PARÁ | GOVERNADOR DEFENDE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA E REFORMA PREVIDENCIÁRIA COM ESTADOS E MUNICÍPIOS
O
governador do Pará, Helder Barbalho, foi o convidado, nesta segunda-feira (09),
do programa Capital e Mercado, da BandNews. Durante a entrevista ao jornalista
Marcello D'Angelo, o governador falou sobre diversos assuntos, destacando a
diversidade do Estado, o combate ao desmatamento, regularização fundiária,
segurança pública e reforma da Previdência.
O
programa, que sempre começa com "uma inspiração musical", segundo o
apresentador, desta vez foi aberto com o Hino do Pará. Marcello D'Angelo disse
que duas frases chamaram sua atenção no Hino: "Fecundadas ao sol do
Equador" e "Do Brasil, sentinela do Norte".
Helder
Barbalho explicou que "o nosso Hino é lindo e reporta à importância do
Estado, à localização do Pará, à grandeza, ao protagonismo da floresta, da
natureza, às suas riquezas minerais, e é um orgulho para todos nós".
A
entrevista começou com o questionamento sobre o desafio de governar o Pará. O
governador explicou que "o Estado do Pará tem 1.248.000,00 quilômetros
quadrados, um tamanho que soma Portugal, França e Espanha juntos. É do tamanho
da Colômbia, ou quase duas vezes o tamanho da França. Portanto, um estado com
dimensão continental e uma peculiaridade muito distinta, fruto da nossa
colonização. Temos uma ocupação demográfica em todas as regiões do Estado. Por
exemplo, o Estado do Amazonas, que em extensão territorial é maior que o Pará,
mas em face ao seu modelo de colonização, de desenvolvimento, hoje, da
população do Amazonas, 70% estão na Grande Manaus, fruto da Zona Franca. No caso
do Pará, é o inverso. Temos 25% da população na Região Metropolitana de Belém e
75% em todas as demais regiões do Estado, o que amplia ainda mais o desafio de
se fazer um governo presente em todas as regiões".
Vocações
- Sobre as vocações do Pará, o governador respondeu a Marcello D'Angelo que
"hoje temos duas grandes vocações consolidadas no Estado. A primeira é a
mineração, em que o Pará é a maior província de minério de ferro do Brasil.
Temos também a bauxita, sendo a maior província, níquel, cobre e manganês.
Portanto, uma diversidade no subsolo paraense extraordinária, o que faz da
mineração uma vocação estratégica para o Estado. A segunda é a atividade do
agronegócio, uma nova fronteira de produção".
Segundo
o governador, o Pará é o maior produtor de gado bubalino do Brasil, e
"somos o quinto rebanho, com 22 milhões de cabeças, de gado bovino".
O Pará ainda se destaca, frisou ele, como maior produtor de açaí e dendê.
"Temos, também, uma força muito interessante na atividade de pimenta, de
grãos, soja e milho, principalmente de soja, avançando com uma força
extraordinária, fazendo, inclusive, a boa competição da atividade do
agronegócio com a pecuária, principalmente vindo das fronteiras dos estados
vizinhos, como Mato Grosso, Tocantins e uma parte do Maranhão", disse
Helder Barbalho, enfatizando que, diante de sua extensão territorial e da
qualidade do clima e do solo, "eu não tenho nenhuma dúvida que, na próxima
década, o Pará estará entre os primeiros colocados na produção de grãos e na
produção de proteína".
Desmatamento
- Temas da atualidade, o desmatamento e os incêndios na Amazônia também fizeram
parte da entrevista. Estratégias para o enfrentamento do problema foram
discutidas no início do mês, em Belém, no encontro entre cinco ministros e os
nove governadores da Amazônia Legal. "É fundamental que nós estejamos
transmitindo que o Brasil e os estados da Amazônia Legal têm responsabilidade
com a floresta. Nós não podemos, de maneira nenhuma, permitir a mensagem de que
o Brasil não tem responsabilidade com o maior ativo de biodiversidade do
planeta, a maior floresta tropical, a maior pluralidade de biodiversidade
global. Nós precisamos, sempre, reafirmar isto, seja para consumo interno ou
externo", frisou o governador paraense.
