DENÚNCIA/PARÁ: LÍDERES COMUNITÁRIOS ESTARIAM SENDO AMEAÇADOS DE MORTE
O
advogado Ismael Moraes, que representa a Associação dos Caboclos, Indígenas e
Quilombolas da Amazônia (Cainquiama) afirma que após as denúncias contra a
Hydro Alunorte, as lideranças comunitárias estão sendo ameaçadas de morte. Ele
também diz que as ameaças também já ocorriam antes do crime ambiental, com
vazamento na barragem da mineradora, no dia 17 de fevereiro. Antes, dia 1º do
mesmo mês, ele protocolou uma representação criminal na Promotoria de Justiça
Militar do Pará sobre o caso de Bosco Oliveira Martins Júnior, um dos diretores
da Cainquiama, que estaria na lista de ameaçados desde o ano passado.
Segundo
Ismael, em dezembro de 2017 a Polícia Militar teria invadido a casa de Maria do
Socorro da Silva, 53 anos, presidente da Cainquiama, sem mandado, à procura de
Bosco. “Temos a ideia de que iriam sequestrá-lo e matá-lo”, diz o advogado, que
pediu garantia de vida à Secretaria de Segurança Pública (Segup) no dia 1º de
fevereiro, mas recebeu resposta negativa do então secretário Jeannot Jansen.
Bosco
Júnior se sente preso na própria casa e na cidade natal. “Sinto receio de
morrer a qualquer hora. Fizemos denúncia desde ano passado contra a Hydro e
recebo ameaças de morte. A gente não acredita mais no Estado para fazer a nossa
proteção. Eu só quero ter a minha liberdade e que as autoridades tomem
providência”, comenta Bosco. Ismael Moraes informou que, nesta próxima semana,
a Cainquiama vai ajuizar ação contra a Hydro para obrigar na justiça que sejam
feitas exames de saúde em todas as pessoas para saber o resultado com urgência.
PROTESTO
E
os moradores das comunidades afetadas pelos vazamentos continuam acampados na
frente da empresa, em Barcarena. Cerca de 300 pessoas estão no local, desde a
quarta-feira, 28. A liderança comunitária de Vila Nova Ângela Vieira, 59 anos,
diz que os moradores não têm data para encerrar o acampamento. “A gente vai
ficar aqui por tempo indeterminado. Fazemos revezamento até a noite. Estamos
reivindicando nossos direitos”, garante. Ângela também diz que um carro preto
rondou sua casa, perguntando por ela, no último sábado (3).
Governo norueguês se exime de responsabilidade
O
Governo da Noruega decidiu lavar as mãos em relação ao desastre ambiental
causado pela multinacional Norsk Hydro, em Barcarena. O embaixador do Reino da
Noruega no Brasil, Nils Martin Gunneng, disse ao
DIÁRIO
que essa é uma questão “que deve ser tratada entre a Norsk Hydro e as
relevantes autoridades brasileiras”.
Na
opinião dele, o vazamento de resíduos tóxicos no meio ambiente, no dia 17 de
fevereiro, ocorreu “após as fortes chuvas em Barcarena” e as “alegações de que
a refinaria da Alunorte pode ser responsável” são questões a serem resolvidas
no Brasil pela própria empresa, que tem o governo norueguês como detentor de
34% de suas ações.
O
representante do País disse que a Norsk Hydro é uma empresa internacional
listada na bolsa de valores de Oslo. “A Norsk Hydro é uma propriedade
diversificada: 47% dos acionistas da empresa são investidores internacionais de
fora da Noruega. O Estado norueguês possui 34,3% das ações. Ele é acionista
minoritário e não está envolvido na gestão operacional da empresa”, justificou.
“A empresa é administrada pelo Conselho de Administração e Gestão Empresarial”.
RESPONSABILIDADE
Segundo
o embaixador, o Estado norueguês é acionista em várias grandes empresas “e tem
expectativas claras com relação à responsabilidade social corporativa delas,
incluindo questões ambientais”. Essas expectativas são comunicadas aos
respectivos Conselhos de Administração, disse Nils Gunneng. “O Governo
norueguês exige que as empresas norueguesas afiliadas que operam no exterior
respeitem os direitos humanos fundamentais em todas as suas atividades,
trabalhem ativamente contra a corrupção, protejam o meio ambiente, e contribuam
para o desenvolvimento sustentável”, destacou, registrando que “medidas para
prevenir e evitar quaisquer outros prejuízos à saúde e ao bem-estar da
população local e do meio ambiente são prioridade para todos os envolvidos”.
Além
do vazamento de restos tóxicos de mineração, que contaminou diversas
comunidades de Barcarena, a Hydro usou uma “tubulação clandestina de lançamento
de efluentes não tratados” em um conjunto de nascentes do rio Muripi, segundo
laudo do Instituto Evandro Chagas.
Reunião com Jatene tratou de “questões ambientais”
No
dia 31 de outubro do ano passado, o governador Simão Jatene se encontrou com o
embaixador Nils Martin no Palácio do Governo, em Belém. Segundo a Agência Pará,
a pauta da visita foram “as políticas ambientais desenvolvidas pelo Governo do
Pará e as possibilidades de novos investimentos na área da ciência e
tecnologia”
A
reportagem diz ainda que, na oportunidade, o governador falou sobre “os
desafios e esforços empreendidos no combate ao desmatamento florestal e
proteção ao meio ambiente”. Cabe lembrar que, na coletiva
realizada
no dia 23 de fevereiro, praticamente uma semana após o vazamento em Barcarena,
o governador defendeu que a culpa do acidente ambiental foi de “São Pedro”. No
dia seguinte ao vazamento, equipes da Secretaria de Estado de Meio Ambiente
negaram o crime ambiental, após fiscalizações. Simão Jatene também minimizou
quando foi questionado sobre se iria adotar alguma medida mais enérgica contra
a mineradora, chegando ao ponto de defender indiretamente a empresa: “Não se
trata de defender ou acusar, mas sim resolver o problema”.
Fonte/Foto: Dominik Giusti - Diário do Pará
e Luiza Mello, de Brasília/Maycon Nunes
Nenhum comentário:
Postar um comentário