ALERTA: MUDANÇAS CLIMÁTICAS COLOCAM O CALANGO DA AMAZÔNIA SOB RISCO DE EXTINÇÃO
Estudo do pesquisador Emerson Pontes da Silva, feito em mestrado
do Inpa, foi publicado na revista científica Journal of Thermal Biology.
O
Lagarto-da-mata ou Calango (Kentropyx calcarata), uma espécie típica da
Amazônia, tem em média 48,4% de risco de extinção até 2050 e 72,8% até 2070 em
razão das mudanças climáticas. O resultado faz parte de um estudo realizado
pelo pesquisador Emerson Pontes da Silva durante o curso de mestrado em
Ecologia, no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC), e publicado
recentemente na revista científica Journal of Thermal Biology.
De
acordo com o pesquisador, para chegar neste resultado foram realizadas
expedições de coleta para as florestas fechadas e úmidas nos estados do
Amazonas, Pará e Amapá (Amazônia) e para as florestas abertas, mais quentes e
secas, no estado do Tocantins, na transição Amazônia-Cerrado. Em cada
localidade amostral foram registradas as temperaturas ambientais e realizados
experimentos fisiológicos de laboratório com os lagartos.
O
objetivo era estimar quanto os indivíduos da espécie toleravam de calor e frio,
quanto corriam em diferentes temperaturas corporais e também qual era a
temperatura preferida individual para o funcionamento do corpo do animal. Os
resultados mostraram que a resposta fisiológica dos indivíduos às mudanças
climáticas variou muito entre a espécie. “Os que vivem em lugares mais quentes
têm maior tolerância térmica e aguentam mais calor”, apontou.
Assim,
em alguns lugares a espécie de lagarto poderá sofrer redução populacional ou
deixar de existir, enquanto em outros, ela ainda poderá persistir, mas tudo
depende principalmente da manutenção do seu hábitat. “Esta espécie de lagarto,
assim como tantas outras, precisa da floresta em pé. Com as mudanças climáticas
e o aumento das taxas de desmatamento alarmantes que seguem na Amazônia, estes
riscos de extinção estimados podem infelizmente tornarem-se extinções reais”,
disse Silva.
Para
a pesquisadora Fernanda Werneck, orientadora da pesquisa, este resultado desafia
visões da literatura de que a biologia termal das espécies varia pouco
intra-especificamente e abre portas para o entendimento de que as respostas
adaptativas ou processos de extinção local podem variar substancialmente e
geograficamente. “É interessante olhar pela perspectiva de que, eventualmente,
se tem um potencial de recolonização, ou seja, se uma população ficou mais
afetada e outra não, talvez ela possa recolonizar”, afirmou.
O
que preocupa, conforme Werneck, é a rapidez das mudanças climáticas. “O estudo
levou em consideração o aumento de 2 a 3 graus na temperatura no período de 40
a 50 anos, mas as respostas dos organismos demoram gerações. Não estamos
falando de décadas, mas de centenas de milhares de anos e até milhões de anos.
Por isso, apesar de existir a chance de ter a resposta positiva, a velocidade
com que as mudanças climáticas acontecem dificulta muito qualquer tipo de
resposta por parte da biodiversidade”, ressaltou.
Ações urgentes de preservação
Para
o pesquisador Emerson Pontes da Silva, é necessário haver urgentemente
políticas ambientais efetivas para que se assegure a preservação desta espécie
de lagarto e de toda a biodiversidade. “Nossos resultados científicos esperam
ajudar a prever as tendências da biodiversidade em relação às mudanças
climáticas e apoiar estratégias de conservação”, afirmou.
Ele
apontou algumas situações que, por não
serem evitadas, contribuem para o aumento das mudanças climáticas. “Temos
Terras Indígenas (TI) não demarcadas, que são invadidas e saqueadas; Unidades
de Conservação (UCs), que só existem no papel. Isso é muito importante e se
relaciona amplamente com a conservação da biodiversidade”, disse
A
pesquisadora Fernanda Werneck, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
(Inpa/MCTIC), disse que o principal objetivo é tentar apontar direções do que é
importante para a fauna nativa em um ambiente megadiverso que é a Amazônia.
“Pode ser que uma espécie pode ser extinta e outra não, pode ser que ela seja
extinta numa região e outra não. Mas se a gente pode evitar por que não
evita?”, questionou ela.
Fonte/Foto: Silane Souza, A Crítica - Manaus
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