Ele
complementou, argumentando "que nós temos que dividir essa estratégia em
dois campos: primeiro, sair da crise, que necessita de monitoramento,
fiscalização e combate efetivo aos pontos de queimadas, e as punições às
queimadas e ao desmatamento ilegais nas nossas regiões. Essas ações estão sendo
feitas. No âmbito estadual, pelas polícias Civil e Militar, pelo Corpo de
Bombeiros, agindo tanto na polícia judiciária, dar culpa a quem porventura
esteja cometendo o delito, como também dando o apoio, seja aos municípios ou ao
Exército brasileiro, para conter os focos de queimadas na nossa região. Passada
a crise, nós precisamos recuperar a imagem a nível global. Isto tem sido algo
que muito me preocupa. É fundamental que nós tenhamos valorizado o que eu tenho
chamado de diplomacia ambiental, para demonstrar claramente que a região
amazônica tem suas vocações, e estas vocações são absolutamente compatíveis com
a preservação da floresta".
Helder
Barbalho lembrou que o Pará tem hoje 22 milhões de cabeça de gado, e "24%
do nosso território desmatado. Portanto, transformado em pasto, em cultivo, em
áreas de plantio. Com 24% do nosso território, hoje a relação cabeça de
gado/hectare no Pará está em 0,9 cabeças por hectare. Nós não precisamos desmatar
nenhuma árvore para sairmos do quinto colocado em quantidade bovina para sermos
o primeiro do Brasil. Basta que nós tenhamos condição de mecanizar terra,
melhorar a terra, garantir uma maior produtividade, melhorar a genética, dar a
lógica não da ostensividade, mas da intensividade pecuária. Se nós sairmos de
0,9 cabeça de gado por hectare para 3, vamos sair de 22 milhões de cabeças e
chegar a 72 milhões, e seremos o maior rebanho bovino do Brasil. Isto é o nosso
desafio".
Ele
ressaltou que tem "colocado para o governo federal que nós temos que unir
esforços. Não é hora de jogar a bola para o outro, não é hora de apontar o
dedo, quem tem culpa e quem não tem. Primeiro, nós temos que constatar que isso
não é um problema deste ano; é um problema ano a ano, e que se nós não dermos
uma solução estruturada, ano que vem vamos voltar a viver essa crise. Por que
nós vamos voltar a viver essa crise? Porque isso faz parte da cultura da
região, e nós temos que mudar essa cultura. E só se muda a cultura dando
condições para que as pessoas possam fazer a travessia".
Regularização
fundiária - O governador aproveitou para citar medidas que considera
necessárias no combate ao desmatamento e aos incêndios ilegais. "Primeiro,
precisamos garantir a regularização fundiária, para que as pessoas possam ter
seu CPF na posse. Na hora que o cidadão tem o seu CPF na posse, ele sabe que se
cometer qualquer irregularidade será punido mediante as leis do Brasil. Aí,
para você dar segurança jurídica e regularização fundiária, o governo estadual
- e eu falo isso em nome dos nove governos -, e o federal precisam fazer uma
plotagem de quem é quem, e quem tem a propriedade".
Helder
Barbalho continuou a entrevista, ressaltando que "para você ter ideia da
fragilidade institucional das propriedades de terra no Pará, o Estado só é
detentor de 33,3% do seu território. O resto é de unidades federais ou de
responsabilidade do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade), Funai (Fundação Nacional do Índio), Fundação Palmares, Incra (Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária) ou do Programa Terra Legal. Nós
temos de reserva do Estado, lideradas pelo Ideflor (Instituto de
Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará), próximo a 17% do
território paraense. Se formos para o âmbito federal, se assemelha para
unidades de conservações federais, lembrando que nós temos unidades de
conservação ambiental e áreas de reservas indígenas, quilombolas, de reservas
extrativistas em geral e áreas de assentamentos. Nós temos 3.500 assentamentos
na Amazônia, rurais e extrativistas. Destes, 1.098 só no Estado do Pará. Somos
o Estado com o maior número de assentados em todo o Brasil. Portanto, com esta
realidade da titulação, nós garantiremos que o proprietário da terra, tendo
título, possa ir ao banco ter empréstimo, crédito. Ele melhora a terra dele, a
genética, compra equipamento, uma semente de melhor qualidade, prepara a terra
com melhor qualidade. Com isto, vamos ampliar a produtividade, e aí a principal
mudança cultural é mostrar para o produtor que ele pode produzir mais e melhor
sem precisar avançar sobre a floresta, lembrando que desde o Código Florestal
temos estabelecido percentuais de autorização de uso de terra".
