CULINÁRIA PARAENSE: TUCUPI, INGREDIENTE QUE VALE OURO
O
sucesso internacional da culinária paraense vem fazendo crescer a curiosidade
em torno de um ingrediente que é referência do Estado quando o assunto é
gastronomia: o tucupi. Ele deixa o pato com um sabor todo especial e serve de
base para o delicioso tacacá, mas vem sendo usado em uma infinidade de novas
iguarias, incluindo criações de chefes renomados, como o famoso Alex Atala, de
São Paulo. Com tantos usos, o tucupi acaba se tornando, cada vez mais, um item
importante para a economia de famílias inteiras, ajudando a incrementar a
cadeia produtiva da mandioca, que inclui produtos como a farinha e a goma usada
para fazer tapiocas.
Escolhas
Falar
em tucupi em Belém é como falar de Remo e Paysandu. Há torcidas e cada um
garante que o seu preferido é o melhor. Além da simpatia do vendedor e da
tradição, a escolha é feita em cima de elementos mais objetivos como nível
acidez, rendimento e tipo de tempero. O Diário foi às ruas para contar a
história de 3 famílias que fizeram do tucupi seu ganha-pão e sustento para as
novas gerações, que começam, inclusive, a administrar o delicioso negócio.
Iguaria temperada com amor e trabalho
Daniel
Sousa, 61 anos, e Aflaviana, 62, são o casal por trás do famoso “Tacacá da
Flávia”. Foi assim, com uma banca de comidas típicas na rua que eles começaram,
há 27 anos. O tacacá fez sucesso e as pessoas começaram a cobrar que o casal
entregasse também o tucupi para uso em outras iguarias.
O
negócio começou modesto, mas hoje ocupa boa parte de uma casa de dois
pavimentos no bairro da Pedreira em Belém. O tipiti foi substituído pela prensa
hidráulica do tamanho de uma sala e a produção pode chegar a 3 mil litros por
semana em épocas festivas como o Dias das Mães, Natal e, claro, o Círio, época
em que o paraense não abre mão das comidas típicas. E se tem comida paraense,
pode apostar, que terá tucupi na mesa. Falante, Daniel é uma espécie de
Relações Públicas da marca.Ele conta que o tucupi nunca pode ser engarrafado
após a extração, pois tem de fermentar. O tempero fica por conta da tímida
Aflaviana, a famosa Flávia. Foi vendendo o ingrediente que o casal viu a vida
prosperar. Eles moram em uma casa confortável, com todo o conforto de uma
família de classe média. Mas a maior riqueza para Daniel foi ver as três filhas
ingressarem no ensino superior. Daniela, 33, fez História, mas a infância entre
panelas e temperos a fizeram migrar para a Gastronomia. Está concluindo o curso
em uma faculdade particular de Belém. “É um orgulho muito grande para nós”, diz
Daniel que, entre uma foto e outra, faz carinho em Aflaviana.
Tucupi
da Flávia
Por
semana, a família vende 300 litros do tucupi concentrado por semana a R$ 12
litro. O faturamento chega a R$ 14 mil.Em época de Círio, vende mais de 3 mil
litros.Por que é bom: Ponto de fermentação e tempero da Flávia. Onde é: rua
Antônio Everdosa, 1021, bairro da Pedreira.
Tradição
passada por gerações
Uma
das pioneiras da venda do tucupi em Belém foi Francisca das Chagas. Talvez você
não esteja ligando o nome à pessoa, mas certamente já ouviu falar do “tucupi da
Yayá”. O negócio começou há quase 100 anos. Passou por vários endereços, até
ocupar uma casa na Alcindo Cacela, onde está há 37. Yayá teve 17 filhos e,
quando morreu em 1986, ao 84 anos, o negócio continuou com a família.Hoje, quem
comanda a produção e venda é o neto Aloísio Maia, 53, que brinca: “É uma
espécie de dinastia do tucupi”. Aloísio diz que não há muito segredo no
tempero. O sumo da mandioca é extraído em uma prensa hidráulica (que substituiu
o tradicional tipiti), é cozido com, sal, alho, chicória e alfavaca. O pulo do
gato, conta, está no tempo de fermentação. “Tem gente que faz o tucupi em um
dia. Nós levamos até 3.. Tem que fermentar bem”, garante. Foi com o dinheiro da
venda de tucupi que Yayá criou todos os filhos. Hoje os netos, bisnetos e
tataranetos buscam novos caminhos profissionais. A filha mais velha de Aloísio,
Rosângela, 23, por exemplo, estuda Medicina. Mas a tradição se mantém. “Em
época de Círio, quando aumenta o trabalho, todo mundo vem ajudar”, garante.A
mãe dele, Alderina Maia, 75 anos, por exemplo, também dar uma força no negócio.
Tucupi da Yayá
Por
semana, a família chega a vender cerca de 500 litros, entre o concentrado de R$
13 e o “normal” a R$ 7. O faturamento chega a R$ 18 mil mensais.Por que é bom:
tempo de fermentação maior de até três dias.Onde é: rua Alcindo Cacela, 529,
próximo à Diogo Móia, bairro do Umarizal.
A propaganda é a alma do negócio
Maria
de Nazaré Barbosa, 48 anos, acorda cedo. Às 5h da manhã, já está de pé e vai
arrumar a famosa barraca na Feira da 25, no bairro do Marco, onde a procura por
tucupi é grande. Nos dias de maior movimento, o lugar fica congestionado. Muita
gente procura o “Tucupi da Nazaré”, que já se tornou quase uma tradição do
local. Nazaré não tem produção própria. Compra do mesmo fornecedor há anos. Mas
é exigente. Passa as
coordenadas
de como quer o produto. “É meu nome, não é?”, pergunta, afirmando, contudo que
não há segredos no seu tucupi. “Acho que os clientes voltam porque é bom, mas
também porque eu dou logo os temperos (risos)”. Ela está no ponto há 20 anos.
Foi de lá que criou e encaminhou os três filhos. Orgulhosa, conta que o mais
velho, Daniel, trabalha com informática e passou em um concurso público em
Roraima. Raquel é enfermeira e Rute estuda direito. “Todos estudaram com o
dinheiro daqui”, garante a vendedora.
Tucupi da Nazaré
Por
semana, a família vende 320 litros do tucupi concentrado por semana a R$ 8 o
litro. O faturamento chega a cerca de R$ 10 mil.Em época de Círio, vende mais
de 2 mil litros.Por que é bom: Qualidade e cliente ganha temperos de brinde.
Onde é: Feira da rua 25 de Setembro, bairro do Marco.
Fonte/Foto: diarioonline.com.br/Octávio
Cardoso

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