ARTIGO: O LEVIATÃ E AS DIGITAIS DELATADAS
-por Franssinete Florenzano (*)
Uma
das primeiras consequências da Operação Leviatã, executada na quinta feira, 16,
pela Polícia Federal em Belém do Pará,
Brasília e Rio de Janeiro, deverá ser o impedimento do senador Edison
Lobão(PMDB-MA) de presidir a sabatina de Alexandre de Moraes, indicado para a vaga
de ministro do Supremo Tribunal Federal, marcada para a próxima terça-feira
(21) na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Deverá assumir a missão o
vice-presidente da CCJ, senador Antonio Anastasia (PSDB-MG).
Além
do enorme constrangimento ao quase futuro ministro do STF, há o perigo,
digamos, de contaminação. Afinal de contas, Lobão já está envolvido até o
pescoço no escândalo da UHE-Belo Monte. Seu filho Márcio Lobão, que preside a
Brasilcap, empresa do grupo Banco do Brasil que atua no mercado de
capitalização, já havia sido citado na delação do ex-presidente da Transpetro,
Sérgio Machado, que fulminou, na ocasião: ministro das Minas e Energia e com a
Transpetro vinculada à pasta, Lobão pai teria pedido R$ 500 mil por mês, mas
Machado disse que só podia pagar R$ 300 mil. O elo receptor era seu filho,
Márcio Lobão. Na delação, Machado afirmou ao MPF que a Petrobras "era a
madame mais honesta dos cabarés do Brasil".
Em
depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal Federal do Rio de Janeiro,
o ex-presidente da Andrade Gurtierrez Energia, Flávio David Barra, também
afirmou ter acertado o pagamento de propinas ao ex-ministro Edison Lobão, que
teria indicado o filho Márcio para receber o dinheiro. O executivo prestou
depoimento, ainda, em setembro do ano passado, na investigação judicial
eleitoral contra a chapa Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB). Ao
corregedor-geral eleitoral Herman Benjamin - também ministro do Superior
Tribunal de Justiça - e ao juiz auxiliar Bruno Cesar Lorencini, o empreiteiro
detalhou que a propina em Belo Monte era de 0,5% para o PT e 0,5% para o PMDB -
porcentual sobre o valor do contrato. Luiz Carlos Martins, funcionário da
Camargo Corrêa, fez declarações de idêntico teor.
Lobão
divulgou nota negando seu envolvimento. Já o segundo alvo da operação, o
ex-senador Luiz Otávio Campos(PMDB-PA),
mergulhou no mais profundo silêncio. Sua página nas redes sociais não é
atualizada desde 2013 e ele não foi encontrado para se manifestar.
O
silêncio mais ruidoso foi do senador Jader Barbalho (PMDB-PA). Surpreendido
pelo site O Antagonista, disse via telefone que nada tinha a comentar mas
pronunciou palavrões em meio à sua resposta. A entrevista, gravada em áudio,
viralizou nas redes sociais.
Luiz
Otávio foi secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional e da
Secretaria Especial de Portos e indicado para o cargo de diretor-geral da
Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), em substituição a Mário
Póvia, cujo mandato chegou ao fim em meados de fevereiro do ano passado, mas
sua indicação não vingou. Nomeado assessor especial do Ministério dos
Transportes, foi exonerado recentemente, conforme o post "O fator Luiz
Otávio Campos", publicado aqui com exclusividade no dia 8 de janeiro deste
ano.
Era
questão de tempo a Lava Jato chegar ao Pará, em seus desdobramentos. O
ex-ministro do STF e antigo relator, Teori Zavascki, morto em janeiro, havia
separado investigações sobre corrupção no setor elétrico, o chamado
"eletrolão", da operação original, que apura fraudes na Petrobras. O
inquérito sobre Belo Monte já estava sob relatoria de Fachin antes mesmo de ele
suceder Zavascki.
O
leilão da hidrelétrica foi vencido pela Norte Energia, formado pela Companhia
Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) - subsidiária da Eletrobras -,
Construtora Queiroz Galvão, Galvão Engenharia, entre outras empresas.
Entretanto, a Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Odebrecht acabaram
contratadas para a construção da usina. Maior projeto brasileiro no setor
elétrico, Belo Monte tem a conclusão das obras prevista para janeiro de 2019. O
investimento estimado é de R$ 28,9 bilhões.
Em
maio de 2016, o STF autorizou abertura de inquérito para investigar Edison
Lobão por desvios na construção da UHE-Belo Monte. Em junho, foi aberto inquérito,
pelo mesmo motivo, para investigar os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL),
Romero Jucá (PMDB-RR), Valdir Raupp (PMDB-RO) e Jader Barbalho (PMDB-PA). Essas
investigações serviram de base para a Operação Leviatã.
As
suspeitas sobre Calheiros, Jucá, Raupp e Barbalho surgiram nos relatos feitos
pelo senador cassado Delcídio do Amaral (sem partido-MS), em acordo de delação
premiada.
O
nome escolhido pela PF para a operação se inspira na obra do filósofo inglês
Thomas Hobbes (1588-1.679), que afirmou "homo homini lupus est" (o
homem é o lobo do próprio homem). A partir dessa teoria política, engendra-se a
necessidade da instauração do Estado, isto é, do Leviatã, à medida em que o
filósofo mostra os fundamentos e as razões pelas quais o Leviatã deve terminantemente
exercer a força, autoridade, influência, juízo, poder sobre os súditos,
considerando que, sem esse exercício de poder coercitivo pelo Estado, a
humanidade entraria em estado de guerra constante.
A
proposta de Hobbes era, sobretudo, de enfrentamento ao caos social e político
em que estava imersa a Europa de seu período e principalmente a Inglaterra.
Elaborou uma teoria política contratualista de Estado, tendo em vista
estabelecer um arrefecimento da turbulência em que seu país vivia, com o fim do
desenvolvimento de paz social, bem como organizar, estatalmente, isto é,
através do Leviatã, uma espécie de ordem social e política.
Mas
há quem faça uma leitura bem simplista do nome da operação e enxergue nela
apenas a comprovação das digitais dos Lobão - pai e filho.
(*) Franssinete Florenzano é
editora do blog uruatapera.blogspot.com.br

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