Ainda
sobre a questão fundiária, o governador destacou que tem "alertado que,
além da titulação, da mecanização, do apoiamento, do crédito, da assistência
técnica para produzir mais e melhor, nós temos que chamar atenção para outra
questão que é fundamental. Hoje, dentro dos critérios legais, de cada cadastro
rural legal, do que está estabelecido em lei, temos um estoque de 23 milhões de
hectares que legalmente o proprietário pode desmatar para fazer pasto, para
fazer cultivo. Se nós não transformamos a preservação da floresta, a floresta
em pé, em um business, em um negócio, ele vai avançar sobre a floresta. Porque
ele parte do seguinte princípio: a lei permite que eu use 20% do meu território
para o desmatamento. Aí eu tenho 15% de pasto para a pecuária, 2% para a
agricultura e 3% que ainda estão preservados. E dos apenas 20% que pode usar da
terra, ele não vai avançar nesses 3%? Nós temos que ser objetivos. Daí eu tenho
que transformar isso em um negócio, onde ele vai ter o portfólio da atividade
rural dele, a pecuária, a agricultura e a floresta em pé".
O
governador frisou, ainda, sua defesa da estratégia de que "primeiro nós
precisamos oferecer oportunidades, através do manejo florestal legal, sem que a
atividade madeireira possa parecer na sua totalidade um ato de ilegalidade.
Você pode viabilizar que essa área de floresta seja para a produção de
cosmético e fármacos da nossa biodiversidade amazônica; pode garantir turismo
ecológico e, de forma mais pragmática, como negócio rentável, acho que temos
que trabalhar com uma linha de que temos de pagar pela floresta, um fundo em
que se estabeleça um valor, por exemplo, 100 dólares por hectare, por ano, e
ali ele vai ter uma rentabilidade de 100 dólares por hectare, por ano. Isso vai
entrar na receita da sua propriedade rural, porque ele está contribuindo com a
emissão de crédito de carbono. Isso vai dar retorno e rentabilidade. Agora,
para isso, o governo precisa estruturar essa operação como uma atividade, como
um ponto central estratégico de sustentabilidade. Se nós não fizermos isso,
vamos conviver com os números atuais de ampliação do desmatamento; vamos viver
um processo de desmatamento em áreas que são autorizadas - uma área
significativa de 23 milhões de hectares nos nove estados que compõem a Amazônia
Legal -, e ainda temos um último desafio: o poder do Estado de monitorar e
fiscalizar, para que o proprietário da reserva legal não avance sobre ela,
achando que o Estado não tem capacidade de fiscalizar".
Segurança
- Sobre as ações do Governo do Pará na área da segurança pública, Helder
Barbalho explicou os investimentos em "ações efetivas, que possam permitir
saturação de polícia por um lado, a presença de polícia. E nós temos feito isso
de maneira muito ativa. Mas também temos que ter a seguinte lógica e o seguinte
conceito: não se faz segurança sem polícia, mas não se faz segurança só com
polícia. Fazer segurança só com polícia tem prazo de validade".
Ele
disse ao entrevistador que, "no Pará, avançamos com as ações de segurança
pública e os resultados mostram, fazendo uma comparação dos oitos meses
iniciais de 2019, com o mesmo período de 2018, que reduzimos o número de
homicídios em 27%. A cidade de Ananindeua, por exemplo, onde eu fui prefeito,
no último mês teve uma redução de 75%. Belém, que é considerada uma das
capitais mais violentas, no mês de agosto reduziu em 56% o número de
homicídios. No acumulado, em todo o Estado, nesse mês de agosto, estamos com
37% na redução de homicídio".
Paralelamente
a essas ações de segurança, disse o governador, há o trabalho nos bairros
considerados mais violentos, "com estratégia, com ciência, com números.
Nós instituímos o que chamamos de Territórios pela Paz, que é a presença de
polícia e presença do Estado. Estamos investindo fortemente em ações de
cidadania, em educação, saúde, e também em microcrédito para as atividades econômicas,
em ações de melhoria habitacional. Vamos entrar, a partir de agora, com
infraestrutura nas vias dos bairros. Isso tudo traz empoderamento à comunidade
local".
