INDÍGENAS E BEIRADEIROS IMPEDEM AUDIÊNCIA SOBRE LEILÃO DA FLORESTA EM ITAITUBA (PA)
Na
tarde desta quarta (5), Munduruku, indígenas da comunidade de Pimental e
beiradeiros de Montanha e Mangabal realizaram um ato na Câmara de Vereadores de
Itaituba (PA), onde ocorreria uma audiência pública para discutir o leilão de
295 mil hectares de floresta à exploração madeireira. Pela pressão dos
indígenas e ribeirinhos, a audiência acabou sendo cancelada.
A
área na qual o Serviço Florestal Brasileiro (SFB) e o ICMBio (Instituto Chico
Mendes de Preservação da Biodiversidade) pretendem legalizar a exploração de
madeira contém sítios arqueológicos e é onde indígenas e ribeirinhos do Projeto
de Assentamento Agroextrativista (PAE) Montanha e Mangabal caçam, fazem seus
roçados e pescam de maneira tradicional.
“Foi
aberto o edital da concessão e não fomos consultados, nem os ribeirinhos e
nenhum dos povos indígenas afetados”, explica Irleuza Robertinho, liderança
indígena de Pimental.
“Eles
fazem uma reunião sem consultar ninguém, como se não existisse o protocolo de
consulta. Nós estamos aqui, estamos vivos e vamos brigar sempre pelo nosso
território, nem deixar que ninguém desmate nossa floresta para ter
empreendimento para madeireiro”, afirma Alessandra Munduruku, liderança do
Médio Tapajós.
A
audiência seria parte do processo de concessão das Florestas Nacionais (Flonas)
Itaituba 1 e 2, a primeira vizinha e a segunda integralmente sobreposta à Terra
Indígena Sawre Muybu. Sob ameaça de hidrelétricas, mineradoras e madeireiros, a
demarcação desta terra tem sido uma das principais lutas dos Munduruku nos
últimos anos.
Embora
não incida diretamente sobre os limites da terra indígena, a área que os órgãos
pretendem conceder à exploração madeireira é quase duas vezes maior do que
Sawre Muybu e pode ter graves impactos para a vida dos indígenas e comunidades
tradicionais da bacia do Tapajós, que já sofrem com a pressão, as ameaças e as
invasões constantes de madeireiros em suas terras.
“Para
nós não está sendo correto, porque depois dessas audiências eles já vão partir
para o edital para abrir a concorrência das empresas. Nosso protocolo de
consulta está sendo rasgado, não teve um diálogo aberto”, afirma Ageu Pereira,
liderança de Montanha e Mangabal.
Cerca
de 60 indígenas e beiradeiros ocuparam o pátio da Câmara de Vereadores de
Itaituba, impedindo a entrada de vereadores e agentes do SFB, até que a
audiência fosse cancelada. Apesar disso, há outra audiência programada para
amanhã (6), no município vizinho de Trairão. Os povos e comunidades
tradicionais exigem que todas as atividades relativas à concessão sejam
canceladas, pois SFB e ICMBio não respeitaram o seu direito de Consulta Livre,
Prévia e Informada, o que vem sendo cobrado pelo MPF desde 2014.
“São
terras de ocupação ancestral indígena e ribeirinha, que vocês decidiram chamar
de Flona. Fazendo isso, vocês, Ministério do Meio Ambiente, ICMBio e SFB se
assumem como parte do processo colonizador que extermina povos e pensamentos.
Estão usando de violência, desprezando nosso conhecimento e desrespeitando
nossos locais sagrados”, afirmaram os Munduruku em carta divulgada no ano
passado sobre o assunto.
Fonte/Foto: Tiago Miotto, da Assessoria de
Comunicação, e Equipe Tapajós - Cimi Norte 2/Bárbara Dias

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