INSTITUTO MAMIRAUÁ TEM PLATAFORMA QUE ATUALIZA DADOS DA PANDEMIA EM TEMPO REAL PARA TODOS OS MUNICÍPIOS DO AMAZONAS
O empreendimento, que tem por objetivo ajudar na tomada de
decisões, tem custo zero e parceria com empresas de software e base de dados
A velocidade e a precisão de informações são armas essenciais no
enfrentamento ao novo coronavírus. Principalmente no que diz respeito aos
números e à evolução da doença em cada região. E o estado do Amazonas tem agora
como consultar diariamente todas as novidades da pandemia por meio de um painel
interativo do Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência,
Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
A ferramenta, que pode ser acessada pelo endereço
mamiraua.org.br/covid-amazonas, mostra números diários de cada município, de
casos confirmados, casos por cada 100 mil habitantes, para demonstrar a
incidência, óbitos e taxa de letalidade. Além disso, o mapa indica em destaque
os números gerais do estado.
O Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá é voltado para
estratégias e políticas públicas de conservação e uso sustentável da
biodiversidade da Amazônia, mas como o estado é um dos que apresenta maior
letalidade neste momento de pandemia, a organização social conseguiu parcerias
para se juntar ao esforço de enfrentamento do novo coronavírus.
Segundo o diretor técnico-científico do Instituto, Emiliano
Ramalho, a iniciativa é essencial para que estados e municípios consigam
formular ou adaptar estratégias de combate à Covid-19 baseados em dados
atualizados em tempo real e concentrados em apenas um lugar.
“Não trabalhamos especificamente com epidemias, no máximo com
zoonoses, mas vimos que precisava fazer alguma coisa que ajudasse a sociedade
brasileira no monitoramento do vírus, na compreensão dessa doença, que ajudasse
a entender o que está acontecendo, como está sendo essa disseminação da
Covid-19 no interior do estado”, ressaltou Ramalho. “Até então não havia uma
plataforma específica para o estado que as pessoas pudessem acessar e ter
informações fáceis e uma visão regionalizada da distribuição da doença no
Amazonas.”
Sem custos
O desenvolvimento da plataforma de monitoramento de dados sobre a
Covid-19 só foi possível porque a empresa ESRI, que fabrica o software de
informação geográfica usado pelo instituto para fazer análises espaciais cedeu
temporariamente, de forma gratuita, o acesso a seu programa.
“Quando surgiu a ideia de fazer essa plataforma, aproveitamos que
a ESRI, empresa que desenvolve softwares, disponibilizou uma template para
visualização de dados e adaptamos essa plataforma ao estado”, explica Ramalho.
“Não é um software livre, mas ele foi disponibilizado para ser usado durante a
pandemia porque daria agilidade à divulgação das informações na plataforma. E
como tudo foi desenvolvido junto com o pessoal do Instituto Mamirauá, toda essa
operação aconteceu sem custos”.
Banco de dados
Outra parceria fundamental para a criação da plataforma do
Instituto Mamirauá foi atada com a Brasil.IO, empresa criada para a melhor
divulgação e acesso às informações públicas. É ela quem fornece os dados
diários para a alimentação da plataforma.
Desde que foi criado, há dois anos, o Brasil.IO é feito de forma
colaborativa, ou seja, diversos programadores e profissionais de várias áreas
desenvolvem um sistema justamente para dar melhor acesso e visibilidade a esses
dados, como explica o empresário e programador Álvaro Justen.
“O interesse do Brasil.IO é disponibilizar dados de interesse
público de maneira mais acessível para a população ou ainda jornalistas,
cientistas sociais, pesquisadores, advogados e profissionais de diversas outras
áreas que queiram ter acesso a dados disponibilizados pelo governo. Muitas
vezes esses dados não estão disponíveis em formatos que facilitam a análise,
impossibilitando download, produção de gráficos, entre outros”, pontua.
No caso da Covid-19, a Brasil.IO precisou criar uma solução para
compilar os dados de todas as secretarias de saúde, que não são divulgados de
forma estruturada, o que dificulta a automação do processo. Foram recrutados 40
profissionais, entre jornalistas, programadores e designers, que entendem a importância
da tarefa, para atualizar os dados diariamente, com histórico por município.