Quando
questionado sobre a possível criação de uma polícia específica para temas da
Amazônia, o governador do Pará foi enfático: "Se nós conseguirmos integrar
as nossas forças e agir com estratégias conjuntas, compreendendo que uma força
se somasse à outra, acho que é um cenário que, por si só, dará resultado. O
fundamental é que haja decisão". No mesmo tema, ele disse ainda que,
"neste momento de crise, com a instituição de garantir a lei e a ordem,
com a presença das Forças Armadas, isto efetivamente tem trazido resultados.
Agora, é fundamental uma coparticipação no custeio dessas operações".
Fundo
Amazônia - Ao final da entrevista, que durou pouco mais de 40 minutos, Helder
Barbalho destacou a importância do Fundo Amazônia. "Eu tenho defendido que
os estados devem usar os recursos do Fundo Amazônia. O Brasil não pode abrir
mão de recurso. Nós estamos vivendo uma crise fiscal, em que os estados não
podem abrir mão de receita, e eu não parto dessa lógica de que receber recurso
de um agente internacional compromete a soberania. Primeiro, que ninguém se
submeteria a isso. O Pará tem três projetos financiados pelo Fundo Amazônia. Um
deles, inclusive, é para equipar o Corpo de Bombeiros, para que possa ter
estrutura para atuar. Nós estamos pleiteando recursos do Fundo Amazônia - ainda
existem 745 milhões em recursos disponíveis. Amanhã, inclusive, estarei com o
presidente (da Câmara dos Deputados) Rodrigo Maia, indo ao ministro Alexandre
de Moraes (do Supremo Tribunal Federal) para a consolidação dessa decisão que
irá disponibilizar recursos em diversas áreas, dentre elas para a Amazônia. Na
próxima sexta-feira estaremos, os governadores da Amazônia Legal, em reunião
nas embaixadas da França, Noruega, Reino Unido e da Alemanha, para sinalizar
que desejamos que haja fomentos internacionais, seja para o Fundo Amazônia,
seja para os projetos de propriedade e liderados no âmbito de cada unidade da
Federação".
Previdência
- Sobre as reformas que estão tramitando no Congresso Nacional, Helder Barbalho
declarou entender "que é fundamental que tenha a repercussão a reforma da
Previdência no âmbito dos estados e municípios. Seria um profundo equívoco o
Brasil ter um modelo federal e 27 modelos, um para cada unidade da Federação, e
mais de 5 mil modelos municipais. Isso seria um equívoco estrondoso. Acho que
um ambiente no Senado e na Câmara de amadurecimento desta agenda e,
principalmente, a sinalização por parte dos governadores que são favoráveis e
da Confederação Nacional dos Municípios dizendo ser favorável no âmbito
municipal, constrói um ambiente político adequado para que possamos, nesta PEC
(Proposta de Emenda à Constituição) paralela, fazer a aprovação e a inclusão de
estados e municípios, com a aplicação e a repercussão que permitirão, acima de
tudo, o equilíbrio para garantir com que a aposentadoria seja paga para as
pessoas que contribuíram. Este tem que ser o olhar".
Segundo
o governador, o Pará tem um déficit previdenciário de R$ 1,4 bilhão por ano.
Ele frisou que "isto representa mais do que o valor de investimento do
Estado no ano passado. Portanto, se gastou mais para cobrir o déficit da
Previdência, do que se investiu em escola, estrada, hospital, posto de saúde. E
a cada ano vai se ampliar. Primeiro, há uma estrutura do Estado em que as
pessoas estão se aposentando de forma muito nova e tendo uma longevidade cada
vez maior. Portanto, daqui a pouco, o servidor vai ter mais tempo de
inatividade e recebendo".
Para
o governador do Pará, não há outro caminho: "Ou reforma ou o Estado
quebra. E isso vai sobrar para quem? Vai sobrar para ativos, inativos e,
principalmente, para o cliente, para o cidadão que paga imposto. E ele quer que
seu imposto seja revertido em serviços. Não é correto para o cidadão que paga
imposto arcar com o déficit previdenciário, e quando ele vai ao posto de saúde,
ao hospital, enfrenta uma fila. O Estado não se endireita, não se organiza, e
aí para solucionar vem essa proposta equivocada de criar uma nova CMPF (imposto
sobre movimentação financeira), criar um novo imposto para que o cidadão, mais
uma vez, tenha que dar a sua cota de sacrifício, como se já não fosse
sacrifício a palavra que, seguramente, aflige, e é a síntese do que os
brasileiros, todos os dias, fazem com a carga tributária brasileira".
Fonte: Agência Pará – Secretaria de Comunicação – Governo do Pará
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