POLÍTICA | MORO ANUNCIA DEMISSÃO E ACUSA BOLSONARO DE INTERFERIR NA PF PARA TER ACESSO A INFORMAÇÕES SIGILOSAS
24 de abril de 2020 | 11h45 - Para
Moro, uma troca no comando da Polícia Federal revelaria uma quebra do
compromisso fechado com Bolsonaro. "Estaria claro que haveria
interferência política na PF", frisou.
Ao anunciar a saída do cargo, o ministro da
Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, acusou nesta sexta-feira (24) o
presidente Jair Bolsonaro de tentar interferir politicamente no comando da
Polícia Federal para obter acesso a informações sigilosas e relatórios de
inteligência. “O presidente me quer fora do cargo”, disse Moro, ao deixar claro
que a saída foi motivada por decisão de Bolsonaro.
“O presidente me disse que queria ter uma
pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse colher informações, relatórios
de inteligência. A interferência política pode levar a relações impróprias
entre o diretor da PF e o presidente da República. Não posso concordar. Não
tenho como continuar sem condições de trabalho e sem preservar autonomia da
PF”, disse Moro, ao comentar as pressões de Bolsonaro para a troca no comando
da PF. “O presidente me quer fora do cargo.”
De acordo com Moro, o presidente relatou em
conversas preocupação com o andamento de inquéritos que tramitam no Supremo
Tribunal Federal (STF).
Moro falou com a imprensa após Bolsonaro
formalizar o desligamento de Maurício Valeixo do cargo de diretor-geral da
Polícia Federal – o ministro frisou que não assinou a exoneração do colega. O
ex-juiz federal da Lava Jato lembrou que, em novembro de 2018, logo após as
eleições presidenciais, Jair Bolsonaro lhe disse que ele teria “carta branca”
para comandar a pasta, o que acabou não ocorrendo. “Ele (Moro) vai abrir mão da
carreira dele. É um soldado que está indo à guerra sem medo de morrer”, disse o
presidente na ocasião.
De acordo com Moro, a partir do segundo
semestre do ano passado, “passou a haver uma insistência do presidente com a
troca do comando da Polícia Federal”.
“O presidente passou a insistir também na
troca do diretor-geral. Eu disse ‘Não tenho nenhum problema em trocar o
diretor-geral, mas eu preciso de uma causa’. (…) Estaria claro que haveria
interferência política na PF”. O problema é: por que trocar? Por que alguém
entra? As investigações têm de ser preservadas.”
Ao falar do governo Dilma Rousseff (PT), o
ministro observou que “é certo que o governo da época tinha muitos defeitos,
mas foi fundamental a autonomia da PF”. “Foi garantida a autonomia da Polícia
Federal durante os trabalhos. O governo da época tinha inúmeros defeitos,
crimes de corrupção, mas foi fundamental a manutenção da autonomia da PF para
que fosse realizado o trabalho. Isso permitiu que os resultados fossem
alcançados.”
Desde que abandonou 22 anos de magistratura
para entrar no governo, Sérgio Moro tem acumulado uma série de derrotas. O pacote
anticrime formulado por ele, por exemplo, foi desidratado pelo Congresso.
Recentemente, Bolsonaro também tentou esvaziar dividir o Ministério da Justiça,
retirando de Moro a parte reservada ao combate à criminalidade, justamente uma
das áreas que apresentava melhor resultado até aqui. O plano do presidente era
entregar a área que cuida da Polícia Federal para o ex-deputado Alberto
Fraga (DEM), amigo pessoal de Bolsonaro.
Segundo Moro, ao aceitar o convite para
comandar a Justiça, nunca houve a condição para que ele depois assumisse uma
cadeira no Supremo. “O compromisso (ao assumir ministério) era aprofundar
combate à corrupção”, afirmou.
“Busquei ao máximo evitar que isso (a minha
saída) acontecesse, mas foi inevitável”, disse Moro. “Não foi por minha opção.”
SUCESSÃO.
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), já articula para
emplacar o secretário de Segurança do DF, Anderson Torres, no lugar de Moro.
Crítico do ex-juiz, Ibaneis disse ao Estado que Torres, que é amigo de
Bolsonaro, seria um ministro “100 vezes melhor” que o ex-magistrado.
Fonte/Foto:
Rafael Moraes Moura, Julia Lindner e Paulo Roberto Netto/Dida Sampaio - Estadão
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