‘LAUDATO SI’: 'CARTA’ PAPAL ALERTA PARA A PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE
Evento contou com a participação de dioceses e prelazias de todo o Estado, além de representações de povos indígenas, ribeirinhos, associações, organizações civis, movimentos sociais, entre outros |
Redução dos impactos climáticos e cuidados quanto ao uso da terra
estão entre as recomendações da encíclica papal
Vista
como um grande recurso no desafio de cuidar do planeta, a encíclica ‘Laudato
Si’ do Papa Francisco, carta que trata da defesa do meio ambiente e o cuidado
com a Casa Comum, foi apresentada pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam)
durante seminário realizado no final de semana em Manaus. No evento, foram
enfatizados os desafios, as iniciativas, os avanços, as formas de organizações
existentes e o mapeamento das articulações para preservar a Amazônia.
O
assessor da Repam, Daniel Seidel, explicou que, ao todo, serão feitos 14
seminários nos Estados da Amazônia Legal com o objetivo de refletir sobre o
documento do pontífice que chama atenção especial para duas regiões geográfica
do mundo: a Amazônia e a bacia do rio Congo (África). “O evento busca discutir
a realidade de cada localidade e tenta renovar a presença de respostas
concretas da igreja nessa perspectiva. Aqui usamos o método ver, julgar e
agir”, disse.
Conforme
ele, o seminário em Manaus foi o terceiro da série. O primeiro foi realizado em
Cuiabá (MT), onde a questão do agronegócio e a utilização de agrotóxico nas
plantações ficaram mais evidentes na degradação da floresta, o segundo,
aconteceu em Porto Velho (RO), onde as hidrelétricas preocupam, pois impactaram
diretamente na vida dos ribeirinhos e no meio ambiente. Na capital amazonense,
o contexto vivido pelos indígenas foi um dos problemas mais preocupante.
“É
preciso repensar o nosso modo de viver. O papa diz que: continuar com esse
modelo de desenvolvimento e progresso pode ser muito bom para outras regiões do
país, mas não para a Amazônia. Na maioria das vezes ele traz destruição da vida
e contaminação do solo”, disse Seidel. “Precisamos agir e denunciar todo tipo
de degradação ambiental que está ocorrendo na nossa região e combater os crimes
que destroem a natureza”, completou o bispo dom Mário Antônio.
Dom
Mário, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – Regional Norte
I (Amazonas e Roraima), lembrou que a grande temática da encíclica ‘Laudato SI’
nos leva a refletir sobre a ecologia integral, ou seja, não apenas cuidar de
flora e fauna, que é muito importante, mas também da relação do ser humano com
o seu meio ambiente. “É um olhar amplo e ao mesmo tempo localizado sobre nossos
desafios e necessidades juntamente com as pessoas que vivem na nossa região”,
frisou.
Evento
O
seminário “Rede Eclesial Pan-Amazônica e a Encíclica Laudato Si” foi realizado
nos últimos dias 29, 30 e 31, no Centro de Treinamento Maromba, bairro Chapada,
Zona Centro-Sul. Estiveram presente no evento dioceses e prelazias de todo o
Estado, além de representações de povos indígenas, ribeirinhos, associações,
organizações civis, movimentos sociais, entre outros.
Conforme
dom Mário, o seminário tem muitos objetivos, um deles é verificar a realidade
local, colher ideias e sugestões sobre o que queremos para a nossa região e
assumirmos o compromisso naquilo que é tocante ao cuidado de todo nosso
planeta, onde estamos vivendo. "Um cuidado que o papa Francisco nos alerta
que não seja só para gerações futuras, mas seja para o hoje. Somos nós os
responsáveis e podemos transformar para melhor ou mudar para pior. A decisão é
nossa e esse seminário vem nos encorajar nessa luta comum de preservar o que é
de todos".
