ARTIGO DEDOMINGO: AS RAZÕES DO MEU CANSAÇO
Segundo
pesquisas especializadas, o brasileiro se caracteriza por ser o povo mais
otimista do mundo. Um professor de MBA que tive, acostumado a lecionar para
alunos das mais variadas nacionalidades, também dizia isso. Transbordamos
otimismo.
Mas
isso está mudando, talvez nem seja mais assim. Eu por exemplo, naturalmente
otimista, já acho que o Brasil talvez se emende no século XXII, lá pela geração
do meu bisneto, que ainda está longe de nascer.
Tenho
alguns amigos que defendem a teoria (com a qual tendo a concordar) de que o
Brasil estaria passando por um processo de transformação profunda, lenta e
gradual. Finalizado, teríamos um país cujos valores se assemelhariam àqueles
presentes em regiões desenvolvidas. O problema desse argumento é o fato de ser
atemporal, baseado no ‘gerúndio’, esse maldito tempo verbal que não determina a
data para o fim de algo. Para quem tem pressa, esse discurso não serve de
alento.
Eu
sempre me interessei por política e sou um ávido leitor e observador dos fatos
do cotidiano nacional. Tomo posição pelas causas em que acredito e tenho
aversão à neutralidade. Em geral, me alinho com o ideário liberal, sou
favorável à globalização e não gosto do globalismo (há uma grande diferença
entre ambos). Estive em praticamente todas as manifestações de verde e amarelo
contra o status-quo, mesmo aquelas realizadas após o impeachment, que foram um
fracasso de público. Acredito que a mobilização virtual e nas ruas tem o poder
de transformar o Brasil para melhor. Mas confesso, estou cansado.
Cansado
do Brasil preso ao passado, incapaz de gerar novas lideranças, de punir seus
políticos bandidos, indiferente aos 60 mil assassinatos por ano, conformado com
100 milhões de pessoas sem saneamento básico, 30% de sua população incapaz de
interpretar um texto simples. Um Brasil contaminado pela praga do
patrimonialismo, onde a grande maioria acha que o estado deve lhe servir e que
estará sempre a postos para obter um privilégio aqui e acolá. Um país sem
ambição, que despreza a produtividade, conformado com a mediocridade em
qualquer ranking, regido pelo capitalismo de compadre.
Cansado
dos Odebrechts, Joesleys, Gilmares, Renans, Temers, Lulas, Sarneys, Aecios,
FHCs, Dilmas, Gleisis, Lindbergs, Bolsonaros, Marinas, Ciros, Jucás, Angorás,
Serras, Padilhas, Cabrais, Pézões, Paes, Pimenteis, Lewandoskys, Toffolis,
Marco Aurelios, Janots, Falcões, Vaccaris, Dirceus,
Alckmins,
Torquatos, Loures, doleiros, empreiteiros, baderneiros e ‘bovinos’, em geral.
Com certeza, faltou gente na lista.
Irrita-me
demais constatar que a agenda principal dos brasileiros mais ‘empoderados’ (não
gosto dessa palavra) ou populares seja encontrar soluções para melar as
investigações da Lavajato, desqualificar delatores ou fugir da cadeia. Suas
reuniões mais importantes são com os advogados que podem lhe proporcionar esses
benefícios. As transformações de que o Brasil tanto precisa, nos diversos
âmbitos, estão relegadas ao segundo plano.
Uma
década perdida está garantida. Somente em 2022-2023 retornaremos aos níveis que
registrava-se em 2012 no que diz respeito à atividade econômica. É possível, e
não é improvável, que ao longo dos próximos 18 meses estejamos pavimentando o
caminho do fracasso para mais uma geração.
As
perspectivas não são promissoras. Nosso sistema político dificulta a renovação,
os partidos tradicionais, carcomidos pela corrupção, detém o monopólio
financeiro oriundo do fundo partidário e verdadeiros latifúndios em tempo de
TV, bloqueando a ascensão de novidades. Nesse contexto, é esperado que mais do
mesmo prevaleça em 2018. Inesperado seria o surgimento de uma reforma política
que realmente transforme o sistema, uma vez que seria concebida pelas próprias
raposas que usufruem do galinheiro.
Hoje,
a impressão que eu tenho é que vivemos em um estágio de anestesia, quase
indiferentes à quantidade extraordinária de bandalheira que brota diarimente
nos noticiários. O mercado parece estar subestimando o potencial de más
notícias no horizonte, ou já assimilou a possível deterioração futura em seus
preços. Assistimos a um filme de tragédia, esperando pela cena de destruição,
para que então possamos recomeçar dos escombros. Não é de se espantar que o
otimismo esteja rareando…
Fonte/Imagem: Enviado por Blog do Victor


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