CHEIA DO RIO NEGRO DESTE ANO PODERÁ ATINGIR MÉDIA DE 29,18 METROS, DIZ INPA
A média histórica do rio Negro é de 27,87 metros com base nos
dados que se tem desde 1903. A margem de erro para a previsão deste ano é de 30
centímetros
Cheia do rio Negro deste ano poderá atingir média de 29,18 metros,
diz Inpa
A
previsão de cheia do rio Negro para este ano, em Manaus, que normalmente atinge
o pico na segunda quinzena de junho, indica que deverá alcançar entre 28,88 e
29,48 metros (média de 29,18 metros) e poderá causar grandes impactos sociais e
econômicos para as zonas urbanas críticas e para os ribeirinhos. A informação é
do pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC),
Jochen Schongart, de acordo com o modelo matemático que desenvolveu de previsão
de cheias do rio Negro.
“Teremos
novamente uma cheia acentuada, que continua nessa tendência no aumento da
frequência e intensidade das cheias, o que se tem observado nos últimos 30
anos”, diz o pesquisador, que faz parte do grupo de pesquisa Ecologia,
Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas (Maua).
A
média histórica do rio Negro é de 27,87 metros com base nos dados que se tem
desde 1903. A margem de erro para a previsão deste ano é de 30 centímetos para
cima ou para baixo.
Para
Schongart, a previsão de cheia em 29,18 metros é alarmante, porque com isso
ocorreram seis grandes cheias com mais de 29 metros nos últimos dez anos.
“Tivemos grandes cheias em 2009, 2012, 2013, 2014 e 2015 e, este ano, também
será uma grande cheia. Isso é algo que nunca foi observado nos dados que
existem desde setembro de 1902.
Em
2015, o nível do rio atingiu 29,66 metros, em 2014 e 2013 foram registradas as
marcas de 29,33 metros e 29,50 metros, respectivamente, e em 2012, atingiu
29,97 metros, a maior cheia no registro, e em 2009, foi de 29,77 metros. Antes
disso, Manaus teve cheias acima de 29 metros somente na década 1970 (1971,
1975, 1976), e nos anos de 1953, 1922 e 1909.
O
pesquisador do Inpa explica que a variabilidade de cheias na Amazônia Central
depende muito das condições do Pacifico Equatorial. “No ano passado, tivemos a
forte influência do fenômeno El Niño (aquecimento das águas superficiais na
região central e leste do Pacífico Equatorial que resultou numa cheia não muito
forte e que ficou abaixo da cheia nos níveis máximos históricos, alcançando
27,18 metros” explica Schongart.
“O
valor previsto para este ano está exatamente a dois metros acima desse valor”,
destaca o pesquisador, acrescentando que outro fator que resulta na
intensificação do regime de cheias são oscilações multidecadais como a
Oscilação Decadal do Pacifico (ODP) que tem fases frias e quentes e que duram
20 a 30 anos. “Quase todos os anos com cheias acima de 29 metros no registro
ocorreram durantes fases frias da ODP”, destaca.
Para
Schongart, estas cheias mais pronunciadas muitas vezes são causadas pelo
fenômeno de La Niña, que ocorreu no ano passado se formando no Pacífico
Equatorial. “A La Niña é o esfriamento das águas superficiais na região
central-leste do Pacífico Equatorial que intensifica as circulações
atmosféricas trazendo mais chuvas para a Amazônia”, explica. “E essas chuvas
que caem nas cabeceiras acima das condições normais resultam numa grande
cheia”, completa.
Schongart
também comenta que o nível das águas em janeiro subiu de maneira tão rápida e
que isso nunca foi observado nos dados que se tem no Porto de Manaus nos
últimos 114 anos. “No início de janeiro, a enchente aumentou mais de 20 cm por
dia. Essas diferenças diárias altas são algo comuns para as vazantes, mas para
as enchentes é algo totalmente anormal”, ressalta.
Alerta
O
pesquisador lembra que já há casos alarmantes como, por exemplo, na região do
alto Juruá, e alerta as autoridades para que se preparem para enfrentar esta
cheia na região de Manaus e no entorno, dando suporte aos moradores nas zonas
urbanas críticas e aos ribeirinhos, que já devem começar a programar suas
atividades econômicas com a colheita das roças e a retirada do gado para áreas
de terra firme ou em cima de marombas.
“Com
relação à extração de madeira, esta será favorável porque terá fácil acesso às
florestas alagáveis. Mesmo àqueles que estão em topografia mais altas, a cheia
facilitará este tipo de atividade econômica, mas para outras atividades
(agropecuária e agricultura), a cheia poderá trazer grandes impactos”, diz
Schongart.
Fonte/Foto: Portal A Crítica
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