Carta circular
‘Laudato
si’ (Louvado sejas) é uma encíclica do Papa Francisco, na qual o pontífice
critica o consumismo e desenvolvimento irresponsável e faz um apelo à mudança e
à unificação global das ações para combater a degradação ambiental e as
alterações climáticas. A encíclica foi publicada oficialmente em 18 de junho de
2015, mediante grande interesse das comunidades religiosas, ambientais e
científicas internacionais, dos líderes empresariais e dos meios de comunicação
social. Este documento é a segunda encíclica publicada pelo papa Francisco,
após a publicação de Lumen fidei em 2013.
“Às
vezes a gente se sente dono da natureza e não percebe que somos parte dela. Ser
dono, nessa perspectiva que o papa coloca para nós, é cuidar, guardar e
cultivar, não destruir e explorar até o limite da possibilidade”. Daniel Seidel
- assessor da Repam (Winnetou Almeida)
“Todo
mundo quer mudança, mas poucas pessoas querem mudar. Então, o primeiro desafio
é tomar consciência e decidir mudar para uma vida mais simples, honesta,
comprometida, de maior comunhão, com menos consumismo, exploração, corrupção,
enfim e com mais amor social, humano e cristão”. Dom Mário, presidente da CNBB
Norte I (Winnetou Almeida)
‘Indígenas tem muito a contribuir’
“Na
encíclica ‘Laudato SI’, o papa Francisco coloca que os povos indígenas não são
apenas um povo a mais, mas são quem tem muito a contribuir com o planeta por
causa da forma cuidadosa com que cuida da terra mãe. Diferente do modelo
capitalista atual que tem derrubado todas as nossas conquistas. Estamos vivendo
ameaça terrível”, relata a integrante do Conselho Indigenista Missionário
(Cimi), na tríplice fronteira, Arizete Miranda Dinelly.
A
missionária Raimunda Paixão Braga, da equipe itinerante do Cimi, destacou que
os indígenas estão sendo vítimas de situações muito sérias. “Em Mato Grosso do
Sul, os kaiowá estão sendo exterminados por fazendeiros. No Amazonas, o
município onde se dizia que não tinha índios, Coari, tem vários deles, mas não
se identificam como indígenas por medo. Na região da tríplice fronteira
(Brasil, Peru e Colômbia), a situação é pior ainda, especialmente na questão de
obter documentação”, afirmou.
Integrante
da equipe de apoio a índios isolados do Cimi, Fernando Lopez, revelou que a
Pan-Amazônia concentra o maior número de grupos humanos isolados do mundo. “São
em torno de 165 grupos isolados em todo o mundo, sendo que mais de 150 estão na
Pan-Amazônia, e um dado sumamente importante é que na Amazônia brasileira há
mais de 100 desses grupos. Isso significa que o Brasil é o país do mundo com o
maior número de grupos humanos que não mantém contato”.
Conforme
ele, esses grupos se mantém isolados porque a experiência que os indígenas
tiveram com os brancos foi extremamente dolorosa. “Hoje esses grupos estão ameaçados
devido a grandes empresas de mineração, madeireiras e hidrelétricas que
penetram em seus territórios deixando-os sem alternativas. O nosso trabalho não
é fazer com que entram em contato conosco é verificar quem eles são para
obrigar os governos da Pan-Amazônia a demarcar o território deles e protegê-lo
para que não seja invadido e deixar que façam contato quando quiserem”.
Lopez
diz que se fala muito que, talvez, os únicos povos livres do mundo que não
depende do sistema capitalista são os grupos isolados, mas eles são o fruto da
violência histórica com esses povos. "A violência ao longo desses 500
anos. Alguns povos foram exterminados, outros fizeram contato e outros
decidiram se meter nas cabeceiras dos rios fugindo de nós porque a experiência
que tivemos foi tremendamente dolorosa", salientou.
Fonte/Foto: Silane Souza – A Critica Manaus/Winnetou
Almeida
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