DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS É DECISIVA PARA CONTER O DESMATAMENTO E REGULAR O CLIMA
Vista
aérea da TI Yanomami (em 2012), no Alto Rio Catrimani, divisa dos estados de
Roraima e Amazonas. É a maior reserva indígena do planeta com pouco mais de 10
milhões de hectares
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As
Terras Indígenas cobrem uma porção significativa da Amazônia brasileira e são
fundamentais para a reprodução física e sociocultural dos povos indígenas. Os
benefícios e serviços prestados por estas áreas ao clima e desenvolvimento
sustentável do bioma, contudo, ainda são pouco reconhecidos. Para piorar,
terminamos 2017 com a notícia triste de que o desmatamento aumentou em algumas
dessas terras. Para tentar equilibrar um pouco esse jogo, listamos neste artigo
algumas boas razões para mostrar porque aumentar a proteção das Terras
Indígenas é, também, ajudar a preservar a Amazônia.
Para
começo de conversa, as Terras Indígenas na Amazônia abrigam 173 etnias
indígenas e são fundamentais para a conservação da biodiversidade regional e
global, pois as comunidades indígenas reconhecem o valor da floresta em pé na
proteção e manejo dessas áreas. Enquanto 20% da floresta amazônica brasileira
foi desmatada nos últimos 40 anos, as Terras Indígenas na Amazônia Legal
perderam, somadas, apenas 2% de suas florestas originais.
Esta
característica lhes confere um papel fundamental na prevenção e no controle do
desmatamento, tanto pela extensão de suas áreas - com elevados índices de
conservação ambiental e com os maiores remanescentes florestais do país -
quanto pelos modos tradicionais de vida dos povos indígenas, caracterizados por
uma relação harmônica com os ecossistemas. Em várias regiões, as Terras
Indígenas fazem parte de mosaicos ou corredores de áreas protegidas ainda mais
extensos, articuladas com Unidades de Conservação e Territórios Quilombolas,
que bloqueiam o avanço do desmatamento e promovem outros modelos de ocupação e
de governança. Hoje, as Terras Indígenas e Unidades de Conservação cobrem mais
de 42% da Amazônia Brasileira.
Terras
Indígenas inibem desmatamento
Este
efeito inibidor do desmatamento relacionado à presença e o reconhecimento de
Terras Indígenas pode ser demonstrado por meio da queda nas taxas da destruição
da floresta entre 2004 e 2008. Neste período, 10 milhões de hectares da
Amazônia brasileira foram demarcados como Terras Indígenas, assim como outros
20 milhões passaram a ser protegidos no âmbito do Plano de Ação para Prevenção
e Controle do Desmatamento na Amazônia (PPCDAm). Esta ação, por si só,
influenciou a queda de 37% da taxa de desmatamento observada entre aqueles
anos.
Além
das baixas taxas de desmatamento no interior das Terras Indígenas, a destruição
da paisagem onde estes territórios estão inseridos é inibida. Em um raio de 10
km de distância observa-se 7% de área florestal desmatada, e em um raio de 25
km de distância, a proporção de área florestal desmatada é de quase 12%. Este
efeito tem papel importante na conservação da biodiversidade regional,
incluindo mamíferos raros e de grande porte, e os sistemas hidrológicos da
região.
Na
Amazônia brasileira, as comunidades indígenas protegem e manejam 27% das
florestas, que armazenam 27% dos estoques de carbono da região, representando
aproximadamente 13 bilhões de toneladas. Esta quantidade não considera o
carbono armazenado no solo, que possui, em média, um estoque entre 40 e 60
toneladas por hectare. Esta retenção do carbono pelas florestas ajuda a conter
o acúmulo de CO2 na atmosfera, visando à diminuição do efeito estufa.
Florestas
resfriam o planeta
Além
de estocar enormes quantidades de carbono, as florestas das Terras Indígenas
resfriam a superfície e interferem na circulação global - atmosférica e
oceânica -, ajudando a baixar a temperatura do planeta. As florestas constituem
extraordinários componentes vivos e interativos do clima, como uma bomba d’água
gigante: cerca de 5,2 bilhões de toneladas de água são transpiradas diariamente
pelas árvores existentes nas Terras Indígenas. Para comparação, o volume
despejado no Oceano Atlântico pelo Rio Amazonas é pouco mais de 17 bilhões de
toneladas por dia. O volume de água fornecido pelas florestas das Terras
Indígenas daria para encher diariamente quase 80 vezes todas as caixas d’água
do Brasil.
A
manutenção dessas grandes extensões protegidas será fundamental para preservar
o regime de chuvas, importante não só para a região Norte, mas que contribui de
forma significativa com as chuvas das regiões Sul e Sudeste. Por exemplo, a
substituição das florestas para o cultivo de pastagens ou culturas agrícolas
resulta em um aumento de temperatura regional de 6,4o C e 4,2°C,
respectivamente. Como consequência, ocorre uma variação no ciclo hídrico
regional, que coloca em risco o funcionamento ecológico das florestas da região
e o bem viver dos povos que nelas habitam. O alto grau de conservação das
florestas existentes nas Terras Indígenas evita o aumento da temperatura.
Estes
efeitos positivos da conservação das florestas nas Terras Indígenas revelam um
modelo promissor de governança do território. As iniciativas comunitárias
implementadas nesses territórios representam uma referência na política
socioambiental e uma via alternativa para o desenvolvimento sustentável da
Amazônia. Um exemplo é o Território Indígena do Xingu (TIX), que faz parte de
um mosaico de áreas protegidas - 21 Terras Indígenas e nove Unidades de
Conservação - contíguas, que conformam um corredor de diversidade
socioambiental de 26 milhões de hectares e bloqueiam o impacto da expansão do
desmatamento e da produção de commodities na região.
Outro
exemplo é a Bacia do Rio Negro, região onde os povos indígenas promovem e
articulam processos e múltiplas parcerias a fim de construir uma plataforma de
gestão transfronteiriça pela melhoria da qualidade de vida, valorização da
diversidade socioambiental, segurança alimentar e produção colaborativa e
intercultural de conhecimento. Trata-se de um território de diversidade
socioambiental, cuja extensão é de 71 milhões de hectares compartilhados por
quatro países: Brasil, Colômbia, Guiana e Venezuela. Aproxiamadamente 62% do
território está sob alguma forma de proteção legal: 98 territórios indígenas,
reconhecidos oficialmente, e 34 Unidades de Conservação.
Por
essas razões, entre outras, a proteção das Terras Indígenas, seja por meio de
demarcação e implementação de ações de gestão ambiental, seja por meio de ações
de monitoramento e controle, são essenciais para fortalecimento tanto da
política indigenista como para a conservação do patrimônio natural e ambiental
da Amazônia e do País.
Fonte/Foto: ISA Instituto
Socioambiental/Edson Sato
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