COM CASOS CRESCENTES DE COVID-19, MPPA RECOMENDA LOCKDOWN PROGRESSIVO EM PORTO TROMBETAS, MUNICÍPIO DE ORIXIMINÁ-PA
Porto Trombetas, município de Oriximiná-PA |
Há necessidade de
diminuir a contaminação comunitária no distrito e nas comunidades vizinhas.
05/06/2020 15h10
A promotoria de Justiça
de Oriximiná, no oeste do Pará, expediu Recomendação para que sejam adotadas
medidas de lockdown progressivo para minimizar a contaminação comunitária pelo
novo coronavírus no distrito de Porto Trombetas e comunidades vizinhas, em
Oriximiná, oeste do Pará. Nesta quinta-feira (4), a promotoria reuniu os
destinatários da recomendação, representantes das comunidades e outras
entidades para tratar das medidas recomendadas e debater sugestões.
A Recomendação da
promotora de Justiça Ione Nakamura, que responde pela promotoria de Oriximiná,
foi encaminhada ao município e à Mineração Rio do Norte (MRN). Porto Trombetas
é o núcleo urbano implantado pela empresa, com cerca de 7 mil habitantes, e faz
parte do Município de Oriximiná. O MPPA considera que as medidas de proteção da
MRN estão diretamente voltadas aos trabalhadores, prestadores de serviços e
cooperados, o que limita o número de pessoas atendidas.
A atividade de mineração
foi considerada essencial pelo Governo Federal, porém, a vinda dos funcionários
para o trabalho tornou ascendente o número de casos positivados de Covid-19 no
distrito. A circulação dos funcionários, terceirizados e cooperados, nas áreas
públicas em contato com familiares e com as comunidades vizinhas, são vetores
de transporte do vírus, aumentando o risco de contaminação na região de
Trombetas.
Até o dia 2 de junho
eram 76 casos confirmados em Porto Trombetas, e o total de 274 em Oriximiná, que
está com o sistema de saúde em colapso e destina pacientes graves para
Santarém. Os índices de isolamento social são baixos, e em 1º de junho
registrou apenas 39,4%, conforme dados da Secretaria de Estado de Segurança
Pública e Defesa Social (Segup).
O município de Oriximiná
possui comunidades tradicionais, sendo 37 quilombolas, com cerca de 15 mil
habitantes. Já há liminar em Ação judicial do MPPA, que determinou por 60 dias
a suspensão do trânsito pelos rios, lagos e estradas que cortam as comunidades
quilombolas do Trombetas, Eretêcuru, Água Fria Cuminã, Ariramba, Boa Vista
Trombetas, Alto Trombetas I, Alto Trombetas II e Cachoeira Porteira.
Recomendação
A promotoria recomenda
ao prefeito de Oriximiná, e à Mineração Rio do Norte que avaliem os dados epidemiológicos
do município (capacidade instalada de atendimento médico em Porto Trombetas e
índice de isolamento social) e se estes forem insatisfatórios, que seja
determinada a redução do horário de funcionamento das atividades comerciais no
Distrito, para o período de 10h às 15h, inicialmente por sete dias, além da
redução de venda de bebidas alcoólicas não essenciais a alimentação, para
reduzir aglomerações e grande circulação de pessoas.
Recomenda ainda que
avalie a possibilidade de decretação de lockdown em Porto Trombetas, caso se
constate que, mesmo com a redução do horário do comércio, haja aumento de casos
de contaminados e de óbitos, devendo neste caso, ser decretado por no mínimo 15
dias, nos quais deverão funcionar apenas os serviços essenciais.
Nesse período devem ser
observadas todas as medidas sanitárias para acesso aos serviços essenciais.
Deve ainda verificar se funcionários de atividades essenciais que moram nas
comunidades quilombolas e ribeirinhas podem ficar em alojamentos, ou ter redução
na jornada de trabalho, ou mesmo férias. E limitar a venda de bebidas
alcoólicas, além de adotar outras medidas restritivas de circulação e acesso a
Porto Trombetas.
