ARTIGO DEDOMINGO: PALAVRA DE JATENE
- por Lúcio Flávio Pinto (*)
Reproduzo,
a seguir,. a mensagem que o governador Simão Jatene postou no seu Facebook,
comunicando sua decisão de não se desincompatibilizar para concorrer a uma das
duas vagas do Senado que estarão em disputa em outubro.
Alega
que, ao decidir permanecer até o final do terceiro mandato que o povo paraense
lhe conferiu, tornando-o o político mais vezes eleito governador (e o que por
mais tempo permaneceu no cargo, completando 12 anos no final de 2018, dos quais
oito anos seguidos), colocou de lado os projetos pessoais ou familiares, como
já fizera em 2006, “mesmo podendo ser candidato à reeleição”.
Não
exatamente. Em 2006, Jatene teve que recuar para não ser atropelado por Almir
Gabriel. Seu padrinho e antecessor, sem o qual, no uso da máquina pública,
seria praticamente impossível se eleger para qualquer coisa (ocupava então a
figura do poste eleitoral), se lançou ao cargo sem consultar Jatene, que só
soube da candidatura do correligionário tucano através da imprensa.
Almir
agiu dessa maneira por achar que Jatene o traíra, entendo-se secretamente com
Jader Barbalho (o que Almir viria a fazer depois, invertendo os papeis na
política paroquial destituída da espinha moral da ética e da moral). Jader usou
seu poder para ajudar Ana Júlia Carepa a se eleger pelo PT. É uma das suas
muitas dívidas para com o Pará.
Os
planos originais de Jatene para este ano previam a sua candidatura ao Senado e
da filha, a bi-secretária extraordinária, Izabela, a deputada federal. O
governador teve que mais uma vez mudar seus planos porque seu vice, Zequinha
Marinho, se recusou a renunciar junto com Jatene.
Só
lhe restou permanecer até o fim, como fez em 2006. Por um fator óbvio: o
candidato de Zequinha nunca foi seu companheiro de chapa, que o isolara e
desprezara; e sem a máquina estadual, Jatene dificilmente se elegeria senador,
para ser otimista.
O
resto é retórica tucana.
Segue-se
a comunicação do governador.
“Em
respeito e gratidão a todos os paraenses, venho até este espaço para informar
minha decisão de continuar à frente do executivo estadual, cumprindo até o
final, se assim Deus o permitir, o honroso mandato de governador do Estado que
nos foi conferido por três vezes pela maioria da nossa população.
Sempre
acreditei e defendi que os interesses coletivos devem se impor aos projetos pessoais
ou familiares, particularmente na atividade política, e já dei demonstração
disso quando, em 2006, mesmo podendo ser candidato à reeleição, me mantive no
cargo até o final do mandato. Ainda que não desconheça que tal comportamento
pode surpreender e até incomodar a quem pensa diferente, continuo acreditando
no nosso Estado, na nossa gente e em uma forma diferente de fazer política.
Àqueles
que divulgaram que eu estaria disposto, a qualquer custo ou preço, a deixar o
cargo para não ficar sem mandato e oportunizar a candidatura de membro da minha
família, espero, nessa oportunidade, contribuir para que revejam seus
conceitos, inclusive sobre política e políticos.
Ao
grande número de pessoas que nos incentivaram e defenderam a nossa
desincompatibilização, argumentando a importância de continuarmos contribuindo
na vida pública, agradeço profundamente as avaliações generosas. Mas entendo
que, diante das atuais circunstâncias, a melhor forma de contribuir com o
Estado é permanecer no cargo e lutar para que o Pará não retroceda, mesmo que
isso nos impeça de concorrer nas próximas eleições.
Aos
amigos, que da mesma forma e, às vezes, com argumentos bem mais contundentes,
sempre defenderam a importância de concorrer à novo mandato, até como mecanismo
de proteção, face a falta de princípios e limites de alguns adversários, a
minha eterna confiança de que, se quanto à justiça nada temos a temer, quanto à
essa gente só Deus e o voto popular podem proteger.
Aos
paraenses, minha permanente gratidão e compromisso com nosso Estado na certeza
de que, mais uma vez, juntos, independentemente de diferenças, continuaremos
protegendo o Pará de mãos e corações inescrupulosos, que tanto mal já fizeram
ao nosso Estado na busca de saciar sua desmedida fome de riqueza e poder.
Que
Deus nos dê sabedoria e nos ilumine nesses tempos estranhos e difíceis para o
nosso Brasil.”
(*) Lúcio Flávio Pinto
é jornalista profissional desde 1966. Percorreu as redações de algumas das
principais publicações da imprensa brasileira. Durante 18 anos foi repórter em
O Estado de S. Paulo. Em 1988 deixou a grande imprensa. Dedicou-se ao Jornal
Pessoal, newsletter quinzenal que escreve sozinho desde 1987, baseada em Belém
No
jornalismo, recebeu quatro prêmios Esso e dois Fenaj, da Federação Nacional dos
Jornalistas. Por seu trabalho em defesa da verdade e contra as injustiças
sociais, recebeu em Roma, em 1997, o prêmio Colombe d’oro per La Pace e, em
2005, o prêmio anual do CPJ (Comittee for Jornalists Protection), de Nova York.
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