AOS ÍNDIOS, COM ATRASO
- por Lúcio Flávio Pinto
Reproduzo, a seguir, a
nota que o Ministério Público Federal no Pará acaba de distribuir. Ela atesta a
importância do ato da presidência da república, publicado hoje no Diário
Oficial da União, conforme registro deste blog. E, ao mesmo tempo, revela a circunstância
dessa deliberação, que a presidente Dilma Rousseff podia ter adotado no início
do seu primeiro mandato e só o pratica agora, por achar que a iniciativa pode
favorecer a sua busca de apoio para impedir o seu impeachment.
Pelo menos, desta vez, algo
para comemorar e não, como de regra, lamentar.
O governo brasileiro
encerrou hoje uma espera de 30 anos com a publicação, no Diário Oficial da
União, da homologação da Terra Indígena Cachoeira Seca, dos índios Arara, no
médio curso do rio Xingu, entre os municípios paraenses de Altamira, Placas e
Uruará. O decreto era uma das principais condicionantes de Belo Monte, mas só
veio 6 anos depois de iniciadas as obras da usina. As consequências dessa
demora são sentidas duramente: a Cachoeira Seca é considerada a terra indígena
mais invadida por madeireiros e com maior índice de desmatamento ilegal do
país.
“O ato de homologação
desse território, além de dívida histórica do Estado brasileiro para com os
indígenas Arara, representa o único caminho para a sobrevivência desse grupo
face às transformações brutais que Belo Monte acarretou. Sem a homologação e
desintrusão da Terra Indígena Cachoeira Seca, a inviabilidade da hidrelétrica
forçosamente teria de ser reconhecida”, afirma a procuradora Thais Santi, que acompanha
a situação dos índios afetados pela usina.
Para o Ministério Público
Federal, que já havia exigido a homologação por vias administrativas e
judiciais, a publicação do decreto apenas começa a resolver o passivo
socioambiental de Belo Monte. O próximo passo, necessariamente, é a desintrusão
da área, termo técnico para retirada dos não-índios. Os ocupantes de boa fé,
colonos e posseiros, devem ser reassentados pelo governo, enquanto os de má-fé,
madeireiros e grileiros, devem ser retirados por força policial.
A
desintrusão também é condicionante de Belo Monte nunca cumprida e, para o MPF,
a usina não pode ser considerada viável enquanto não houver usufruto exclusivo
dos Arara sobre o território. Recentemente o MPF havia denunciado a situação da
Cachoeira Seca à relatora da Organização das Nações Unidas para os direitos dos
povos indígenas, Victoria Taulipa-Ruiz, que visitou a região atingida por Belo
Monte.
Lúcio Flávio
Pinto é jornalista profissional desde 1966. Percorreu as
redações de algumas das principais publicações da imprensa brasileira. Durante
18 anos foi repórter em O Estado de S. Paulo. Em 1988 deixou a grande imprensa.
Dedicou-se ao Jornal Pessoal, newsletter quinzenal que escreve sozinho desde
1987, baseada em Belém
No jornalismo, recebeu quatro prêmios Esso e dois
Fenaj, da Federação Nacional dos Jornalistas. Por seu trabalho em defesa da
verdade e contra as injustiças sociais, recebeu em Roma, em 1997, o prêmio
Colombe d’oro per La Pace e, em 2005, o prêmio anual do CPJ (Comittee for
Jornalists Protection), de Nova York.
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