Também recomenda que,
sendo decretado lockdown, sigam as regras de acordo com o Decreto Estadual
609/2020, que prevê as restrições para circulação de pessoas e outras medidas.
De acordo com a
Recomendação, a partir das orientações dos órgãos de saúde, deve ser reforçada
e articulada a fiscalização para a efetivação dos Decretos Estaduais e
Municipais, com apoio dos órgãos de segurança pública e vigilância sanitária.
Em Porto Trombetas devem ser feitas ações educativas para reafirmar aos
cidadãos a necessidade de evitar reuniões e aglomerações de pessoas.
Os moradores,
empresários, funcionários e demais cidadãos devem ser advertidos que poderão
responder por crime contra a saúde pública, de acordo com o previsto na
legislação brasileira. Os destinatários devem solicitar à imprensa para que
promova ampla divulgação das medidas adotadas.
Reunião
Na quinta-feira (4), a
promotora de Justiça Ione Nakamura reuniu por videoconferência com integrantes
do Comitê de Crise de Oriximiná, Vigilância Sanitária, Polícia Militar,
Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos (ARQMO), Universidade
Federal Fluminense, ICMBio e da Mineração Rio do Norte (MRN). O objetivo foi
promover conversa em conjunto com o poder público, MRN e instituições da
Sociedade Civil para buscar soluções quanto ao controle do aumento de casos em
Porto Trombetas.
A promotoria informou
que enviou por e-mail a Recomendação nº 14/2020 a todos os participantes,
visando a implantação de lockdown progressivo, inicialmente em Porto Trombetas
e, que, em breve, pretende propor estender para o todo o município de
Oriximiná. Esclareceu que a intenção é avaliar se a redução de horário durante
sete dias terá algum efeito na diminuição de casos para, caso contrário, adotar
medidas mais severas.
Foi questionado à MRN
sobre a “feirinha”, local onde as pessoas chegam ao distrito e há algumas
barracas e agências bancárias, além de venda de bebidas alcoólicas. Foi
informado que foram feitos acordos para não sejam vendidas bebidas geladas no
local, mas apenas em estado natural para que não gere aglomeração. A promotoria
solicitou que seja feito a sanitização diária na feirinha e adoção de um espaço
de desinfecção para entrada ou saída para as comunidades e sede do município.
Um dos problemas
levantados foi a necessidade de estratégia quanto a vinda dos moradores das
comunidades para receber os auxílios e benefícios do governo, pois é um dos
motivos de aglomeração é a ida aos bancos e lotéricas, uma vez que as medidas
de restrição não tem surtido o resultado.
Como os participantes
manifestaram falas divergentes em relação a restrição de horário, a promotoria
encaminhou para que seja solicitado estudo para aferir a viabilidade técnica da
medida, uma vez que, caso não seja viável, as demais medidas restritivas
previstas na recomendação podem ser implementadas e adaptadas.
O representante da MRN
informou que pretendem cumprir o recomendado. O secretário municipal de
Segurança Pública informou que o estudo já está sendo finalizado e incluirá
dados da sede e do distrito, com a movimentação volumétrica da população de 25
de maio a 2 de junho.
O município informou que
irá responder sobre a adoção das medidas mais severas após receber o estudo da
secretaria, e que precisa dos dados de contaminação, testagem, isolamento
social, curva de contágio, plano de contingência e medidas que já estão sendo
adotadas pela MRN na vila para verificar a possibilidade de edição de um novo
decreto com medidas mais severas. Solicitou extensão do prazo para a resposta
para no mínimo 72h.
Em relação às mediadas
para restrição de vendas de bebidas alcóolicas, foi informado pela MRN que
apresentarão medidas para que não gere aglomeração, na área do distrito ou nas
comunidades. A empresa comprometeu-se ainda na distribuição de máscaras para
todos os membros das comunidades, utilizando mão de obra da própria comunidade.
No próximo dia 9 de
junho está marcada nova reunião, prazo em que devem ser dadas as respostas
sobre quais medidas serão tomadas pelo município e pela empresa.
Fonte/Foto: G1 Santarém – PA/Reprodução –
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