SESPA IGNORA NOVA ONDA DE COVID-19 NO PARÁ
Os hospitais particulares e conveniados estão com as emergências
lotadas e sem vagas de UTI suficientes para a demanda, de novo. A Unimed Belém
fez chamamento de médicos cooperados para enfrentar a segunda onda de Covid-19.
Enquanto isso, os hospitais de campanha foram desativados pelo Governo do
Estado e médicos e outros profissionais de saúde reclamam que não receberam
seus salários.
Ontem, em boletim epidemiológico divulgado às 18h, a Secretaria de
Saúde do Pará confirmou mais 1.111 casos de Covid-19 e 7 mortes, totalizando
até então 244.229 casos e 6.697 óbitos no Pará. Contudo, assegura que o estado
tem só 29.71% dos leitos clínicos e 58.4% das Unidades de Terapia Intensiva
ocupados. Sustenta, ainda, que o Pará realizou 384.620 testes rápidos e 53.643
testes em laboratório (PCR).
Mas os números não conferem com a realidade. Muita gente continua
morrendo sem atendimento, por alegada falta de leitos, tanto clínicos quanto de
UTI, justamente na rede pública estadual. A Sespa não esclarece que o total de
testes inclui os aplicados por planos de saúde e particulares, além dos
hospitais, institutos e universidades federais e prefeituras municipais. É
muito estranho que os hospitais particulares estejam abarrotados, sem médicos
suficientes, e a Sespa afirme que nos hospitais públicos haja disponibilidade.
A maioria absoluta da população é muito pobre e não tem como pagar
testes, depende dos que são oferecidos pelo SUS. A classe média paga pelos
exames. E continua a morrer gente de
Covid-19. Sem dúvida hospitais públicos e particulares tiveram aumento
alarmante de casos suspeitos de Covid-19 na última semana. De acordo com dados
da Secretaria Municipal de Saúde de Belém, houve crescimento de 112% entre os
dias 12 e 16 de outubro, confirmado por diretores de hospitais particulares e
pela respeitada Fundação Oswaldo Cruz. Entre os dias 5 e 9 de outubro foram
computados, em média, 40 casos suspeitos de Covid-19 nas unidades de saúde de
Belém. Uma semana depois, o índice dobrou e alcançou a média de 85 casos ao
dia.
Mas o governo estadual insiste em atribuir os casos e mortes a
outros tipos de vírus respiratórios sazonais, como o H1N1 e o rinovírus. Em
entrevista coletiva na sexta-feira passada (16), para espanto geral, o diretor
de Vigilância em Saúde da Sespa, Denilson Feitosa, garantiu que o número de
novos casos de Covid-19 no Pará caiu 62% entre setembro e outubro; que diminuiu
em 90% o número de casos e 74% nas mortes, e ainda afirmou que há uma "redução da média
móvel de casos e mortes" no Pará. Isto um dia após o Hospital
Universitário João de Barros Barreto, da UFPA, suspender visitas por conta da
elevada contaminação pelo novo coronavírus no Pará e aumento em 280% do número
de amostras em análise.
Os dados do HUJBB são endossados pelo Sindicato dos
Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Pará, cujo presidente, Breno Monteiro,
revelou que pelo menos cinco hospitais particulares de Belém precisaram reabrir
alas exclusivas para Covid-19. Andares inteiros estão sendo destinados a
atender pacientes sintomáticos. O número de pacientes, se comparado com agosto
e setembro, é pelo menos duas vezes maior. O pesquisador da Fiocruz, Diego
Ricardo, assim como vários médicos que trabalham na linha de frente e preferem
não se identificar, também confirmam que os hospitais em Belém estão mais cheios
e alertam as pessoas que têm confundido a flexibilização do isolamento com a
normalização da vida: o vírus continua circulando e deve ser evitada qualquer
aglomeração.
Profissionais de laboratórios particulares em Belém denunciam que
há indícios de manipulação dos dados, divulgados como de datas anteriores. Na
quinta-feira (15), um dos laboratórios havia notificado 16 casos positivos,
após exames feitos em domicílio, sem contar com coletas em hospitais. No
boletim, só divulgaram 13 infectados em Belém, somando notificações de 7 dias.
Os funcionários que trabalham diretamente com a testagem e notificação dos
casos de Covid-19 relatam também que o fluxo de amostras aumentou, em média,
166,6% nas últimas três semanas.
O fato é que a campanha política está a todo vapor, com
aglomerações em todo o Pará, shows reunindo multidões, baladas, praias
superlotadas, festas de aniversário e de casamento, como se tudo estivesse às
mil maravilhas. Além dos ônibus superlotados, lotéricas e bancos, a que são
submetidos os trabalhadores de baixa renda. Sem falar nas escolas, que vão
virar matadouros com a obrigatoriedade das aulas presenciais. E o jogo de
empurra quanto às responsabilidades é diário. Ninguém assume. Enquanto isso, os
doentes sofrem e vidas são irremediavelmente perdidas. Cadê o MPF e o MPPA para
dar um basta a tal descalabro?
Fonte: Franssinete Florenzano, em
uruatapera.blogspot.com.br

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