A SAÚDE MENTAL



- por Lúcio Flávio Pinto (*)

Edilson Machado, 49 anos, auxiliar técnico, não dorme há vários dias. Ele sofre da síndrome de ansiedade. Precisa tomar seu remédio, a Amidipritilina, todos os dias. Por ser medicamento tarja preta, só pode ser vendido nas farmácias com receita médica. Desde junho, quando venceu a última receita, Edilson tenta sem sucesso conseguir o medicamento, conforme relatou ao Diário do Pará.
Desempregado, não tem dinheiro para comprar a caixa do remédio, com 10 comprimidos. Consegue a receita na Unidade de Saúde do Guamá, mas desde maio a Amidipritilina está em falta. Ele dividiu alguns comprimidos com amigos que têm a mesma síndrome, mas nem dessa alternativa ele agora tem acesso. Insone, está cada vez mais nervoso.
Como ele, milhares de pessoas na mesma situação, que se multiplica com as dificuldades de ter emprego e uma vida decente em época de crise. É uma crueldade que não aparece nas estatísticas e, por ser silenciosa, não atrai a sensibilidade, o interesse e a participação da sociedade. Mas para as pessoas que padecem desses males, da ansiedade à depressão, do TOC à síndrome maníaco-depressiva, é um golpe profundo, em numerosos casos, fatal.
O Ministério Público bem que podia fazer uma blitz nos postos de atendimento de saúde da administração pública para obrigar à formação de estoques suficientes de medicamentos necessários ao tratamento sistemático de doenças mentais, livrando seres humanos de um sofrimento atroz. É iniciativa simples, mas de enorme efeito social.



- (*) Lúcio Flávio Pinto é jornalista profissional desde 1966. Percorreu as redações de algumas das principais publicações da imprensa brasileira. Durante 18 anos foi repórter em O Estado de S. Paulo. Em 1988 deixou a grande imprensa. Dedicou-se ao Jornal Pessoal, newsletter quinzenal que escreve sozinho desde 1987, baseada em Belém.

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