ARTIGO DEDOMINGO: O DELATOR DELATA DE NOVO



- por Lúcio Flávio Pinto (*)

O que Joesley Batista disse à Época:
Michel Temer é “o chefe da maior e mais perigosa organização criminosa” do país. O ex-ministro Geddel Vieira Lima era o seu “mensageiro”. Era ele que procurava o empresário para garantir que o silêncio das operações fosse mantido. Por isso Joesley pagou pelo silêncio na prisão de Eduardo Cunha e Lúcio Funaro, apontado como o principal operador de propina do presidente.
Integravam essa quadrilha os peemedebistas Eduardo Cunha, Eduardo Henrique Alves (ambos já presos), Geddel Vieira Lima e Moreira Franco.
“Quem não está preso está hoje no Planalto. Essa turma é muita perigosa. Não pode brigar com eles. Nunca tive coragem de brigar com eles. Esse grupo é o de mais difícil convívio que já tive na minha vida. Eeles não têm limites”.
A relação com Temer “nunca foi uma relação de amizade”. Era “institucional”. O presidente considerava-o “como um empresário que poderia financiar as campanhas dele e fazer esquemas que renderiam propina”. Os contatos começaram através de Wagner Rossi, ex-ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento nos governos Lula e Dilma. Evoluíram para uma relação era direta, com trocas de mensagens de celular e encontros privados. Já em 2010, pouco depois do primeiro contato, Temer teria pedido dinheiro para campanha. Temer não era “um cara cerimonioso com dinheiro”. Seus pedidos eram sempre ligados a favores pessoais, sem explicar a razão de fazê-los.
“Tem políticos que acreditam que, pelo simples fato do cargo que ele está ocupando, já o habilita a você ficar devendo favores a ele. Já o habilita a pedir algo a você de maneira que seja quase uma obrigação você fazer. Temer é assim”.
“O PT mandou dar um dinheiro para os senadores do PMDB. Acho que 35 milhões de reais. O Temer e o Eduardo Cunha descobriram e deu uma briga danada”.  Eles exigiram R$ 15 milhões. “Demos o dinheiro” e Temer voltou à presidência do PMDB.
Eduardo Cunha se referia a Temer como seu superior hierárquico. “Tudo que o Eduardo conseguia resolver sozinho, ele resolvia. Quando ficava difícil, levava para o Temer. Essa era a hierarquia”. Mas Lucio Funaro foi o primeiro a participar das negociações. “Funcionava assim: primeiro vinha
o Lúcio. O que ele não consegui resolver ele pedia para o Eduardo. Se o Eduardo não conseguia resolver, envolvia o Michel”.
Quando os acertos se referiam a “esquema mais estrutural”, Temer pedia para falar com Cunha.  No caso de pequenos favores pessoais ou “em disputas internas, como a de 2014”, o presidente participava diretamente.
Quando Cunha foi eleito presidente da Câmara dos Deputados, os “achaques” ficaram mais constantes. Surgiram pedidos de propina em troca de “abafamentos” de CPIs que pudessem ser prejudiciais ao empresário. Mas Josley não cedia a esses achaques.
“Eduardo sempre deixava claro que o fortalecimento dele era o fortalecimento do grupo da Câmara e do próprio Michel”.
“Virou “refém de dois presidiários”, tendo que pagar “em dinheiro vivo” a mensageiros de Cunha e Funaro, para que eles não delatassem os esquemas de corrupção que os envolviam e que também implicavam o empresário.
“O presidente estava preocupado. Quem estava incumbido de manter Eduardo e Lúcio calmos era eu”. Geddel Vieira Lima atuava em nome de Temer para garantir a manutenção desse “sistema”.
“Depois que o Eduardo foi preso, mantive a interlocução desses assuntos via Geddel. O presidente sabia de tudo. Eu informava o presidente por meio do Geddel”.
Fez mesmo o empréstimo do seu jato executivo para uma viagem particular de Temer, o que o presidente tentou negar e depois explicar.


 (*) Lúcio Flávio Pinto é jornalista profissional desde 1966. Percorreu as redações de algumas das principais publicações da imprensa brasileira. Durante 18 anos foi repórter em O Estado de S. Paulo. Em 1988 deixou a grande imprensa. Dedicou-se ao Jornal Pessoal, newsletter quinzenal que escreve sozinho desde 1987, baseada em Belém.
No jornalismo, recebeu quatro prêmios Esso e dois Fenaj, da Federação Nacional dos Jornalistas. Por seu trabalho em defesa da verdade e contra as injustiças sociais, recebeu em Roma, em 1997, o prêmio Colombe d’oro per La Pace e, em 2005, o prêmio anual do CPJ (Comittee for Jornalists Protection), de Nova York.

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