SERES FANTÁSTICOS DA AMAZÔNIA
Senhoras e senhores, com
vocês a primeira história do magnânimo, do magnético, do magnífico, do
amagzônico Magnólio!
Ele, amigo da mulher do
homem que come raio-laser, estava em Tauarí com seu fabuloso Gran Circo
Mocorongo. Antes do espetáculo, passou a manhã conversando com os moradores
para descobrir conhecimentos tradicionais e tentar fazer, com eles, um
diagnóstico comunitário da situação da vila. Perguntava: "O que você sabe
que ninguém sabe que você sabe?"
Papo vai, papo vem, descobriram
entre eles um astrólogo, um mágico que sabia fritar ovos na casca e um homem
que sabia de cabeça o alfabeto militar. Depois contaram que o espírito
comunitário estava doente desde que "um lá" (sujeito voador não
identificado) havia decidido cortar e queimar o tauarizeiro na entrada da gruta
da mãe de todos os tucunarés, submersa dentro do igarapé. Nesse momento, um
morador disse: "E se alguém fosse atrás de uma muda de taurí para
replantar o nosso pé?"
A grande missão foi
destinada para o nosso magno palhaço, que desde o momento em que chegou não
estava sozinho, totalmente cercado de carapanãs. Para não se perder na mata,
seria acompanhado pelo velho gnomo Sargento, um profundo conhecedor daqueles
caminhos e, entre os moradores, o mais recomendado para tão especial ocasião.
"O que você sabe que ninguém sabe que você sabe?"
Sargento conhecia todos os
atalhos, cheiros e o canto de cada passarinho daquela região, famosa também
pela centopéia gigante que morava por lá. Os dois foram conversando, enquanto
Magnólio procurava o tal tauarizinho. Andaram pra lá e pra cá, devagar e
rápido, cheios de esperança. Magnólio estava confiante, Sargento parecia saber
aquele caminho do avesso, fazendo peripécias como pular antigos troncos caídos
pelo caminho mesmo com a cabeça virada para o outro lado. Caminharam,
caminharam e nada. Magnólio, grande devoto de São Longuinho, não ousou pedir
essa ajuda ao santo e preferiu confiar no destino. Andaram até à noite, sem
sucesso. Sargento já fazia o caminho de volta, meio quieto diante da tristeza
do palhaço. "O que você sabe que ninguém sabe que você sabe?"
Magnólio disse: vamos
sentar aqui um pouco, merecemos.
Sargento respondeu: só se
você me ajudar.
Magnólio perguntou: claro,
mas por quê?
Sargento virou seu rosto
para o palhaço e respondeu: porque sou cego.
(Histórias reais do
amagzônico Magnólio)
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