ORGULHO: ESTUDANTE PARAENSE QUE CRIOU PESQUISA COM TIJOLOS DE AÇAÍ JÁ GANHOU MAIS DE 15 PRÊMIOS
O Pará é o produtor de
aproximadamente 90% de todo o açaí consumido no mundo, mas o descarte dos
rejeitos da fruta, principalmente o caroço, se tornou um problema ambiental no
Estado. Pensando nisso, a jovem Francielly Rodrigues Barbosa, de 18 anos,
estudante da cidade de Moju, resolveu criar materiais para construção civil a
partir dos restos do açaí, e o projeto já rendeu mais de 15 prêmios à paraense.
Em entrevista à revista
Galileu, a estudante, que está no terceiro ano do ensino médio da Escola
Estadual Ernestina Pereira Maia, contou que a pesquisa começou de problemas
habitacionais na cidade de Moju.
Segundo Francielly, ela
descobriu que muitas residências foram construídas em terrenos frequentemente
usados como local de descarte de lixo e, por isso, a decomposição acabou
afetando as estruturas das residências, além de gerar um problema enorme de
odor ruim em alguns bairros.
"Comecei a pensar
qual material de baixo custo e que não agride o meio ambiente eu poderia
aproveitar para fazer a fundação de forma segura", relatou a estudante.
"Não tinha como desenvolver algo que custasse muito dinheiro”, ponderou
Francielly.
Após pesquisas, ela
descobriu uma importante substância no caroço do açaí, chamado lignina, que
poderia ser a solução procurada pela jovem. “O caroço possui uma substância chamada
lignina, que impede o ataque de fungos, demorando a decomposição. Isso causa
mal cheiro, chorume e a liberação de gás metano”, diz a estudante.
TIJOLOS DE AÇAÍ
Para criar o tijolo de
açaí, ela convidou jovens de Moju para ajudá-la. Eles colocaram os caroços para
secar, depois carbonizaram e os trituraram em um pilão. A massa resultante foi
misturada com argila e carvão para chegar ao produto final.
"Foi um trabalho
muito divertido", diz a jovem. "Brincar também é ciência. Foi legal
para mostrar que a ciência inclui todo mundo, basta querer”, continuou
Enquanto cursa o último
ano do ensino médio, Francielly desenvolve a pesquisa em parceria com um
laboratório da Universidade de São Paulo (USP), onde estão sendo testadas
diferentes fórmulas e pontos para a criação de diversos materiais a partir do
açaí (a exemplo de alvenaria, como telhas, cimento e argamassa).
"É para testar a
resistência do material. Agora temos um ano para fazer os testes e abranger um
pedido de patente", diz a jovem.
PREMIAÇÕES
No desenvolvimento do
projeto, ela ganhou uma credencial para participar da Feira Brasileira de
Ciências e Engenharia (FEBRACE) de 2018. O evento científico é voltado para
jovens e um dos mais importantes do país. Na ocasião, ela recebeu dez prêmios
pela pesquisa com o caroço do açaí.
"Antes, eu achava que
a minha participação nessas feiras não teria nenhum impacto, mas agora eu chego
nos lugares e fico emocionada quando adolescentes dizem que não desistiram da
ciência por causa da minha história", diz a paraense.
Uma das premiações foi uma
viagem aos Estados Unidos para conhecer a Universidade de Harvard e o Instituto
de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês).
"Foi sensacional, me
senti em um filme de ficção científica. Quando entrei em Harvard, vi o quanto
eles investem na tecnologia e educação. Como eu quero que o Brasil se torne
assim”, comentou a jovem.
Em 2019, ela também
participou da FEBRACE, onde ganhou mais cinco prêmios. Entre participações em
feiras e outros eventos de ciência, ela coleciona mais de 15 prêmios.
FUTURO NA CIÊNCIA
Barbosa começou a se
interessar por ciência aos oito anos de idade, quando participou pela primeira
vez de uma feira científica em sua escola e do Clube de Ciências de Moju.
"Vi tantas coisas
interessantes que me apaixonei e decidi que queria fazer aquilo", comenta
a garota.
Ela pretende cursar
engenharia, mas ainda não sabe em qual das áreas irá se especializar. "Mas
com certeza será em uma área de STEM [ciência, tecnologia, engenharia e
matemática]", conta.
Barbosa ainda afirma que a
participação dela em palestras, congressos e viagens ampliaram seu campo de
visão para o ensino superior. "Penso que posso entrar na USP ou estudar no
exterior. É tão maravilhoso. Se é possível para mim, é possível para qualquer
jovem”, conclui a paraense.
Fonte/Fotos: z fioravante, <amazôni@contece>, com informações e fotos da
revista Galileu
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