ARTIGO: POBREZA E EDUCAÇÃO
(*) José Pio
Martins
O Brasil ainda é um país
pobre. Pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) publicado pela Organização
das Nações Unidas (ONU), o Brasil está na posição 79 entre 171 países. Dividindo
a produção nacional pela população, o produto por habitante aqui equivale a um
quinto do que é nos Estados Unidos. A explicação sobre por que um país se
desenvolve e outro se mantém no atraso e na pobreza, ainda que em condições
naturais parecidas, não é simples nem é fácil. Um desafio da ciência econômica
tem sido formular uma teoria que consiga explicar as bases e as leis do
desenvolvimento econômico.
Até a Revolução Industrial
(1750-1830), a sobrevivência humana era retirada da terra e dos recursos naturais,
e as obras do pensamento explicavam a produção de riqueza basicamente a partir
da contribuição da natureza. Até então, não havia crescimento do produto por
habitante, todo crescimento advinha do crescimento da população. Após o
surgimento do motor a vapor, do trem de ferro e das máquinas industriais, os
estudiosos começaram a examinar a contribuição dos bens de capital na produção
e na produtividade-hora do trabalho.
A segunda revolução
industrial moderna (1870-1900) nos deu o motor a combustão interna, a indústria
do petróleo e a eletricidade, fez a produtividade explodir e gerou o assombroso
crescimento econômico dos países que adotaram as novas tecnologias e o novo
modo de produção. Foi por volta da metade do século 19 que surgiu o conceito de
subdesenvolvimento, para identificar as nações que miravam o novo padrão de
consumo, não conseguiam assimilar o novo modo de produção e tinham padrão de
bem-estar aquém do alcançado pelas nações adiantadas.
Com o prosseguimento do
progresso da ciência e da tecnologia a partir dos anos 1900, o processo
produtivo começou a demandar trabalhadores mais qualificados, e foi necessário
aumentar a abrangência da educação básica e do treinamento profissional. Nos
anos 1950, foram aprofundados os estudos sobre a contribuição da educação para
o aumento da produtividade e para o crescimento econômico. Foi quando se
descobriu que o fator educação passou a contribuir mais para a produtividade do
que os recursos materiais.
De lá para cá, todos os
países que se desenvolveram e desfrutam de elevado padrão de vida investiram
pesadamente na educação básica, em primeiro lugar, e na educação profissional
superior, na sequência. Quando eu era estudante do curso de Ciências
Econômicas, ouvi discursos de professores que, embora eu fosse inexperiente, me
pareciam muito estranhos. Eles diziam que a universidade não devia educar para
o mercado, pois isso seria mercantilizar a educação, mas sim formar cidadãos
críticos e reflexivos.
Eu, que tinha o objetivo
de adquirir uma profissão e me qualificar para progredir na carreira e no
salário, certo dia confrontei um professor que demonizava o mercado,
dizendo-lhe: o mercado nada mais é do que o encontro de alguém com uma
necessidade com alguém que tem a solução; de um homem com fome com outro que
produz feijão; de uma pessoa com inflamação no corpo com outro que sabe curar.
Ora, se meu curso não me habilitar a ser bom profissional, ele não me serve
frente à minha maior carência: fugir da pobreza.
Atualmente, a superação da
pobreza depende de elevado nível de educação básica, boa formação profissional
obtida em curso superior ou técnico, além da atualização constante diante da
evolução da ciência e da tecnologia. Isso vale para o indivíduo e vale para a
nação. Apesar das dificuldades na elaboração de uma teoria completa sobre as
causas do desenvolvimento, o mundo já conhece os fatores essenciais do
progresso material e do bem-estar que dele decorre.
A educação não é o único
fator a determinar o desenvolvimento, mas é o principal. Há outros fatores,
como os naturais, os sociais, os políticos e o sistema econômico. É claro
também que a educação tem o papel de educar o indivíduo para a cidadania, que é
a maneira como nos relacionamos com a natureza, o meio ambiente, os semelhantes
e a sociedade, mas o papel inicial e essencial da educação, especialmente a
superior, é prover o estudante de uma profissão para ser bem-sucedido em mundo
complexo e de mudanças constantes.
(*) José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo
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