INDÍGENAS MUNDURUKU AFIRMAM QUE ESTUDOS DA HIDROVIA TAPAJÓS SÃO INVÁLIDOS
A
Associação Indígena Pariri, do povo Munduruku do Médio Tapajós, no Pará,
denuncia por meio de carta que o Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transporte (DNIT) vem apresentando Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e
Ambiental (EVTEA) da Hidrovia Teles Pires-Tapajós sem ter feito consulta prévia
livre e informada aos povos indígenas e comunidades tradicionais.
De
acordo com Alessandra Munduruku, houve a apresentação dos estudos nas cidades
de Cuiabá, no Mato Grosso, no dia 15 de junho e em Santarém, no Pará, no dia
26. A liderança, que só ficou sabendo das audiências públicas pelas redes
sociais, teme que o processo esteja em estágio avançando e explica que o rio
Tapajós é extensão do modo de vida do povo Munduruku.
“Como
é que nós vamos atravessar o rio? Como é que a gente vai para casa dos nossos
parentes? Porque a gente é acostumada ir de canoa, de rabeta [tipo de barco],
para as casas dos parentes. A gente não tem carro e o único transporte que a
gente tem é a canoa e é por isso que a gente vive na briga em favor do nosso
rio”.
A
hidrovia Teles Pires-Tapajós servira para atender ao escoamento de grãos do
setor do agronegócio. A associação considera os estudos apresentados inválidos,
uma vez que foi desrespeitado o direito à consulta prévia, livre e informada
que é assegurado pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho
(OIT)
Erosão
de Direitos
Na
região do médio Tapajós, além do povo indígena Munduruku, existe a Floresta
Nacional de Itaituba, o Parque Nacional da Amazônia, o Projeto de Assentamento
Agroextrativista (PAE) Montanha e Mangabal, a comunidade São Luiz do Tapajós, a
Vila Rayol, o Pimental e outras comunidades que serão impactadas pelo projeto.
Para
o historiador e membro do Movimento Xingu Vivo Para Sempre, Luiz Claudio Brito,
ainda vai demorar para que o projeto seja efetivado, contudo, já há violações
aos direitos do povos e comunidades ancestrais.
“No
caso da hidrovia Teles-Pires Tapajós não acho que ela vai sair agora, assim
como a ferrovia [Ferrogrão], mas para que isso aconteça eles primeiro precisam
destruir todos os direitos que já foram consolidados na Constituição e em
outras leis como a Convenção 169, que foi reconhecida pelo Brasil, e reduzir
mais ainda esse direito para que não se avance mais”, argumenta.
A
reportagem do Brasil de Fato procurou o DNIT, mas até o fechamento desta
matéria não houve retorno.
O
Ministério Público Federal informou por meio de nota que, até quinta-feira
(28), ainda não haviam recebido o documento contendo a denúncia, mas pontuou
que, assim que receber, “vai cobrar o atendimento ao direito à consulta prévia,
livre e informada, e a anulação de atos que violem esse direito, assim como tem
feito em relação a todos os projetos que impactam indígenas e populações
tradicionais no Pará”.
Fonte/Foto: Lilian Campelo, Brasil de Fato/Greenpeace
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