ENERGIA NUCLEAR NO PARÁ



- por Lúcio Flávio Pinto *



Nélio Palheta deu continuidade ao trabalho pioneiro de Ribamar Castro, reconstituindo a história recente do Pará através dos atos publicados pelo Diário Oficial do Estado, a partir de um precioso acervo de 125 anos, com continuidade exemplar.

Enquanto Ribamar se ateve aos documentos oficiais, Nélio, que o sucedeu após sua morte recente, procura contextualizar os fatos. No momento, aborda o primeiro mandato de Alacid Nunes entre 1966 e 1971.

A última resenha é dedicada à surpreendente atenção que os deputados estaduais paraenses deram à política nuclear do regime militar, iniciada pelo segundo marechal-presidente, Arthur da Costa e Silva, que mereceu manifestações dos parlamentares.

Nélio cita um pronunciamento do deputado Gerson Peres, da Arena (o partido do regime), que, pisando em ovos, queria elogiar a diretriz governamental sem se expor a alguma crítica, sobretudo quanto ao uso militar da energia atômica:

“Não vamos chamar de bomba, vamos chamar de artefatos que possam explodir”, disse o então – e até recentemente – eterno dirigente do Senai em Belém, a par da longeva carreira política. A definição podia se estender às bombinhas de São João, muito menos agressivas, é claro, porém mais impertinentes durante o junho que, felizmente, mais uma vez passou.

Se ampliasse ainda mais o contexto da sua análise, Nélio Palheta podia acrescentar uma explicação a esse interesse: a Celpa chegou a examinar a construção de uma termelétrica nuclear para suprir as necessidades de energia de Belém, ainda terrivelmente carente desse insumo vital.

O projeto da usina chegou a ser elaborado, mas não avançou em função de outros interesses e de condicionantes, como a natureza do solo e subsolo da região metropolitana.

É uma lama plástica que talvez não oferecesse a estabilidade necessária a uma usina nuclear, se não com custo elevado (e inviável economicamente) para garantir as devidas fundações, evitando episódio como na usina de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.

Mas que não parece ter estimulado uma reflexão mais atinente à multiplicação de grandes prédios (de mais de 30 andares) em Belém. Como deve estar a acomodação das camadas que não são visíveis à superfície?

Com a resposta, os especialistas.





 - * Lúcio Flávio Pinto é jornalista profissional desde 1966. Percorreu as redações de algumas das principais publicações da imprensa brasileira. Durante 18 anos foi repórter em O Estado de S. Paulo. Em 1988 deixou a grande imprensa. Dedicou-se ao Jornal Pessoal, newsletter quinzenal que escreve sozinho desde 1987, baseada em Belém
No jornalismo, recebeu quatro prêmios Esso e dois Fenaj, da Federação Nacional dos Jornalistas. Por seu trabalho em defesa da verdade e contra as injustiças sociais, recebeu em Roma, em 1997, o prêmio Colombe d’oro per La Pace e, em 2005, o prêmio anual do CPJ (Comittee for Jornalists Protection), de Nova York.

Tem 21 livros individuais publicados, todos sobre a Amazônia, os últimos dos quais Amazônia Decifradada e A Questão Amazônica.

Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.