ARTIGO DEDOMINGO - JIRAU: PRESENTE!



- por Lúcio Flávio Pinto (*)

A Amazônia tem agora, oficialmente, a terceira maior hidrelétrica do Brasil: anteontem, 16, foi inaugurada Jirau, no rio Madeira a 120 quilômetros de Porto Velho, em Rondônia. Ela só é menor que Itaipu, no Paraná (mas que é binacional, com o Paraguai), e Tucuruí, no Pará, a segunda maior. Em breve, o Pará terá também a maior hidrelétrica inteiramente nacional, a de Belo Monte.
Com 50 turbinas, Jirau pode gerar 3.750 megawatts, ou 3,7% de toda energia brasileira, que seus construtores dizem ser suficiente para atender 40 milhões de pessoas. A usina, que começou a ser construída em 2009, ao custo de 19 bilhões de reais, passou a gerar energia em 2013. A 50ª e última unidade geradora começou a operar no dia 23 de novembro deste ano, consolidando a implantação do projeto, com 20 meses de atraso em relação ao cronograma original.
O presidente do conselho da Energia Sustentável do Brasil, Maurício Bähr, disse na inauguração que o principal motivo foram “os atos de vandalismo que nós tivemos aqui no canteiro de obras, em 2011, 2012, que acabaram gerando um desalojamento de funcionários. Os alojamentos foram incendiados e, com isso, perdemos 10 mil trabalhadores naquela época, Isso gerou um atraso por força maior, que acabamos compensando depois nos últimos dois anos e hoje já estamos gerando em plena capacidade”.
No pique da construção, o canteiro de obras teve quase 26 mil trabalhadores e chegou a gerar aproximadamente 60 mil empregos diretos e indiretos. Nessa época aconteceram manifestações de trabalhadores por benefícios como melhores condições de trabalhos e reajuste salarial.
Em março de 2011, a concessionária da obra foi surpreendida com um motim entre os trabalhadores em protesto contra as condições de trabalho e segurança. Quase 50 ônibus que faziam o transporte dos funcionários e 35 alojamentos foram queimados ou destruídos. Outras 30 instalações da usina foram danificadas. O inquérito instaurado pela polícia civil concluiu que houve ação de vândalos no canteiro.
As obras foram suspensas novamente em abril de 2012, depois que um grupo incendiou 39 dos 53 alojamentos em uma área. Na época, 120 homens da Força Nacional foram deslocados para Rondônia com a missão de combater a rebelião.
Em agosto desse ano, o Ministério Público Federal de Rondônia requereu, na justiça federal, o cancelamento da licença de operação de Jirau. O pedido foi negado.
Agora Rondônia, com Jirau e também a hidrelétrica de Santo Antônio, também no rio Madeira e com potência apenas um pouco inferior, abastece de energia o Acre e as regiões Sul e Sudeste. A energia vai para o restante do Brasil através da maior linha de transmissão do país, com 2,3 mil quilômetros de extensão, entre Porto Velho e Araraquara, em São Paulo.
A hidrelétrica funciona a fio d’água, o que só é possível (ao contrário das outras grandes usinas) por utilizar turbinas do tipo bulbo, que são unidades geradoras montadas na posição horizontal. Elas operam com baixas quedas de água, dispensando a formação de extensos reservatórios, necessários em usinas com turbinas que funcionam na posição vertical, dependendo de uma alta queda das águas para a movimentação das suas pesadas turbinas.
Inicialmente, o projeto previa a instalação de 44 turbinas bulbo, com potência de 3.300 megawats. Como o governo autorizou o acréscimo de mais seis máquinas, a capacidade instalada passou a ser de 3.750 megawatts, o máximo de geração durante o período chuvoso na região, quando o volume das águas do Madeira cresce. Nos períodos de menor vazão, a geração energia cai para 2.205,1 MW, que é a garantia física da usina.
Da solenidade inauguração de ontem participaram os embaixadores da Bélgica e França, que têm empresas integrantes da concessionária de energia e do financiamento da obra. Na ocasião, o ministro das Minas e Energia, Fernando Filho, anunciou o início dos estudos de uma hidrelétrica binacional, que deverá ser construída na fronteira do Brasil com a Bolívia.
Mal um capítulo conturbado é concluído, outro começa na história da transformação da Amazônia em província energética do Brasil – e do mundo.





(*) Lúcio Flávio Pinto é jornalista profissional desde 1966. Percorreu as redações de algumas das principais publicações da imprensa brasileira. Durante 18 anos foi repórter em O Estado de S. Paulo. Em 1988 deixou a grande imprensa. Dedicou-se ao Jornal Pessoal, newsletter quinzenal que escreve sozinho desde 1987, baseada em Belém

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