ARTIGO DEDOMINGO: MORO, TRÊS ANOS DE LAVA-JATO
- por Lúcio Flávio Pinto (*)
A
Operação Lava-Jato completará três anos na próxima semana. Para o seu principal
personagem, o juiz da 13ª vara federal em Curitiba, Sérgio Moro, mais do que
uma investigação criminal, ela se transformou “em um processo de amadurecimento
institucional, no qual há crimes praticados por pessoas poderosas e em que se
mudou de um regime de impunidade para outro de responsabilidade [pela prática
de atos ilícitos]”.
Em
entrevista publicada pelo jornal Valor Econômico, de São Paulo, ele diz
acreditar que “algo mudou” no Brasil depois do processo do mensalão, mas
considera difícil prever o futuro, “se isso vai passar a ser uma regra (o
regime de responsabilidade) ou se foi uma exceção”.
Moro
vê “risco de retrocesso” relativamente à herança das investigações da
força-tarefa criada para apurar desvios de verba na Petrobras, envolvendo
agentes políticos e financeiros. Esse risco é a tentativa de anistia geral a
crimes ligados a doações eleitorais, encampada pela Câmara Federal no fim do
ano passado.
A
anistia apenas ao uso do caixa dois “seria algo menos preocupante”. O que o
juiz mais teme é a anistia geral. “E ainda tem uma incógnita, porque há muitas
investigações em andamento. Teremos de ver qual será o destino delas”.
Mas
confia em que o trabalho realizado até agora se torne “difícil de ser perdido”,
graças a todas as condenações e dinheiro público recuperado. “Acho que a grande
questão é até onde vai. Para onde se pode ir”. Ter chegado onde está só foi
possível pelo “próprio crescimento institucional”.
“Normalmente
o tempo de duração de uma ação penal é de seis meses a um ano, aproximadamente.
Até o julgamento. Mas tem investigações em andamento, e a conclusão delas é
mais imprevisível”, raciocina Moro. Para ele, um fortalecimento poderá advir do
desdobramento da operação para outros Estados.
Ao
final da entrevista, Moro comentou as acusações de que houve excessos na
Lava-Jato. “Não vejo com clareza excessos. Pela dimensão dos crimes em
investigação e pelo caráter sistemático deles, não vejo algo que possa ser
descrito como excesso”.
(*) Lúcio Flávio Pinto é jornalista profissional desde
1966. Percorreu as redações de algumas das principais publicações da imprensa
brasileira. Durante 18 anos foi repórter em O Estado de S. Paulo. Em 1988
deixou a grande imprensa. Dedicou-se ao Jornal Pessoal, newsletter quinzenal
que escreve sozinho desde 1987, baseada em Belém.
No
jornalismo, recebeu quatro prêmios Esso e dois Fenaj, da Federação Nacional dos
Jornalistas. Por seu trabalho em defesa da verdade e contra as injustiças
sociais, recebeu em Roma, em 1997, o prêmio Colombe d’oro per La Pace e, em
2005, o prêmio anual do CPJ (Comittee for Jornalists Protection), de Nova York.
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