VIOLÊNCIA NO CAMPO: LÍDER DE OCUPAÇÃO ONDE OCORREU CHACINA É ASSASSINADO NO PARÁ
Rosenildo Almeida vinha sofrendo ameaças de morte e foi morto a
tiros no mesmo dia em que fugiu de acampamento, diz ONG
Foi
assassinado, na noite dessa sexta-feira (7), um dos líderes da ocupação na
Fazenda Santa Lúcia, em Pau D'Arco (PA), local onde 10 camponeses foram mortos
durante uma operação policial no dia 24 de maio deste ano.
O
crime ocorreu em uma cidade próxima, Rio Maria, para onde o líder Rosenildo
Pereira de Almeida, de 44 anos e conhecido como "Negão”, havia ido na
noite de sexta-feira para se esconder, após reiteradas ameaças de morte.
Segundo informações preliminares da Comissão Pastoral da Terra (CPT), ele teria
sido executado com três tiros na cabeça por dois motoqueiros.
A
informação foi confirmada pela organização não governamental Justiça Global,
que presta auxílio social e jurídico ao acampamento. A assessoria da Polícia
Civil do Pará também confirmou as circunstâncias do homicídio, mas disse
desconhecer se a vítima era uma liderança da ocupação na Fazenda Santa Lúcia.“O
que nós podemos afirmar é que ele era uma liderança lá do acampamento e vinha
recebendo ameaças de morte por conta dessa função”, disse José Batista,
coordenador jurídico da CPT em Marabá, maior cidade da região.
De
acordo com a coordenadora da Justiça Global, Sandra Carvalho, o assassinato
expõe a situação de contínua ameaça à qual os integrantes da ocupação na
Fazenda Santa Lúcia encontram-se submetidos, especialmente após a Polícia
Federal ter sido autorizada, no início de junho, a investigar as mortes em Pau
D'Arco.
“Esse
processo de investigação e de apuração para desmontar uma farsa de que houve
conflito, e não chacina, está deixando as pessoas que cometeram esses crimes
preocupadas, fazendo com que continuem a ameaçar”, disse Sandra à Agência
Brasil. Ela criticou a Secretaria de Segurança Pública do Pará (SSP-PA), a quem
acusou de ignorar os pedidos de proteção às pessoas no local. A reportagem
tentou diversas vezes entrar em contato com a secretaria, por meio do telefone
fixo e dos celulares de plantão da assessoria de imprensa do órgão, mas ninguém
atendeu às ligações.
A
Justiça Global disse ter solicitado a inclusão imediata de outras três
lideranças camponesas de Pau D'Arco, cujo paradeiro no momento é desconhecido,
no Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas do Pará e também no
Programa de Proteção a Defensores de Direitos Humanos, mantido pelo governo
federal.“Neste exato momento,
estamos
tentando localizar essas três pessoas para prestem imediatamente depoimento ao
delegado da Polícia Federal que investiga a chacina”, disse Sandra.
Nesta
semana, lideranças sociais que acompanham o caso realizaram um ato na seccional
do Rio de Janeiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para pedir que as
mortes de camponeses em Pau D'Arco não fiquem impunes.
Em
nota, o Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos afirma
que o assassinato de Almeida é fruto da “omissão dos governos federal e
estadual” e critica a falta de definição do Instituo Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (Incra) sobre a área reivindicada pelo grupo. “Após a morte dos
dez trabalhadores rurais sem-terra, os camponeses voltaram a ocupar uma área
próxima à fazenda Santa Lúcia para que as mortes não tivessem sido em vão. Sua
luta pela reforma agrária, todavia, não teve nenhum suporte nem antes nem
depois do crime. Almeida, inclusive, havia deixado o local [acampamento] horas
antes [de ser assassinado] porque estava sendo ameaçado e perseguido”, denuncia
a entidade.
Fonte/Foto: com informações de Agência
Brasil/Divulgação Justiça Global
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