ACONTECEU: ESTUDANTES INDÍGENAS E QUILOMBOLAS MARCHARAM E FIZERAM ATO EM BRASÍLIA POR POLÍTICA DE PERMANÊNCIA NAS UNIVERSIDADES
Dando
início a uma semana de mobilização nacional, os estudantes indígenas e quilombolas
realizaram dia 19 pela manhã uma marcha em Brasília e um ato em frente ao
Palácio do Planalto, onde bloquearam as vias de trânsito. Estudantes
reivindicam a consolidação de políticas públicas de permanência no ensino
superior e cobram a garantia da Bolsa Permanência a todos os indígenas e
quilombolas que já se matricularam no primeiro semestre do ano e que vão se
matricular no segundo.
Cerca
de 300 estudantes e lideranças indígenas e quilombolas de pelo menos 18
universidades de todas as regiões do país participam da mobilização em
Brasília. Entre os indígenas, estudantes de mais de 40 povos mobilizados na
capital federal.
A
marcha partiu da Catedral de Brasília, contornou o Congresso Nacional e foi até
o Palácio do Planalto, onde os indígenas buscaram conseguir agendas com o
governo federal para tratar da questão das bolsas. Sem respostas, realizaram um
ato em frente ao Palácio e seguiram ali, com o trânsito parcialmente
paralisado, até obterem uma perspectiva de agenda.
“Viemos
com o propósito de dialogar, mas pela manhã não tinham resposta para nenhuma
das nossas perguntas”, explica a quilombola Paula de Menezes Baia, estudante de
Direito na UNESSPA. “Estamos aqui com toda a resistência pra lutar até resolver
a questão da permanência nas universidades”.
Pela
tarde, o governo comprometeu-se a marcar para amanhã (20), ainda sem horário
definido, uma reunião com estudantes e lideranças indígenas e quilombolas, da
qual participarão representantes das Secretarias de Educação Superior,
Planejamento, Políticas de Promoção da Igualdade Racial e de Articulação
Social, além de representantes da Casa Civil e da Fundação Palmares.
“Esperamos
que essa turma sente com a gente já com decisões e encaminhamentos”, afirma
Kahu Pataxó, estudante de direito e liderança indígena.
Apesar
da agenda, o movimento não abre mão de se reunir diretamente com o ministro da
Educação, Rossieli Soares. Pela tarde, os estudantes também visitaram
comissões, parlamentares e lideranças partidárias no Congresso Nacional,
buscando apoio para suas pautas.
Até
ontem, o MEC sequer havia liberado o cadastramento para as bolsas permanência
aos estudantes que ingressaram nas universidades em 2018. Os estudantes
indígenas e quilombolas que se matricularam no primeiro semestre de 2018, ainda
não contam com nenhuma assistência, o que compromete a continuidade de seus
estudos.
Em
função da mobilização dos estudantes, o MEC liberou 2500 bolsas permanência na
última sexta, por meio da Portaria 560. O número, entretanto, é insuficiente,
pois dá conta apenas dos 2.492 estudantes indígenas e quilombolas que, segundo
a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão
(Secadi), se matricularam no primeiro semestre. A perspectiva é que esse número
dobre no segundo semestre.
No
dia 29 de maio, indígenas e quilombolas cobraram do MEC, em Brasília, a
liberação imediata das bolsas. A proposta inicial do ministro, de apenas 800
bolsas, foi prontamente rechaçada pelos estudantes, que fortaleceram sua
mobilização.
“Ele
alegou que não tinha recurso para custear as demais bolsas. Começamos a fazer o
movimento, ele surtiu efeito, correu as redes sociais e o ministério ficou
sabendo. Do dia para a noite, eles liberaram 2500 bolsas para nós, indígenas e
quilombolas ingressantes no ensino superior”, explica Paula de Menezes.
A
nova portaria do MEC surgiu na sexta-feira anterior à mobilização nacional já
marcada para acontecer em Brasília. Considerando uma tentativa de
desarticulação do movimento, os estudantes decidiram manter a mobilização.
Até
quando esperar?
Há,
ainda, outro problema com a nova proposta do MEC: a inscrição para as bolsas,
que contempla apenas parte dos estudantes, se estenderá até 31 de agosto, o que
significa que só então serão fornecidas – quando outros 2500 estudantes
indígenas e quilombolas já estão contemplados.
“Além
das bolsas não serem suficientes, o prazo para elas serem liberadas é muito
extenso, os calouros só vão receber lá por setembro. E até lá vão fazer o que,
voltar para suas casas? Desistir de seus cursos? São essas as respostas que
viemos buscar do ministro da Educação”, questiona a quilombola.
Política
de permanência
Além
da questão mais imediata das bolsas, indígenas e quilombolas reivindicam também
uma política mais estruturada que garanta a sua permanência nas universidades,
levando em conta sua diversidade e suas especificidades socioculturais.
Por
isso, em documento com as pautas da mobilização, exigem que a Bolsa e uma
política de Permanência, assim como o Programa Nacional de Assistência
Estudantil, sejam transformados em lei.
“A
permanência dos estudantes indígenas e quilombolas nas universidades vai além
do programa de bolsa permanência do MEC. São muitas questões implicadas, e uma
delas é o racismo, o preconceito na sala de aula. As instituições não estão
preparadas para receber tanta diversidade cultural no espaço acadêmico”, avalia
o indígena Rodrigo Mariano, Guarani Mbya e estudante de Direito na UFSM.
“Queremos
romper com esse racismo velado que existe dentro das instituições e que são um
reflexo das políticas de Estado e de governo”, resume o indígena.
A
mobilização segue nos próximos dias em Brasília, e os indígenas afirmam que
seguirão participando de agendas e realizando atos até que suas reivindicações
sejam atendidas.
Fonte/Foto: Cimi/Tiago Miotto
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