“Cada uma dessas pessoas é responsável por um ou mais estados,
coleta manualmente os boletins desses estados e insere esses dados na
plataforma. São pessoas engajadas com essa história dos dados abertos e com a
importância de termos esses dados disponíveis o quanto antes”, explica Justen.
Para o programador, a plataforma do Instituto Mamirauá é
fundamental para uma resposta rápida na região, uma vez que os municípios brasileiros
são heterogêneos e demandar ações diferenciadas. “É muito diferente uma pessoa
que foi diagnosticada com Covid-19 em São Paulo, na capital, com uma que foi
infectada no interior do Amazonas. São duas situações bem distintas e que
precisam de ações distintas dos governantes dessas localidades. Por isso é
muito importante que a gente tenha os dados a nível municipal, se possível até
nível de bairro, o quanto antes para que os governantes possam tomar essas
ações”, aponta.
Com os dados todos reunidos em uma só plataforma e com acesso
facilitado à população, tanto o instituto quanto a Brasil.IO acreditam que as
pessoas podem se informar melhor sobre o que está acontecendo em seu município
e entender a gravidade e os riscos da pandemia. Principalmente por conta da
interatividade oferecida.
“O painel é bastante interativo”, explica o diretor
técnico-científico do Instituto. “Você pode ampliar ou diminuir os mapas, é
possível maximizá-lo e colocar em uma tela para você ficar monitorando
diariamente, você pode clicar nos municípios que tem interesse e saber
informações específicas daquele município, fazer zoom em uma área específica,
enfim, é uma plataforma bem interativa.”
Índios e ribeirinhos
Além do monitoramento de dados, o Instituto Mamirauá tem trabalhado
desde o início da pandemia para combater o avanço da Covid-19 na Amazônia
Central e impedir que ela chegue às comunidades ribeirinhas da região.
Diariamente, o instituto envia aos ribeirinhos e líderes comunitários
atualizações e informações sobre medidas preventivas para impedir a
contaminação, além de produzir dois programas de rádio sobre o coronavírus
semanalmente.
Ramalho explica que os índios estão entre as maiores preocupações.
“O público alvo dessa plataforma é a população do estado do Amazonas,
inicialmente, mas também todas as pessoas que têm interesse em monitorar o que
está acontecendo no estado. Isso envolve também as populações indígenas e
outras populações tradicionais que vivem na beira dos rios”, destaca. “A gente
pensa, muitas vezes, que são populações isoladas, mas elas têm muito contato
com as cidades e são bastante vulneráveis. E essas pessoas não têm
disponibilidade de infraestrutura adequada para que possam ser tratadas em caso
de infecção, então a plataforma foi pensada para ajudar também essas
comunidades.”
Próximo passo
A plataforma já tem ajudado a diversos setores no enfrentamento ao
novo coronavírus, mas o Instituto Mamirauá sabe que quanto mais precisos forem
os números, melhores são as ações. Com base nos dados que já estão sendo
recolhidos, a organização social pensa agora em criar também uma base de dados
dentro dos municípios, o que vai possibilitar a divulgação de informações por
bairros.
Segundo Ramalho, o novo passo já está sendo desenvolvido junto à
prefeitura de Tefé e o objetivo é que outras praças possam fazer o mesmo,
utilizando a plataforma de maneira ainda mais eficaz.
“Neste caso teremos informações detalhadas por base. Hoje o painel
mostra as informações por município, agora, estamos desenvolvendo junto à prefeitura
de Tefé um banco de dados que vai alimentar a plataforma com dados detalhados
por bairro da cidade. Esperamos disponibilizar isso já nas próximas semanas”,
comenta. “Estaremos disponibilizando essa oportunidade para que as secretarias
municipais de todo estado possam entrar e também preencher esse banco de dados.
Assim elas vão ter dados de casos suspeitos e de casos confirmados por bairro.
Serão informações ainda mais detalhadas e que poderão ajudar melhor no
planejamento.”
