ARTIGO DEDOMINGO: PARA QUE SERVE VEREADOR?
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por Lúcio Flávio Pinto (*)
Por 18 votos a 3, a Câmara Municipal de Belém rejeitou, na
terça-feira, obrigar as empresas de transporte coletivo do município a instalar
aparelho de ar condicionado nos seus ônibus, apesar de serem concessionárias de
um serviço público e o público estar muito mal atendido.
Uma das alegações foi de que já havia lei regulamentando a
matéria. De fato, Duciomar Costa sancionou projeto de lei de 2009 do então
vereador (e fiscal da Sefa) Gervásio Morgado. Mas a iniciativa de Gervásio se
limitou aos ônibus especiais, os “fresquinhos”, cuja frota, que já era pequena,
se reduziu desde então.
Foi fácil – e até desejável – o atendimento porque a tarifa é
maior do que a dos ônibus comuns. Logo, não haveria superposição de leis, a
nova lei causando danos ao revogar a anterior.
O outro argumento contra o projeto do vereador Doutor Chiquinho,
do PSOL, é que ele iria impor um aumento de tarifa, como no caso dos
“fresquinhos”. Mas como é que os 18 vereadores que votaram contra sabem disso?
Basearam-se em estudo técnico de planilhas de custos? Puseram à prova os dados
do poderoso sindicato dos donos de ônibus?
O transporte especial não conta como referência porque esses
ônibus têm tarifa maior porque dispõem de uma capacidade muito inferior à dos
ônibus comuns, talvez pela metade. O custo do investimento e da manutenção dos
veículos refrigerados é proporcionalmente menor num veículo com maior
disponibilidade de lugares.
Talvez a taxa de retorno do investimento pudesse vir a ser
reduzida. Ainda assim, é pouco provável que a margem de lucro torne o negócio
desinteressante. Os empresários é que se acostumaram a ganhar mais, demasiadamente
mais do que lhes autorizaria o péssimo serviço que prestam à população.
Numa cidade muito úmida e quente, sujeita a mutações constantes de
sol e chuva, os ônibus teriam que dispor de refrigeração e de películas
protetoras. Sem essas comodidades, tornam um inferno a vida dos seus clientes
quando embarcados. Certamente os nobres vereadores não sabem o que é isso,
olhando o sofrido povo passar nessas banheiras lotadas, sujas e feias.
O LIBERAL
O Liberal deu a principal manchete e a maior parte do espaço da
capa, além de destaque interno, à matéria sobre o projeto.
Hipóteses: finalmente, o jornal defende uma causa pública; brigou
com os donos de ônibus; quer promover a venda de aparelhos de ar refrigerado;
se contrariou com algum vereador ou grupo deles; quer atingir o prefeito
Zenaldo Coutinho, que está mandando menos anúncios para o balcão de comércio do
jornal.
Qual dessas hipótese é verdadeira? Podem haver outras?
E o silêncio do Diário do Pará a respeito, a que se deve?
Com a palavra, o leitor.
(*) Lúcio Flávio Pinto é jornalista profissional desde
1966. Percorreu as redações de algumas das principais publicações da imprensa
brasileira. Durante 18 anos foi repórter em O Estado de S. Paulo. Em 1988
deixou a grande imprensa. Dedicou-se ao Jornal Pessoal, newsletter quinzenal
que escreve sozinho desde 1987, baseada em Belém.
No
jornalismo, recebeu quatro prêmios Esso e dois Fenaj, da Federação Nacional dos
Jornalistas. Por seu trabalho em defesa da verdade e contra as injustiças
sociais, recebeu em Roma, em 1997, o prêmio Colombe d’oro per La Pace e, em
2005, o prêmio anual do CPJ (Comittee for Jornalists Protection), de Nova York.

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