GRANDES OBRAS CONTINUAM ESTIMULANDO DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA
Aumento da devastação em zonas e municípios tradicionais de
expansão do desflorestamento expõe falha do governo na proteção à floresta
Um
mapa elaborado pelo ISA – Instituto Socioambiental com os dados oficiais mais
recentes mostra que as grandes obras e municípios campeões do desmatamento
seguem como centros irradiadores da devastação da floresta amazônica (veja
abaixo). O mapa considera apenas o chamado “arco do desmatamento”, zona
tradicional de expansão da fronteira agrícola.
O
desflorestamento continua muito alto nas áreas de influência da rodovia BR-163
(Cuiabá-Santarém), das usinas de Belo Monte (PA) e do Rio Madeira (RO). Ele
também voltou a crescer em Altamira e São Félix do Xingu (PA), Lábrea (AM) e
Porto Velho (RO) – nesta ordem, municípios com as maiores áreas desmatadas,
entre 2015 e 2016, e que também estão na lista do Ministério do Meio Ambiente
(MMA) daqueles prioritários para o combate ao desmatamento. Foram devastados
mais de 120 mil hectares de florestas no período só nesses quatro municípios –
uma área quase do tamanho da cidade de São Paulo.
A
permanência dessas regiões como zonas de expansão da destruição da floresta é
um indicador do insucesso das ações de combate aos crimes ambientais,
exatamente quando o desflorestamento volta a disparar.
No
final de novembro, foi divulgada a taxa oficial preliminar do desmatamento na
Amazônia: entre agosto de 2015 e julho de 2016, foram derrubados quase 8 mil
quilômetros quadrados de florestas, um aumento de cerca de 30% em relação aos
6,2 mil quilômetros quadrados registrados entre 2014 e 2015. Trata-se do maior
número observado desde 2009 (saiba mais). Com base nesses dados, o ISA produziu
o mapa com as regiões mais devastadas.
Ambientalistas
e pesquisadores vêm denunciando que a fragilização do Código Florestal, da
fiscalização ambiental e de Unidades de Conservação (UCs) estimulou os
desmates. O período 2015-2016 é o terceiro de alta dos índices do desmatamento
desde a mudança da legislação, em 2012. Ontem (20/12), o governo alterou os
limites de UCs na região da BR-163, cedendo às pressões de políticos,
produtores rurais e grileiros.
“O
sinal que deu o novo Código Florestal foi interpretado de maneira extremamente
rápida em campo”, diz Juan Doblas, assessor do ISA responsável pelo mapa. Ele
afirma que várias regiões sofrem uma “epidemia de desmatamento”: a impunidade
dos desmatadores ilegais
termina
por estimular mais desmatamento. “As medidas de combate ao desmatamento e
restrição das atividades econômicas nos municípios da lista do MMA não estão
funcionando. Elas precisam ser reforçadas”, defende.
Doblas
chama a atenção principalmente para São Félix do Xingu e cobra operações mais
efetivas de repressão aos desmatadores da parte dos governos federal e estadual
na região, em especial com apoio de ações de inteligência.
O
pesquisador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) Paulo
Barreto acredita que o aumento do preço do gado também “fortalece a ameaça [à
floresta], porque as pessoas ficam mais interessadas em desmatar". Para
ele, "essa ameaça pode aumentar e não ter efeitos se a floresta não está vulnerável,
se o governo está vigilante, se não muda as regras. Mas quando a ameaça aumenta
e o governo enfraquece a proteção, essa combinação leva a essa situação de
aumento".
CAMPEÕES
DO DESMATAMENTO
Pará,
Mato Grosso e Rondônia continuam, nessa ordem, como os campeões da destruição
da floresta: entre 2015 e 2016, eles registraram, respectivamente, 3 mil
quilômetros quadrados (38% do total), 1,5 mil quilômetros quadrados (19%) e 1,3
mil quilômetros quadrados (18%) de desmatamento. O Amazonas, no entanto, apresentou
a maior alta proporcional: entre 2014-2015 e 2015-2016, o desmatamento saltou
de 712 quilômetros quadrados para 1099 quilômetros quadrados, um acréscimo de
54%.
André
Tomasi, assessor do Instituto de Educação do Brasil (IEB), destaca que o sul do
Amazonas tornou-se uma das frentes de desmatamento mais dinâmicas em função do
esgotamento de parte dos remanescentes florestais em Rondônia, Acre e norte do
Mato Grosso.
“É
uma área tradicionalmente de baixa governança do Estado, que possui pouca capilaridade
e atuação no campo”, ressalta. Ele lembra que muitos pecuaristas da região
estão escoando gado por Rondônia, deixando de recolher impostos no Amazonas e
evadindo divisas.
Fonte/Imagem: ISA Instituto Socioambiental/
Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)
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