OS MAIORES CALOTEIROS
- por Lúcio Flávio Pinto (*)
Os
três maiores devedores em atividade do governo federal são, em sequência, a
mineradora Vale (com quase 50 bilhões de reais), a Petrobras (R$ 23,3 bilhões)
e o Bradesco (R$ 5,5 bilhões). Tirando entes do poder público, dentre as
empresas privadas que mais devem à previdência social estão a JBS (a 2ª, com
dívida de R$ 2,7 bilhões), o Bradesco (22ª) e a Volkswagen (44ª).
O
governo federal conseguiu recuperar R$ 26 bilhões em obrigações com a
previdência entre 2010 e 2016 e litiga em juízo em cinco milhões de ações
judiciais.
Os
bilhões de reais envolvidos nessa contabilidade “estimulam mal-entendidos e
boatos mal-intencionados sobre as contas públicas. Eles proliferam muito mais
rapidamente do que as propostas realistas para equilibrá-las”, diz Marcos
Coronato. Sua reportagem, publicada pela revista Época, se baseou em dados de
abril, obtidos por um pedido do deputado Sandro Alex (do PSD do Paraná) à
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, que atua em juízo em nome do Ministério
da Fazenda.
Um
dos mal-entendidos é de que o rombo da previdência poderia ser coberto, caso o
governo federal cobrasse as organizações que devem para o INSS. “Trata-se de
uma confusão entre dívida (um estoque) e déficit (um fluxo). O valor total da
dívida com a Previdência é de cerca de R$ 424 bilhões. Se essa dívida inteira
fosse paga – uma impossibilidade –, cobriria o déficit por menos de 30 meses. A
parte dessa dívida que o governo considera factível recuperar, cerca de R$ 160
bilhões, é inferior ao déficit de um único ano – em 2017, ele deverá ficar
próximo de R$ 189 bilhões”, mostra Marcos.
Mesmo
assim, considera justo que o cidadão critique o governo federal por permitir
que parte tão grande da dívida se torne impossível de receber. “Isso ocorre
porque o mesmo ranking que lembra, às vezes, uma lista VIP parece também uma
página de obituário do capitalismo brasileiro. Estão lá nomes do passado, em
falência ou recuperação judicial, como Jornal do Brasil, Parmalat Brasil
(representada por Carital e PPL, a dívida de maior valor, R$ 27 bilhões),
Transbrasil, Teka Tecelagem, TV Manchete, Varig e Vasp”.
“A
partir do momento em que empresas começam a atrasar seus pagamentos –
frequentemente um sinal de fragilidade financeira –, é comum que o governo
demore a conseguir vitória na Justiça e um pagamento. É tempo suficiente para
que a devedora quebre e o recebimento se torne ainda mais difícil. Enquanto se
empenha na indispensável reforma da Previdência, o governo deveria também
melhorar a administração da dívida. Assim, deixaríamos de ver, entre os grandes
devedores, os extremos de organizações com muito dinheiro e organizações que
não têm mais dinheiro nenhum”.
Ainda
falta bastante para se chegar à verdade sobre o problema da previdência social
e o déficit do governo.
(*) Lúcio Flávio Pinto é jornalista profissional desde
1966. Percorreu as redações de algumas das principais publicações da imprensa
brasileira. Durante 18 anos foi repórter em O Estado de S. Paulo. Em 1988
deixou a grande imprensa. Dedicou-se ao Jornal Pessoal, newsletter quinzenal
que escreve sozinho desde 1987, baseada em Belém.
No
jornalismo, recebeu quatro prêmios Esso e dois Fenaj, da Federação Nacional dos
Jornalistas. Por seu trabalho em defesa da verdade e contra as injustiças
sociais, recebeu em Roma, em 1997, o prêmio Colombe d’oro per La Pace e, em
2005, o prêmio anual do CPJ (Comittee for Jornalists Protection), de Nova York.
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