A SAGA DE DOM PEDRO CASALDÁLIGA



Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia, aos 91 anos, está com a saúde muito abalada. Acometido pelo Mal de Parkinson desde a década de 1980, nos últimos anos ele ficou restrito a cadeira de rodas e quase não consegue nem falar, está muito debilitado.
Nascido na Catalunha, Espanha, no dia 16 de fevereiro de 1928, fugiu do franquismo e chegou ao Brasil em 1968, no auge da ditadura militar. O papa Paulo VI o nomeou em 1971 como primeiro bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia, lugar batizado por Dom Pedro como ‘Vale dos Esquecidos’ devido à situação de abandono da gente da região pelos governos estadual e federal. Sua atuação corajosa, denunciando o descaso do governo para com as populações indígenas, o trabalho escravo e a falta de segurança e de condições dos ribeirinhos lhe valeu ameaças de morte e de expulsão do país.
São Félix do Araguaia era uma terra sem lei, marcada pela violência e pelos conflitos entre posseiros e latifundiários. Ao lado de Dom Tomás Balduíno e outros, Casaldáliga ajudou a fundar o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), na década de 1970. Ele lançou a carta pastoral Uma Igreja da Amazônia em Conflito com o Latifúndio e a Marginalização Social, documento que marcou a Igreja pela firmeza das falas e pelas denúncias dos casos de violação de direitos dos posseiros, dos índios e dos trabalhadores que vinham de fora como peões para as fazendas e que eram tratados em regime de escravidão.  Por conta disso ganhou a alcunha "O bispo do povo" de seus amigos e "O bispo vermelho" de seus desafetos. Polêmico, uns dizem que não vai para o céu. Para outros, é um poeta, uma lenda.
O Vaticano o convocou em 1988 para que desse explicações por tanta proximidade da teologia da libertação e para que visitasse o Papa João Paulo II, como deveria ter feito uma vez a cada cinco anos, segundo o Código do Direito Canônico. Apresentou-se em camisa, sem anel e com um colar indígena no pescoço. Disse ao Papa: "Estou disposto a dar minha vida por [São] Pedro, mas pelo Vaticano é outra coisa".  Não levou reprimenda. Mas quando completou 75 anos, idade a partir da qual um bispo pode se aposentar, o Vaticano o substituiu de imediato. Em janeiro de 2005, quando o novo bispo foi anunciado, recebeu ordens para abandonar a diocese. Ele se negou e ficou trabalhando, com seu substituto e depois com o seguinte, até hoje.
Na foto, há um ano, Dom Pedro Casaldáliga, o atual bispo de São Félix, Dom Adriano Ciocca, o diácono Zeca e sua esposa Rita de Cássia.

Fonte/Foto: Franssinete Florenzano

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