BELO SUN: JUSTIÇA SUSPENDE LICENÇA DE MINERADORA CANADENSE NO PARÁ
Juiz quer que famílias sejam realocadas da área do empreendimento.
Empresa Belo Sun recorrerá da decisão do juiz da Vara Agrária de
Altamira
O
juiz Álvaro José da Silva Sousa, da Vara Agrária de Altamira, determinou a
suspensão da licença de instalação do Projeto Volta Grande, localizado no
município de Senador José Porfírio, sudoeste do Pará. Na decisão, ele determina
que a empresa Belo Sun se abstenha de praticar qualquer atividade permitida por
meio da licença de instalação enquanto não houver a regular retirada das
famílias moradoras da área de incidência do projeto minerário, sob pena de
pagamento de multa diária de R$ 10 mil. Ele pede ainda que a empresa deverá
providenciar imediata retirada de placas que restrinjam a livre circulação das
populações rurais da Vila Ressaca, Galo, Ouro Verde, para que a população tenha
livre acesso aos recursos naturais para subsistência.
A
empresa canadense Belo Sun Mineração informou que vai recorrer da decisão da
Justiça de Altamira. Segundo a empresa, no curso do licenciamento ambiental
preparou um Programa de Realocação, Negociação e Inclusão Social, que
beneficiará as Vilas Ressaca e Galo, tendo em vista que ambas fazem parte da
área diretamente afetada do empreendimento. As famílias desses locais foram
cadastradas em duas campanhas censitárias, em 2012, durante a fase de licença
prévia, com o acompanhamento de representante da Prefeitura de Senador José
Porfírio e comissão de moradores.
A
Belo Sun diz ainda que o processo de realocação se dará com a participação e
consulta dos beneficiados. Ainda em 2017, a empresa deve atualizar o cadastro
socioeconômico e discutir o planejamento da realocação com os moradores.
Decisão
judicial
A
decisão, requerida pela Defensoria Pública, é contra a “retirada compulsória de
famílias residentes nas áreas de garimpos no município, bem como o fim das
atividades de caça, pesca e garimpagem nas áreas comuns daquelas comunidades”.
O
juiz afirma que a empresa está adquirindo irregularmente terras públicas
federais de pessoas que se diziam proprietárias e donas de garimpos e antigos
garimpos. Para a Justiça, toda a área do empreendimento da empresa Belo Sun é
formada por terras públicas federais, com posse pacífica das famílias que se
encontram no local, que totalizam 977 em cinco comunidades diferentes.
Na
decisão, o juiz Álvaro José da Silva Sousa cita que o INCRA informou em juízo
que as áreas denominadas Vila Ressaca, Ouro Verde e Vila galo estão localizadas
dentro dos limites da Gleba Ituna, que foi discriminada e arrecadada pela União
na década de 80 e por isso se trata de terra pública e de interesse de
regularização fundiária.
"A
decisão não é sobre o mérito da condição
das terras sobre as quais o empreendimento minerário obteve licença de
instalação e muito menos sobre a delimitação e demarcação da área, mas sim
sobre a duração (demora) do procedimento administrativo com relação as famílias
que lá se encontra. O órgão governamental, o INCRA ou Iterpa, ou outro que
venha a ser indicado, está inteiramente livre para encaminhar o tema. O que não
se pode é que as famílias moradoras das áreas em questão fiquem sem saber que
destino terão, por tempo indefinido e desarrazoado , ainda mais neste momento
em que a licença de instalação foi concedida”, afirma o despacho.
Para
o juiz, "embora não conste nos autos, é fato público e notório que a
licença de instalação foi concedida sem a retirada das famílias que há décadas
moram na área de abrangência do projeto e isto de certa forma pressiona as famílias a aceitarem qualquer
imposição que ao menos em tese venha a ser feita para retirada das
mesmas".
Polêmica
O
projeto da mineradora Belo Sun é polêmico. Especialistas acreditam que ele pode
causar danos irreparáveis ao meio ambiente. Segundo o governo do Pará, foram
três anos de análises para a liberação desta licença. A expectativa é que o
projeto gere 2.100 empregos diretos na fase de implantação, e 526 na fase de
operação.
Ao
longo dos 12 anos, a empresa deve pagar mais de R$ 60 milhões em royalties de
mineração para o estado - quase R$ 5 milhões por ano. O valor pago em impostos
deve ser ainda maior: cerca de R$ 130 milhões para o país, estado e município
durante o período de instalação, e depois R$ 55 milhões por ano.
Condições
para a licença
Uma
das exigências para a emissão da licença foi que a economia paraense fosse
beneficiada pelo projeto, por isso a produção de ouro no Xingu deve ser
realizada no estado. A empresa se comprometeu a instalar uma refinaria, verticalizando
a produção.
Para
a liberação da licença, a Secretaria exigiu mudanças no projeto, impedindo a
captação de água do rio Xingu e exigindo o monitoramento da qualidade do ar,
nível de ruído, vibração e gerenciamento de resíduos, além da recuperação das
áreas degradadas.
A
Semas também solicitou que a empresa elaborasse estudos para garantir a
segurança das comunidades indígenas da região, que vivem entre 12 e 16 km de
distância do garimpo. De acordo com a legislação, a distância mínima entre um
garimpo e uma aldeia deve ser de 10 km.
Fonte: G1 PA

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