ARTIGO: JURUTI E ORIXIMINÁ - OUTRAS BARRAGENS
(*) Lúcio Flávio Pinto
A
americana Alcoa, maior produtora de alumínio do mundo, garante que a
contaminação de cursos d’água e lençóis freáticos provocada por rejeitos de
minério, ocorrida na Hydro, em Barcarena, é improvável de se repetir, em
Juruti, no oeste do Pará, onde a mineradora explora bauxita.
Em
nota enviada à redação do portal OEstadonet, de Santarém, a Alcoa ressaltou que
o sistema de captação e disposição de rejeitos em Juruti, no extremo oeste do
Pará, “é diferente e não apresenta qualquer semelhança no que se refere à
estrutura de engenharia e ao próprio conteúdo do rejeito de Barcarena, onde
ocorreu o vazamento de água contaminada por metais pesados”.
A
Alcoa, ao contrário da Hydro, informa que “dispõe de um plano de emergência
amplo e estruturado devidamente validado junto aos órgãos reguladores”.
A
empresa ressalta que o seu sistema “é considerado de baixo risco, de acordo com
a classificação do DNPM”, o Departamento Nacional da Produção Mineral,
vinculado ao Ministério de Minas e Energia.
“Trata-se
de uma argila bauxítica que apresenta as mesmas características físicas e
químicas encontradas normalmente no solo da região”, esclarece a nota.
A
Alcoa informa que o sistema de rejeitos de Juruti recebe inspeções e vistorias
de rotina tanto do DNPM quanto da Semas. A empresa diz que coopera com as
autoridades responsáveis, recebendo periodicamente técnicos dos dois órgãos
“para vistoria em nossas lagoas como parte do roteiro regular do processo de
renovação das licenças de operação da Unidade de Juruti”.
Acrescenta
que as informações a respeito dos laudos técnicos são de competência e estão à
disposição das autoridades reguladoras.
Já
a Mineração Rio do Norte, a maior produtora de bauxita do Brasil e das maiores
do mundo, que extrai bauxita no vale do rio Trombetas, ao norte da Alcoa, não
respondeu aos questionamentos que o portal OEstadonet lhe enviou, a propósito
de declarações de líderes quilombolas da região.
O
portal lembra que a Fundação Pró-Indio divulgou que duas das 24 barragens da
MRN, a A1 (desde 1979) e a Água Fria (desde 1996), estão a apenas 430 metros do
Quilombo de Boa Vista, às margens do rio Trombetas.
“Isso
é uma ameaça, já pensou nós lá dormindo e de repente… Precisamos estar
preparados e não estamos”, observou Aildo Viana dos Santos, coordenador da
Associação do Quilombo Boa Vista.
Mesmo
com recomendação do Ibama para reclassificá-las, ainda permanecem no DNPM como
de “baixo risco” (a mesma classificação de Mariana, em Minas Gerais) e “baixo
dano potencial associado”, portanto, sem exigência por lei de um Plano de
Emergência, inclusive com orientações a população no caso de rompimento da
estrutura.
Ainda
de acordo com a Fundação Pró-Índio, o relatório de vistoria do Ibama de maio do
ano passado recomendou que as duas barragens passassem para categoria de “alto
dano potencial associado” (considerando local de sua implantação e potenciais
prejuízos ambientais, sociais e econômicos na hipótese de rompimento).
O
instituto pediu ainda a realização de um Estudo de Ruptura Hipotética da
Barragem (Dam Break), “e finalmente, depois de décadas de operação, a
elaboração do Plano de Ação de Emergência”.
“A
mineração nunca falou disso com a gente, não veio comunicar as comunidades, nem
mesmo para as famílias que moram bem próximo da barragem”, informou Jonis
Gonçalves da Luz, coordenador da comunidade Boa Nova.
(*) Lúcio Flávio Pinto
é jornalista profissional desde 1966. Percorreu as redações de algumas das
principais publicações da imprensa brasileira. Durante 18 anos foi repórter em
O Estado de S. Paulo. Em 1988 deixou a grande imprensa. Dedicou-se ao Jornal
Pessoal, newsletter quinzenal que escreve sozinho desde 1987, baseada em Belém
No
jornalismo, recebeu quatro prêmios Esso e dois Fenaj, da Federação Nacional dos
Jornalistas. Por seu trabalho em defesa da verdade e contra as injustiças
sociais, recebeu em Roma, em 1997, o prêmio Colombe d’oro per La Pace e, em
2005, o prêmio anual do CPJ (Comittee for Jornalists Protection), de Nova York.
Tem
21 livros individuais publicados, todos sobre a Amazônia, os últimos dos quais
Amazônia Decifradada e A Questão Amazônica. É co-autor de numerosas outras
publicações coletivas, dedicadas à Amazônia e ao jornalismo. Recebeu o Prêmio
Wladimir Herzog de 2012 pelo conjunto da sua obra. Foi considerado pela ONG
Repórteres Sem Fronteiras, com sede em Paris, como um dos mais importantes
jornalistas do mundo, o único selecionado no Brasil para essa honraria.
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