Outras plataformas
Outros estados brasileiros também montaram suas sedes de
monitoramento e se aproveitaram da tecnologia para levantar as informações de
forma mais ágil. Antes mesmo de a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarar a
pandemia de Covid-19, no dia 11 de março, o Governo do Distrito Federal já
inaugurava um Centro de Monitoramento. O sistema informatizado foi montado no
Palácio do Buriti para ser alimentado em tempo real, recebendo dados de todos
os hospitais, públicos e particulares.
Além de informações mundiais e nacionais, o painel detalha
informações locais de cinco em cinco minutos. Segundo Paulo Medeiro,
subsecretário de Inovação da Casa Civil do DF e responsável pela Sala de
Monitoramento, a compilação dos dados vem ajudando, e muito, a dar celeridade
ao plano de ação na capital.
“Os dados do Brasil vêm do Ministério da Saúde. Os dados
internacionais a gente coleta da Organização Mundial de Saúde. E os do Distrito
Federal vêm da Secretaria de Saúde e, também, dos hospitais públicos e
privados, dos laboratórios públicos e privados, que enviam os resultados que
são compilados o mais rápido possível. Essa é uma doença que, quanto antes a
gente tomar as decisões, a mitigação do risco fica melhor, ou seja, a gente
reduz os casos em prazo curto.”
Em Alagoas, o governo do estado criou a plataforma
alagoascontraocoronavirus.al.gov.br. Lá, qualquer pessoa pode acessar de forma
rápida as principais informações da pandemia no estado, como casos confirmados
e suspeitos, óbitos por causa da Covid-19 e pessoas recuperadas.
Além do boletim epidemiológico, o portal oferece de forma clara
todo o procedimento que a pessoa deve ter se apresentar os sintomas da doença
(febre persistente, tosse seca e dificuldade para respirar). Há, inclusive, um
campo de pesquisa para localizar a unidade de saúde mais próxima em cada
município. O número de leitos exclusivos para Covid-19 também é mostrado em um
painel, que informa a porcentagem de ocupação, com atualização diária.
Políticas públicas
As ações dos órgãos públicos devem ser rápidas e coordenadas em
tempos de pandemia. E o maior combustível para se conseguir essa velocidade são
informações em tempo real. Segundo João Thiago Stilben, especialista em
Avaliação de Políticas Públicas, o trabalho desenvolvido pelo portal Brasil.IO
é fundamental para ajudar no enfrentamento ao novo coronavírus.
Stilben explica que o Brasil é rico em dinheiro e relativamente
desenvolvido, mas encontra certos problemas na forma como são desenvolvidas as
políticas públicas, que geralmente ocorrem em seis fases: avaliação de
determinado assunto, criação da agenda, formulação dessa política, tomadas de
decisão, implementação de fato dessa política e uma avaliação posterior para
saber como essa política foi feita e se deu resultado. Segundo o especialista,
em todas essas fases é fundamental que tenhamos bases sólidas, um ponto de
partida, que geralmente é uma base de dados e índices.
“Em qualquer estágio desse ciclo se você tem informações difíceis
de serem encontradas, ou dados equivocados, é difícil não comprometer o desenvolvimento
de políticas. Principalmente em um momento como o de agora, de ações que devem
ser feitas rapidamente, atitudes rápidas porque a cada dia você perde muitas
vidas, e vai aumentando exponencialmente. As ações acabam comprometidas se você
não tem dados consistentes e que conversam entre si, do regional para o
nacional”, explica.
João Thiago Stilben ressalta que na avaliação de muitos programas
grandes, como o Minha Casa, Minha Vida, são encontradas muitas incongruências,
ao contrário do que vem sendo feito nesta pandemia. “Esse portal do Brasil.IO,
ao que parece, ele está unificando como essas informações estão dispostas e até
mesmo classificando-as. Nessa pandemia do coronavírus, o governo precisa dar
respostas rápidas, a nível macro, e quando você tem um portal bem estruturado,
com informação que é transparente, fidedigna e trabalhada corretamente você não
só cria vários insumos importantes para as ações governamentais e também para a
preposição de leis, como também para a própria população, ela serve para
municiar a fiscalização”, aponta. “O Brasil precisa de bons projetos. Não
adianta você ter muitas necessidades e a boa vontade se você não tem projetos
que são exequíveis, eficazes e eficientes.”
Fonte/Foto: Luciano Marques - Agência do Rádio
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