ARTIGO DEDOMINGO: O PILOTO, CADÊ O PILOTO?
- por Lúcio Flávio Pinto
Gente
ruim, medíocre, arrogante, venal e desonesta ocupa os palácios, as residências,
os aviões, os carros e todo ativo oficial – seja federal, estadual ou
municipal. Além de usar e abusar de mordomias e nepotismo, mete a mão no
dinheiro público sem o menor pudor ou receio. Com uma audácia que faria a corte
de Luís XVI parecer republicana. Gasta como se fizessem parte da corte sideral
de um rei colocado no posto pela mão divina. E criaram um mundo de fantasia
que, como uma bolha impenetrável, os isola da realidade, do dia a dia de
trabalho e sacrifício, ou de renúncias e carências do homem comum, do cidadão
que vai à luta para sobreviver.
A
crise econômica tem solução. Os brasileiros não só acreditam nela como fazem a
sua parte cotidianamente, numa rotina que resiste à expansão do desemprego, à
queda do valor da renda, ao desaparecimento dos clientes, ao encolhimento dos
negócios, ao crédito oferecido com taxas de agiotagem, às relações de troca
desiguais, às incertezas, que causam imensa preocupação, mas não desânimo. O
brasileiro comum é um forte, exceto na hora de votar.
Pode-se
discordar e até abominar algumas das propostas que o governo, sem autonomia
(felizmente) para decidir tudo isoladamente, propôs a um parlamento corrupto,
desidioso, relapso, preguiçoso e incompetente, Ele é a pedra no meio do caminho
da recuperação da marcha batida que o Brasil precisa adotar para se recompor e
voltar a embalar num ritmo adequado às suas carências, em sintonia com suas
potencialidades. Mas é pior sem ele, fechado à base de baionetas nada caladas,
como é usual no Brasil.
O
maior problema é agora o político, o que não devia ser, já que seu motor é a
vontade o desejo, a disposição de fazer. Temer repete Dilma: demite um ministro
atrás do outro, a cada nova crise, provocada por denúncias de malfeitos. Para
Dilma eram até proveitosas as defecções: assim ela se livrava da influência
dominante e já opressiva de Lula. Mas lhe faltava o talento do antecessor para
criar sua própria base de sustentação no Congresso. Arrogante autoritária e com
o vezo de sabichona, ela cavou o buraco no qual se afundou.
Já
Temer. raposa passada na casca de alho, achou que bastava esperteza, relações
públicas e espírito de corpo para ir levando os problemas na flauta,
indiferente à urgência de atos concretas para estancar as hemorragias
financeiras do país. Esqueceu que lhe falta a condição necessária para essa
postura: a condição de chefe. O Brasil entrou no redemoinho encapelado, como na
imagem de Guimarães Rosa sobre o sertão. Endemoniado, pois.
(*) Lúcio Flávio Pinto
é jornalista profissional desde 1966. Percorreu as redações de algumas das
principais publicações da imprensa brasileira. Durante 18 anos foi repórter em
O Estado de S. Paulo. Em 1988 deixou a grande imprensa. Dedicou-se ao Jornal
Pessoal, newsletter quinzenal que escreve sozinho desde 1987, baseada em Belém.
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