è
por Franssinete Florenzano
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