CIENTISTA PARAENSE DESCREVE NOVA ESPÉCIE DE PEIXE
Pequisador da UFPA acaba de publicar artigo em revista de alcance
internacional
O
Pará ainda guarda um universo imensurável de espécies de peixes ainda não
identificadas, seja em áreas alteradas ou preservadas. Quem afirma é o
pesquisador Marcelo Andrade, do Grupo de Ecologia Aquática da Universidade
Federal do Pará (UFPA), que acaba de publicar no periódico Plos One, de
circulação internacional, a descrição da nova espécie denominada Tometes
siderocarajensis.
Esta
é a sétima espécie de Tometes conhecida da comunidade científica, sendo a
quarta descrita pelo pesquisador, que assina o artigo ao lado dos pesquisadores
Tommaso Giarrizzo, também da UFPA, Michel Jégu, do Institut de Recherche pour
le Dèveloppment e Izeni Farias e Valéria Machado, ambos da Universidade Federal
do Amazonas (UFAM).
O
Tometes siderocarajensis é um tipo de pacu encontrado na Serra dos Carajás, daí
o nome escolhido pelo pesquisador para batizar a nova espécie. Marcelo Andrade
revela também que o peixe é popularmente chamado de pacu-borracha ou curupeté e
sua carne dura e borrachuda explica a inexistência do consumo pela população
local. De tamanho médio, o peixe alcança até 40 centímetros.
Em
relação aos demais, o peixe apresenta algumas diferenças marcantes. Segundo o
pesquisador, a coloração é o que mais chamou sua atenção – o siderocarajensis é
escuro, quase negro, enquanto os demais apresentam coloração prata. Tem formato
da dentição e arranjo da arcada bem diverso dos demais, além de alteração no
número de escamas e a estrutura óssea do crânio igualmente divergente.
Marcelo
Andrade destaca que este Tometes não é muito abundante. O ambiente onde vive é
o que favorece essa baixa densidade. Foi encontrado apenas nas corredeiras de
rios em Unidades de Conservação da Serra dos Carajás, e fazer a coleta em
habitats desse tipo não é uma tarefa fácil. Por essa razão foi preciso
descrever a espécie com 31 exemplares, incluindo as coletas feitas pelo
pesquisador da UFPA e outras realizadas nas décadas de 70 e 80, durante a
construção da Hidrelétrica de Tucuruí, durante as famosas expedições do biólogo
americano Michael Goulding, espécimes coletados nas corredeiras de Tucuruí
antes da formação do lago da hidrelétrica, que suprimiu essa espécie daquela
região, segundo revelou Andrade.
Tometes siderocarajensis é a quarta espécie descrita por Marcelo Andrade
Marcelo
Andrade e os Tometes já têm uma história de quase dez anos, desde a graduação
do pesquisador até seu mestrado e doutorado no Programa de Pós-Graduação em
Ecologia Aquática e Pesca da UFPA. Esse gênero entrou na vida de Marcelo em
2009 e nunca mais saiu. No caso do Siderocarajensis, o pesquisador começou a
estudá-lo e descobriu que a maioria do material taxonômico da espécie estava
fora da região Norte.
Ele
encontrou publicações de Michel Jégu de 2002, foi atrás de mais exemplares e,
quando finalmente conseguiu as referências e as outras espécies, teve a
convicção de que se tratava de um ilustre novo pacu. Essa certeza veio em 2015,
depois de cuidadoso trabalho de análise molecular. “Existe familiaridade
morfológica entre as espécies”, disse, pontuando que a análise molecular foi
decisiva para esclarecer todas as dúvidas.
Este
é o quarto Tometes descrito por Marcelo Andrade. A primeira descrição aconteceu
em 2013, com a espécie Tometes camunani, nome dado pelos índios Wai Wai do rio
Trombetas, oeste do Pará; a segunda em 2016, Tometes kranponhah, outro nome
indígena, segundo os Xikrin no Xingu, e a terceira, Tometes ancylorhynchus, de
2016, que ocorre nas regiões dos rios Xingu e Tocantins.
Entre
as inúmeras responsabilidades que a descrição de uma nova espécie impõe, o
pesquisador ressalta que a principal é advertir que o Tometes siderocarajensis
é uma espécie sensível à perturbação antrópica, tanto que já não é encontrado
na região de Tucuruí, desde a construção da hidrelétrica. Assim, onde há uma
intervenção humana mais forte sobre seus habitats, as chances de eliminá-los
dessas áreas é gigantesca. Por isso o pequisador considera de extrema
importância a preservação de áreas como unidades de conservação para a
preservação das espécies.
Além
de ser conhecido há três décadas por pesquisadores americanos, acrescentou
Andrade, esse pacu também é um velho conhecido dos amantes de pesca esportiva,
que gostam de pescá-lo porque ele exige uma técnica diferenciada na captura e
promove uma “boa briga” no ato da pescaria.
Fonte/Foto: Redação ORM News/Reprodução TV
Cultura


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