ARTIGO | O NOVO NOVO
Não estou lembrada, em meus anos de vida, de ter aprendido tanta
coisa em tão pouco tempo. Em minha memória não surge nenhum indício de ter me
lançado a tantos desafios, privações e com toda a certeza, galgado tantos
degraus e vivenciado situações de superação.
De um dia para o outro, a rotina de cada um de nós, professores,
mudou drasticamente. Toda aquela movimentação do mundo da educação, de repente,
ficou resumida ao nosso espaço doméstico. E dali, do cenário improvisado, com
os requintes da decoração caseira e sujeitos aos acontecimentos da rotina da
casa é que as aulas e o trabalho do professor se desenharam, ganharam forma e
conteúdo, chegando na casa de milhares de pessoas.
Apesar de todos os aplicativos, programas e eteceteras que
permitiam a comunicação, as aulas à distância, ainda, pela falta da
necessidade, não eram de domínio do corpo docente brasileiro (e talvez do
mundo, arrisco dizer). Fomos dormir analógicos, com o giz e apagador na mão, e
acordamos digitais, gravando videoaulas. Querendo ou não, era o que tínhamos
para o momento... Google Meet, Microsoft Teams, Streamyard, Hangout, chroma key
e muitas outras ferramentas que antes eram apenas um desconhecido ícone em
nossa barra de possíveis tarefas se tornaram nossos melhores amigos de todos os
dias. Da noite para o dia, tivemos que nos reinventar para não deixar de
atender a nossos alunos. Caímos de paraquedas nessa sopa de tecnologia. A mesa
de trabalho virou cenário, o celular um importante equipamento de gravação e
edição de vídeo e nós, professores, atores principais da grande novela da
educação.
Trocamos dicas e ideias entre nós, procurando achar a melhor
alternativa nesse período que teve data para começar e não tem ainda data para
acabar. Nossas vulnerabilidades fortaleceram os laços de equipe. Também tivemos
que deixar de lado o abraço para encontrar nossos alunos e colegas apenas
virtualmente.
As salas de nossas casas viraram estúdios de produção, onde somos
sempre protagonistas da história, com direito, de vez em quando, a participações
especiais de nossos filhos, cônjuges e até do cachorro ou do gato, que vez ou
outra roubavam a cena e a atenção dos alunos. Essas situações trouxeram leveza
e humanizaram esse momento tão peculiar. Por inúmeras vezes foram o foco do
atento público pela afetividade que estava contida nas entrelinhas da cena
principal. O professor foi visto como ser humano – mais mensagens nas
entrelinhas.
Então, o que aprendemos com essa vivência do isolamento?
Provoco a reflexão para esse grande e importante momento de
aprendermos a ler mais do que palavras e textos. Devemos desenvolver a
sensibilidade da leitura de mundo, analisando as situações que a nós se
apresentam, as possibilidades. Repensar o velho que deve ser deixado para trás,
sem dó, e a oportunidade da experimentação do novo que está batendo na nossa
porta. É um momento de pausa. De ralento. É a trilha para o novo eu, o novo
nós, o novo mundo, o novo novo.
Autora: Ana Zattar é professora do curso
de Educação Física – Área de Linguagens Cultural e Corporal do Centro
Universitário Internacional Uninter
Nenhum comentário:
Postar um comentário