O PARÁ QUE O PARÁ DESCONHECE



- por Lúcio Flávio Pinto (*)

Quarta maior hidrelétrica do mundo e a maior integralmente brasileira, a hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará, deverá começar a funcionar neste mês. Mas só no último dia 27 é que Luciana Costa, analista de projetos da Superintendência de Assuntos Indígenas da Norte Energia, concessionária da usina, esteve pela primeira vez no canteiro de obras.
Admitiu que “há tempos sonhava em conhecer” a hidrelétrica, declarando-se “encantada com o tamanho e a complexidade do empreendimento”. Considerou-o “uma obra de engenharia espetacular. Não tem como não ficar seduzida”.
Apesar de já trabalhar há sete meses na Norte Energia, Luciana ainda não tinha visto de perto as obras do empreendimento. “Uma coisa é você ler ou ver fotos e vídeos sobre o projeto. Outra coisa é acompanhar isso de perto, ao vivo. É encantador”, afirmou.
Ela participou de uma excursão de quase cinco horas “destinada exclusivamente aos colaboradores da Norte Energia”, segundo press release distribuído pela empresa.
A funcionária, encarregada de lidar com um dos maiores e mais conflituosos problemas da construção da hidrelétrica, cujo orçamento já está em 32 bilhões de reais, “aproveitou para tirar dúvidas com os monitores do projeto e registrar todos os momentos do passeio”. diz a nota da concessionária.
“Ter a oportunidade de acompanhar a construção dessa obra é um privilégio. Por isso faço questão de fazer foto de tudo. Quero falar para os meus filhos e netos que eu também ajudei a construir essa história”, comemorou a “colaboradora”.
Os paraenses não tiveram o mesmo privilégio. Quantos realmente conheceram pessoalmente a fabulosa hidrelétrica? Quantos, antes dela, conheceram outros grandes projetos implantados no Pará, como o do Jari, do Trombetas, de Carajás, do polo de alumina/alumínio, de cobre, níquel, Juruti e outros tantos?
O Pará já não conhece o Pará. Se é que alguma vez o conheceu de fato.


(*) Lúcio Flávio Pinto: Jornalista profissional desde 1966. Percorreu as redações de algumas das principais publicações da imprensa brasileira. Durante 18 anos foi repórter em O Estado de S. Paulo. Em 1988 deixou a grande imprensa. Dedicou-se ao Jornal Pessoal, newsletter quinzenal que escreve sozinho desde 1987, baseada em Belém
No jornalismo, recebeu quatro prêmios Esso e dois Fenaj, da Federação Nacional dos Jornalistas. Por seu trabalho em defesa da verdade e contra as injustiças sociais, recebeu em Roma, em 1997, o prêmio Colombe d’oro per La Pace e, em 2005, o prêmio anual do CPJ (Comittee for Jornalists Protection), de Nova York.

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